Marcos Ferrari: 5G pode acelerar surgimento de inovações em Fortaleza
Em entrevista ao Diálogo Econômico, presidente-executivo da Conexis Brasil Digital, Marcos Ferrari, atualiza sobre processo de implantação da tecnologia no Brasil e benefícios para a Capital
A expectativa para a chegada da tecnologia do 5G nas capitais brasileiras é grande. Com implantação escalonada, o processo deve começar a partir de julho deste ano. O leilão, que aconteceu em novembro de 2021, concedeu quatro faixas de frequência — 700 MHz; 2,3 GHz; 3,5 GHz; e 26 GHz — a operadoras de telefonia fixa.
Para além de uma melhor conexão móvel, o 5G será uma importante plataforma para a consolidação da internet das coisas (IoT), um conceito referente à conexão de diversos objetos pela rede, a exemplo de smartphones com smartwatches.
Entrevistado desta semana no Diálogo Econômico, Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis Brasil Digital, aponta que os aparelhos compatíveis de fortalezenses com a tecnologia vão poder ter acesso ao 5G já em julho deste ano. A Capital cearense desponta frente a outras nordestinas para o processo de implantação.
Além disso, o presidente afirma que a tecnologia deve impulsionar negócios locais e atrair investimentos, especialmente os que dizem respeito à inovação e conhecimento.
“Fortaleza, o Ceará como um todo, é um celeiro de grandes boas ideias inovadoras, e o 5G pode acelerar o surgimento dessas inovações. Acho que Fortaleza tem essa característica de ser uma capital voltada para o conhecimento, hoje é uma referência na educação e na inovação, então o 5G vem pra favorecer ainda mais isso”.
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Confira a entrevista completa:
Estamos a três meses do início do processo de ligação da tecnologia 5G, como está o processo de implantação?
A gente está num trabalho intenso para abrir o calendário, tem duas questões físicas necessárias para gente ligar o 5G em qualquer capital. A primeira delas é a limpeza da faixa para que não haja interferência, esse processo está caminhando bem. Em relação a outro quesito que é conseguir botar as antenas, nós estamos em contato com as capitais para saber como está a situação da legislação, em algumas, a lei precisa ser modernizada para que não haja nenhum empecilho.
O que estamos assistindo é que a maioria das capitais está correndo para atualizar suas leis, mas Fortaleza já está mais a frente desse caminho. As leis atuais que regulam a infraestrutura das telecomunicações nos municípios são antigas, do final dos anos 1990 e início dos anos 2000, enquanto a tecnologia 5G é uma tecnologia totalmente diferente.
Em Fortaleza, foi sancionada em 2017 a Lei Complementar nº 230 que se adequou a Lei Geral de Antenas. Ela é suficiente?
Nós estamos fazendo um acompanhamento interno de como está a situação de cada capital. Fortaleza, por exemplo, está com nota 10 nesse processo e já tá com tudo ‘ok’ com relação à legislação, além disso, está entre as capitais que teremos, com certeza, um ambiente favorável para chegada do 5G em julho. Fortaleza é a única do Nordeste que já está apta por essa legislação e deve ser a primeira a receber, desponta frente às outras capitais nordestinas.
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Há algum outro ponto que ainda precisa ser feito na Capital cearense?
Não, em Fortaleza não, eu diria que é umas principais capitais que vão receber o 5G de imediato. Porto Alegre (RS) é a primeira, porque toda a avaliação de leis de lá é automatizada, não há intervenção humana, então esse processo acaba sendo mais rápido.
Quanto tempo depois que a implantação do 5G acontecer a população vai ter acesso à tecnologia?
Assim que as antenas forem ligadas já vai ser possível ter acesso ao 5G, mas é preciso ter um aparelho compatível com a tecnologia.
Um detalhe importante é que o 5G não é igual ao 4G, a gente fala de conectividade só do celular, mas o celular é só uma aplicação, existem infinitas aplicações que vão chegar para população por intermédio de outros setores, por exemplo, dispositivos conectados dentro de casa, isso depende de a indústria eletroeletrônicas produzir equipamentos novos já com perfil de internet das coisas (IoT).
Nós temos a obrigação de colocar uma antena de 5G para cada 100 mil habitantes, cada operadora tem sua obrigação estabelecida no edital, então, esse momento inicial a gente vai ter as pessoas que circundam aquela antena com acesso ao 5G puro.
Essa obrigação vai mudando até 2025, quando a obrigação será de uma antena para cada 10 mil habitantes, a obrigação é aumentar o atravessamento de antenas com o passar dos anos. É importante que saibamos que Fortaleza, com essa lei que já é favorável, esse processo pode ser mais célere.
A nossa obrigação é a que falei, mas se houver demanda, as obrigações podem ser antecipadas, porque o mercado é muito competitivo e, a depender disso, as metas podem ser antecipadas. No caso do 4G, por exemplo, as metas foram antecipadas em aproximadamente dois anos.
Inicialmente, a obrigação do 4G era ligar em apenas 1.170 cidades, mas a demanda foi aumentando, porque foi foram surgindo aplicações como o Uber, o iFood, o Airbnb, a demanda foi justificando os investimentos e o mercado se movimentando, isso fez com que as metas fossem antecipadas e hoje estamos praticamente com todos os municípios com 4G.
Você mencionou que o 5G vai possibilitar infinitas aplicações e sabe-se que será a base para da internet das coisas, mas o que pode mudar com o 5G na prática para a população?
Um mundo de coisas, são equipamentos de casa conectados que permitem ter uma melhor eficiência energética, por exemplo, uma máquina de lavar que desliga por meio de inteligência no momento que precisa. Sinais de trânsito inteligentes. Fortaleza pode ter um sistema que aciona o sinal verde ou vermelho a depender do fluxo do trânsito.
É possível ainda otimizar o deslocamento da pessoa conectando o celular com os ônibus pra saber que horas sair de casa no momento em que o coletivo está chegando.
A manufatura 4.0, a indústria pode se beneficiar muito disso, aumentando a automação do setor produtivo por realidade aumentada pra fazer manutenção, reposição de estoques, por exemplo. São muitas possibilidades.
Aqui no Ceará foi lançado o hub de hidrogênio verde, uma tecnologia para produção de energia limpa, e é uma grande aposta para impulsionar a economia cearense. O hub pode se beneficiar do 5G?
Com certeza, o 5G é uma plataforma de aplicações, quanto mais inovações houver, melhor para a difusão. É uma coisa de mão dupla. Quando começamos com os investimentos no 4G, era uma incerteza, só que ao começar a implantá-lo, surgiram aplicações que utilizavam essa tecnologia e precisaram de mais investimentos, é um ciclo virtuoso.
No Ceará, com essa concepção do hub de hidrogênio é uma possiblidade de alavancar o 5G no estado, porque começam os investimentos como obrigação no edital, mas essa indústria pode demandar mais investimento das operadoras, então aumenta mais a cobertura de 5G.
Com uma plataforma disponível pra sociedade empresarial local, favorece o aumento da produtividade dessa indústria, favorecendo os investimentos e, consequentemente, beneficiando o consumidor.
Você acha que o 5G vai fazer com que haja uma maior atração de investimentos para Fortaleza?
Sem dúvidas. Fortaleza, o Ceará como um todo, é um celeiro de grandes boas ideias inovadoras, e o 5G pode acelerar o surgimento dessas inovações. Acho que Fortaleza tem essa característica de ser uma capital voltada para o conhecimento, hoje é uma referência na educação e na inovação, então o 5G vem pra favorecer ainda mais isso.
E com relação ao mercado de trabalho? O que podemos esperar?
Esse é um ponto bastante crítico, o 5G vai exigir novas habilidades, novos conhecimentos que, ao mesmo tempo que oferece uma grande oportunidade para quem tem essas habilidades, por outro lado não há um grande mercado de formação e capacitação de mão de obra focado nessas tecnologias.
Porque, por exemplo, o 5G vai demandar analista de dados, analistas de IoT, designers, enfim, são novas habilidades que não vemos o Governo Federal pelo menos ter uma política clara e objetiva de formação de mão de obra, uma política educacional.
O que a gente sempre fala é que muito importante que haja uma política voltada para essa formação porque senão vai ter a tecnologia, mas não tenha quem vá conseguir usar.
Outro agravante é que, nós temos uma pesquisa de 2021, que mostra que apenas 20% da população brasileira tem habilidades básicas para manejar algumas tecnologias como mandar um e-mail. A grande massa da população ainda precisa ser capacitada para ter essas habilidades.