Cultura, segurança de dados e LGPD motivam movimento de volta aos escritórios

Apesar da preferência dos trabalhadores pela flexibilidade do remoto, grandes empresas têm passado a exigir o trabalho presencial

Escrito por Heloísa Vasconcelos , heloisa.vasconcelos@svm.com.br
Legenda: Empresas presam pelo presencial para tentar aumentar o engajamento entre os funcionários
Foto: Shutterstock

Durante a pandemia, quando quase todos os trabalhadores não essenciais estavam trabalhando dentro de casa, era comum o pensamento de que o home office era um caminho sem volta. O trabalho remoto eliminava horas de trajetos em engarrafamentos e parecia uma solução mais eficiente que a rotina anterior. 

Anos depois, a realidade é diferente. Grandes empresas, inclusive do ramo da tecnologia, como Google e Apple, têm incentivado e até exigido a volta aos escritórios. Em alguns casos em que o híbrido é permitido, os dias em casa estão passando a ficar mais limitados. 

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A Infojobs calcula que, entre novembro de 2022 e janeiro deste ano, 94,82% de vagas ofertadas na plataforma em todo o País eram presenciais, com apenas 2,7% das oportunidades totalmente remotas e 2,48% híbridas.   

Algumas razões motivam as empresas a tentarem trazer novamente os funcionários para perto. A necessidade do fortalecimento de cultura, de socialização e engajamento e mesmo de monitoramento de produtividade são algumas razões apontadas. 

A segurança de dados é um ponto-chave, sobretudo depois que a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) passou a ser aplicada, com multas altas para quem descumprir as regras.  

A volta ao presencial 

A preferência das empresas em voltar para os escritórios é justificada por elas por alguns motivos, como cultura e promoção de engajamento entre funcionários. Para a CEO do Infojobs, Ana Paula Prado, o retorno ao regime presencial também envolve uma preocupação das empresas em relação à segurança de dados. 

“A gente tem pessoas que estão trabalhando em suas casas, que assinaram termos de que aquelas informações estarão seguras. Mas a empresa é responsável, caso algum dado vaze tem um prejuízo muito grande para a empresa”, ressalta. 

Apesar dos apelos das empresas em manter os funcionários unidos presencialmente, essa não é uma preferência dos trabalhadores. De acordo com estudo da Infojobs com o Grupo TopRH, 64,4% das pessoas sentem que a qualidade de vida piorou ao voltar para o modelo presencial de trabalho. 

Hoje, as áreas que ainda ofertam mais vagas remotas ou híbridas são de tecnologia, finanças e administração.  

Ana reflete que hoje a flexibilidade do home office se tornou um fator tão importante para reter funcionários como salários ou benefícios, sendo utilizada como um diferencial sobretudo em áreas com maior escassez de mão de obra qualificada. Para ela, o retorno aos escritórios deve seguir como tendência. 

“O que a gente tem como perspectiva é ter uma continuidade dessa volta para o presencial. Não imagino todas as empresas no presencial, o modelo híbrido vem sendo bastante adotado, cada vez com mais dias no escritório. É algo bastante volátil, a gente percebe mudanças sendo feitas de forma bastante rápida. Se as empresas continuarem perdendo funcionários por conta de flexibilidade, isso deve ser repensado”, diz. 

LGPD e a preocupação com os dados 

A LGPD entrou em vigor em setembro de 2020, mas as sanções previstas pela lei começaram a ser aplicadas só janeiro de 2022, após um tempo de adaptação para as empresas.  

A lei regula as atividades de tratamento de dados pessoais, com a finalidade de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade, e a livre formação da personalidade de cada indivíduo. 

E o custo para quem descumprir as determinações é caro. Conforme o doutor em Direito Comercial e presidente da Comissão Geral de Proteção de Dados da OAB – CE, João Rafael Furtado, as sanções incluem multas que podem chegar a milhões de reais, eliminação do banco de dados da empresa, necessidade de retratação e outras consequências. 

Impacta em absolutamente tudo. Se hoje eventualmente eu tenho acesso ao dado de uma pessoa, estou tratando esse dado e devo obediência à LGPD. Então, todos os funcionários que estão tratando dados por meu intermédio respondem à LGPD. Isso é uma preocupação já no trabalho presencial, que os empregados estão todos sob minha supervisão, eleve isso ao teletrabalho, que eu não sei o que ele está fazendo”
João Rafael Furtado
Presidente da comissão geral de proteção de dados da OAB – CE

Apesar de as sanções da LGPD já estarem sendo aplicadas, Furtado diz que percebe que a maioria das empresas ainda não está adaptada. E, no caso de empresas que trabalham com regime de teletrabalho, as adaptações precisam ser ainda mais cuidadosas – e custam mais caro. 

“É muito mais desafiador você fiscalizar a aplicabilidade correta da LGPD e fazer o monitoramento dos funcionários no online do que no presencial, porque no online pode utilizar o equipamento da empresa ou um equipamento próprio. Muitas vezes ele não vai aceitar que seja instalado um software de monitoramento da empresa”, coloca.  

Cuidados para cumprir a LGPD no regime remoto

  • Treinar o funcionário para uma política de proteção de dados 
  • Fazer o funcionário assinar um termo de confidencialidade 
  • Criar um protocolo com regras de armazenamento dos dados 
  • Construir uma cultura de senhas fortes 
  • Instalar antivírus, ferramentas de segurança, softwares de criptografia e VPN 
  • Atualizar os sistemas e softwares e corrigir a cada falha 
  • Estabelecer rotinas para evitar eventuais dados salvos em dispositivos particulares 
  • Ativar biometria pelo celular  

 

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