Como o Nordeste exporta energia para abastecer Sudeste e Centro-Oeste

Envio começou a ocorrer em 2020 por meio do Sistema Interligado Nacional (SIN). Mais linhas de transmissão poderiam contribuir para que o Nordeste continue ajudando no envio de energia

Escrito por Ingrid Coelho , ingrid.coelho@svm.com.br
Legenda: Geração de energia eólica na região Nordeste ganhou espaço nos últimos anos

Desde o ano passado, o Nordeste passou a enviar energia ao Sudeste e ao Centro-Oeste para ajudar a garantir o abastecimento. Em 2021, em meio ao agravamento da crise hídrica, a transferência ganhou destaque e conferiu à região um protagonismo que vai muito além da beleza das praias e da pujança do turismo. Mas você sabe como funciona essa exportação energética?

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Como ocorre a exportação de energia

A transferência de energia é possível porque os pontos de produção e transmissão de energia estão conectados ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

O SIN é composto por uma malha de transmissão que propicia o compartilhamento entre os quatro subsistemas:

  • Sul
  • Sudeste/Centro-Oeste
  • Nordeste
  • Norte.


Assim, por meio das linhas de transmissão a energia pode ser enviada ou recebida por qualquer uma dessas regiões.

Conforme explica o próprio ONS, a interconexão desses sistemas elétricos "permite a obtenção de ganhos sinérgicos e explora a diversidade entre os regimes hidrológicos das bacias".

Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), extraídos na última sexta-feira (10), 15h41, mostravam uma exportação de 5.962,3 megawatts (MW) - ou 5,9 gigawatts (GW) - para as regiões Sudeste e Centro-Oeste, um total de 31,2% de toda a geração de energia da região Nordeste naquele momento (19.080,8 MW).

A maior parte da energia, 4.979,3 MW, foi exportada por meio da interligação Norte-Nordeste. Ao chegar à interligação Norte-Nordeste, a energia é adicionada aos 1.323,6 MW da região Norte e 6.302,9 MW chegam até o Sudeste e Centro-Oeste.

Há ainda uma parte, 983 MW, enviada diretamente da região Nordeste para o Sudeste e Centro-Oeste. O coordenador de energia da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) e diretor técnico da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Joaquim Rolim, explica que a variedade energética da região permite ao Nordeste contribuir com outras localidades.

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Foto: Shutterstock

Linhas de transmissão

“O Nordeste está trabalhando no Sistema Interligado Nacional e a transferência de energia ocorre por meio das linhas de transmissão, que é algo que precisamos ter em maior volume. Com as linhas de transmissão, o Nordeste consegue auxiliar ainda mais as outras regiões”, explica.

Conforme os dados, a maior parte da energia gerada na região Nordeste naquele momento era a hidráulica e também oriunda dos ventos. Dos 19 GW gerados pelo Nordeste, 5,9 GW eram de eólica e a energia hidráulica representava 6,1 GW. A energia térmica correspondia a cerca de 5 GW, enquanto a energia solar representava 1,8 GW.

O consultor de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Jurandir Picanço, corrobora que as linhas de transmissão são essenciais para que a transferência ocorra de forma mais plena e reforça que o envio de energia para Sudeste e Centro-Oeste não afeta negativamente o Nordeste.

“Nós estamos produzindo mais energia do que o Nordeste demanda, porque além das usinas eólicas nós temos as cascatas do São Francisco e temos as térmicas, então é uma produção de energia que permite levá-la para essas outras regiões”, destaca Picanço.

São Francisco

Apesar da situação de relativa tranquilidade energética na região Nordeste, Picanço reforça a preocupação quanto ao uso da bacia do São Francisco.

“A bacia do São Francisco foi a menos afetada por esse regime de seca. Este ano nós estamos utilizando um pouco mais o recurso hidrelétrico do São Francisco, onde a principal barragem é Sobradinho, e estão liberando muita água de lá. Acontece que se o próximo ano for ruim, nós começaremos o ano mal”, pontua o consultor energético da Fiec.

Geração Distribuída em alta

Gráficos elaborados pela Fiec com base em dados do ONS mostram o fortalecimento da energia eólica ao longo dos últimos anos. Em 2010, ela era apenas 2% da energia gerada pela região, enquanto a maior parte, 85%, era advinda das hidrelétricas. O ano de 2020 encerrou com a energia eólica ocupando quase 50% do total gerado no Nordeste e a energia hidráulica com 37%.

Ao longo dos últimos cinco anos, também começou a crescer no gráfico a participação da energia produzida através da luz do sol. Em 2017, a matriz solar representava 1% da geração de energia no Nordeste. Em 2020, esse percentual passou para 4%.

A energia solar promete roubar a cena no setor energético nos próximos anos, movimento que pode ser catapultado a depender das decisões do governo federal. A ABGD, por exemplo, apresentou em agosto ao Ministério de Minas e Energia (MME) uma série de propostas para incentivar a geração distribuída (95% da GD é solar).

Uma delas é a aprovação do Projeto de Lei 5.859/19, conhecido como Marco Legal da Geração Distribuída, aprovada na Câmara dos Deputados e que segue para o Senado. Além disso, incentivo para a população de baixa renda produzir a própria energia e instalação de energia solar flutuante nos lagos das hidrelétricas são outros pontos do conjunto de propostas, denominado GD+10 GW.

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