Como a guerra entre Israel e Hamas impacta a economia do Ceará?

O Estado exporta calçados para Israel e importa bastante cloreto de potássio para o uso de fertilizante

Escrito por Bruna Damasceno , bruna.damasceno@svm.com.br
Imagem mostra coluna de fumaça após ataque de Israel ao porto da cidade de Gaza, em 10 de outubro de 2023
Legenda: A guerra entre Israel e Hamas ameaça pressionar a inflação, o dólar e os combustíveis no Brasil e impactar negativamente as relações comerciais e o agronegócio cearensesgativamente.
Foto: Mahmud Hams/AFP

Além da tragédia humanitária, a guerra entre Israel e Hamas gera instabilidades e desafios para a economia global. No Brasil, a situação ameaça pressionar a inflação, o dólar e os combustíveis, a depender da duração e da expansão do conflito. Na esteira da crise, as relações comerciais e o agronegócio cearenses também podem ser impactados negativamente. 

Conforme dados do Comex Stat, plataforma do Ministério da Indústria, Comércio e Relações Exteriores, o Ceará exporta calçados para Israel e importa bastante cloreto de potássio para o uso de fertilizante.

A gerente do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado (Fiec), Karina Frota, aponta haver possibilidade de adiamento ou cancelamento de algumas negociações externas. “Mas o impacto, caso ocorra, não terá efeito a longo prazo. O atual conflito não deve interferir e nem atrapalhar as oportunidades de negócios entre Ceará, Brasil e Israel”, avalia.

Agronegócio cearense

No Estado, inicialmente, o temor é pela alta do custo e do desabastecimento de insumos para a agricultura, conforme explica o advogado especialista em logística, direito marítimo e agronegócios, Larry Carvalho. “O Ceará exporta bastante fruta e, por isso, é um comprador de fertilizantes de Israel. A preocupação é do aumento do preço do fertilizante e o do abastecimento”, expôs.

Carvalho pondera, no entanto, ainda não ser possível afirmar se esses efeitos chegarão ao Ceará. “É muito cedo para saber se ocorrerá uma quebra na cadeia, se os fornecedores locais conseguirão cumprir contratos, se haverá problemas logísticos, fechamento de portos e áreas sem navegabilidade”, frisa.

Para ele, esse cenário só poderá ser discutido em caso de um ataque à infraestrutura logística e portuária israelense. Além disso, observa, apesar da significativa relação comercial entre Ceará e Israel, o país do Oriente Médio não é o maior fornecedor do item, como é o caso da Rússia. 

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O mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Paris I - Sorbonne e professor de Comércio Exterior da Unifor, Philippe Gidon, reitera que a consequência direta para o Estado deve ser percebida por meio do comércio. 

“As importações e exportações do Ceará ficarão afetadas. Com um país em guerra, o esforço será em focar todas as suas atenções no conflito, podendo considerar isso como supérfluo. Talvez, o maior problema venha a ser na importação de potássio para a agricultura brasileira, que é muito dependente para manter seus níveis de produção”, enfatiza. 

Esse é um episódio de um conflito de décadas e teve uma força não vista há muito tempo. A determinação surpreendeu até os próprios israelenses, então, quanto tempo isso irá durar dependerá dos dois fatores beligerantes, de quanta força o Hamas conseguiu acumular para se manter e do tamanho da resposta que Israel dará”
Philippe Gidon
Professor de Comércio Exterior da Unifor

Inflação, dólar, juros e combustível 

Para o economista, professor da Universidade de Fortaleza (Unifor) e membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon), Ricardo Eleutério, as principais consequências econômicas do conflito, no Brasil, poderão ser a escalada de custo e a pressão do mercado cambial. “Sempre que temos um aumento da incerteza, a aversão ao risco sobe, bolsas tendem a cair, o dólar tende a subir e o preço do petróleo também”, enumera. 

Em relação ao petróleo, observa, o impacto será maior se outros países do Oriente Médio se envolverem no conflito, principalmente o Irã, por ser um grande produtor. Commoditie de maior peso sobre a inflação, essa matéria-prima puxa altas do combustível e de alimentos em geral.

Outro ponto importante para avaliar o cenário, acrescenta, é a crise causada pela pandemia de Covid-19 e, depois, pela guerra da Rússia contra a Ucrânia. Nesse contexto, os bancos centrais de grandes economias precisaram elevar os juros para conter a elevação de preços.

"Se esse efeito inflacionário se consolidar, o Banco Central americano e europeu manterão suas taxas num patamar mais elevado para conter a inflação”, estima. Por essa razão, a autoridade monetária brasileira pode ser mais cautelosa em relação às reduções que começou a praticar recentemente.

'"Se a distância entre a taxa de juros brasileira e a americana ficar reduzida, isso tende a pressionar o preço do dólar para cima e produzir um pouco mais de inflação”, aponta, destacando que esses impactos devem ser mais intensos na Europa e nos Estados Unidos.

“Nós, por outro lado, temos um mercado interno com queda de desemprego, geração de riqueza e crescimento econômico numa expectativa melhor. O mercado doméstico pode compensar essas incertezas e efeitos negativos na economia mundial decorrentes do conflito Hamas-Israel”, analisa. 

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