Com o dólar em queda, que produtos podem ficar mais baratos?

A moeda americana teve uma trajetória de baixa nas últimas semanas, chegando ao patamar de R$ 4,91. A queda pode tornar produtos importados mais em conta

Escrito por Heloisa Vasconcelos , heloisa.vasconcelos@svm.com.br
Legenda: Queda de preços depende de uma manutenção do patamar atual da moeda americana
Foto: Shutterstock

Após um 2022 de alta acumulada no dólar, a moeda americana teve um movimento de baixa nas últimas semanas, chegando a alcançar na sexta-feira (14) o patamar de R$ 4,91. A cotação mais baixa tem impactos diretos na economia brasileira, podendo baratear alguns produtos. 

A cotação do dólar influencia diretamente nas importações brasileiras, reduzindo o preço de manufaturados que tenham componentes dolarizados. Caso a tendência de baixa persista, é provável que derivados de petróleo, por exemplo, fiquem mais baratos. 

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Além dos combustíveis, a queda do dólar deve diminuir os custos de produção na agricultura, já que adubos e fertilizantes devem ficar mais baratos. O preço de pães, massas e bolos também pode ter redução, decorrente com o menor custo com a importação de trigo. 

Outra categoria importante que deve ter queda de preços é a de eletrônicos, que são fabricados em sua maior parte com itens importados. 

O que pode ficar mais barato

  • Combustíveis
  • Adubos e fertilizantes
  • Pães, massas e bolos
  • Eletrônicos

Por que o dólar está mais baixo? 

O doutor em economia e professor da FACC-UFRJ Joseph Vasconcelos explica que a baixa do dólar tem a ver com a conjuntura internacional e também tem fatores nacionais. Os dados de inflação nos Estados Unidos foram divulgados recentemente e apontaram uma queda no índice maior do que o mercado esperava. 

Dessa forma, há uma sinalização do Federal Reserve (FED, Banco Central americano) de que a taxa de juros norte-americana deve deixar de subir, indo para uma trajetória de queda. Quando os juros diminuem, há um movimento de entrada de dólares nos Estados Unidos, afetando o câmbio. 

Ele ressalta que as definições do governo brasileiro com relação à política fiscal também exercem influência no câmbio. 

“O arcabouço fiscal determina a substituição da política de teto de gastos por uma outra regra fiscal. Ao divulgar essa nova regra isso elimina incertezas do ponto de vista da política fiscal. Essa previsibilidade traz um efeito para a taxa de câmbio. Atrai novos investimentos para o Brasil, traz uma maior oferta de moeda estrangeira no Brasil”, afirma. 

O dólar mais baixo beneficia as importações, influencia a inflação e traz outras implicações para a economia brasileira, como explica o ex-secretário de assuntos internacionais do governo do Ceará e consultor internacional, Nelson Bessa 

A queda no valor do dólar em relação ao real traz vários impactos sobre a economia brasileira, uma vez que barateia o custo de produtos importados, contribuindo para diluir pressões inflacionárias.
Nelson Bessa
Ex-secretário de assuntos internacionais do governo do Ceará e consultor internacional

"Reduz ainda o peso de encargos de quem tem dívidas em moeda estrangeira e estimula também o turismo de brasileiros no exterior ao tornar mais atrativa as despesas de viagens a outros países. Mas prejudica os exportadores que passam a receber menos reais pelos dólares que recebem de suas vendas e perdem, assim, competitiidade em mercados estrangeiros”, completou.

Produtos mais baratos 

A redução nos preços para os consumidores deve chegar mais rápido para itens que têm uma maior rotatividade de estoque, como é o caso dos combustíveis e produtos alimentícios. De acordo com Joseph, essa diferença deve ser sentida já nas próximas semanas. 

Essa mudança deve demorar mais no caso dos artigos tecnológicos, sendo percebida a medida em que os estoques sejam atualizados com produtos produzidos na taxa de câmbio atual. O economista pondera, contudo, que a baixa não será muito representativa. 

A estimativa é que a gente não tenha uma queda substancial, vai ser um pequeno alívio. Porque é natural que o câmbio oscile nos próximos meses”
Joseph Vasconcelos
Doutor em economia e professor da FACC-UFRJ

Nelson Bessa destaca que o impacto depende também de uma manutenção do dólar a níveis baixos, uma expectativa que não deve ser mantida a longo prazo, já que em breve os juros americanos devem voltar a subir para tentar sanar a dívida pública do país. 

“Se a depreciação do dólar em relação ao real continuar nas próximas semanas, os consumidores de produtos importados como eletrônicos, por exemplo, sentirão a redução nos preços à medida que o varejo faça o repasse de redução nos custos de reposição dos estoques. Mas isso dependerá de produto a produto e do tempo em que permaneça a valorização do real”, coloca.  

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