Cagece pede interrupção do processo de abertura de capital na Bolsa
Segundo a companhia, que solicitou a pausa no prazo de análise do projeto pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em abril até o fim do ano, não há previsão para retomada do IPO. Nova data deve ser informada quando houver
A Companhia de Água e Esgoto do Estado do Ceará (Cagece) pediu a interrupção do prazo de análise do projeto de abertura de capital pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por até 180 dias úteis - protocolado em abril, o prazo de suspensão deve ir até pelo menos o fim do ano. Em dezembro de 2019, a estatal havia pedido o registro para realizar uma oferta inicial de units (IPO, na sigla em inglês).
"Isso significa que no momento ainda não há uma previsão sobre a retomada do IPO. Logo que houver nova data, o mercado será informado pelo meios de comunicação oficiais", informou a companhia por meio de nota, sem mais detalhes sobre o motivo da decisão.
Na avaliação do presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, é possível que o momento de crise desencadeada pela pandemia do novo coronavírus tenha provocado a decisão do sócio majoritário - o Governo do Estado.
"(Isso pode ter acontecido) talvez em função do controlador, que achou que é pra dar uma pausa no procedimento e dê sequência em um momento mais atrativo, quando a bolsa esteja mais estável. Pode ser que o Estado esteja fazendo uma reavaliação do momento de reabertura de capital. A princípio, o que se pode imaginar é que se deu por conta desse cenário de pandemia", supõe o economista.
Coimbra pondera que o passo atrás não é prejudicial à abertura de capital. "É um processo. O mesmo aconteceu com a Pague Menos no ano passado, em que determinado momento acharam que não era interessante abrir", relembra.
A rede de farmácias, inclusive, publicou prospecto preliminar da oferta indicando que pode levantar mais de R$ 1 bilhão em seu IPO. O preço da ação ordinária emitida pela companhia deve ficar entre R$ 10,22 e R$ 12,54.
Reorganização
Apesar do movimento, duas atas publicadas na edição de segunda-feira (27) do Diário Oficial do Estado (DOE) trazem a aprovação da reestruturação acionária da Companhia, passo que já era esperado pelo mercado para o processo de IPO. De acordo com o conteúdo das atas, as ações ordinárias da Companhia (com direito a voto) foram convertidas em ações preferenciais (sem direito a voto).
Na avaliação de Coimbra, esse tipo de estrutura é perceptível em grandes empresas que possuem ações na bolsa. "O que a Cagece está fazendo é aquilo que as grandes empresas com ações negociadas em bolsa fazem: transparência, governança e levar para a assembleia geral no ano subsequente da apuração do resultado a definição do que vai ser feito com o lucro, que é o dividendo", diz, descrevendo como funcionam as ações preferenciais.
"Essa movimentação gera mais confiança e estabilidade no processo futuro de abertura", pontua Coimbra.
Para ele, isso indica que a Cagece está buscando maior competitividade e fortalecimento diante do marco regulatório do saneamento. "Vai muito por essa perspectiva de gerar transparência para a empresa, na parte de governança, se fortalecendo para o marco regulatório", diz o economista.
Valor contábil
A ata traz ainda o valor contábil de cada papel, R$ 12,99, que pode ser utilizado como parâmetro para a precificação na abertura de capital, conforme explica Coimbra. "Esse valor pode ser usado como parâmetro para o início das operações, mas não necessariamente isso ocorre. O valor de negociação do mercado pode ser muitas vezes bem maior do que esse", detalha.
Procurada, a Cagece informou que "a conversão de ações trata-se de uma operação societária ordinária, aprovada pelos acionistas no curso normal dos negócios".