Bolsa resiste a queda do petróleo e fecha estável (-0,02%), a 78.972,76 pontos

O volume financeiro totalizou R$ 35,1 bilhões na sessão, com o Ibovespa tendo oscilado entre mínima de 76.942,89 e máxima de 80.105,99 pontos

Escrito por Estadão Conteúdo ,
Legenda: "Apesar de todo estresse na esfera política e a derrocada do petróleo, o Ibovespa recuou muito menos do que o mercado internacional" diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora
Foto: Foto: Nelson Almeida

No dia em que o contrato do petróleo WTI de maio, com vencimento na terça, 21, foi negociado abaixo de zero, o Ibovespa mostrou notável resiliência em sessão de vencimento de opções sobre ações. Assim, o principal índice da B3 neutralizou as perdas do dia, fechando praticamente estável (-0,02%), a 78.972,76 pontos, longe da mínima deste pregão espremido entre o fim de semana e o feriado nacional de Tiradentes. Em sessão pré-feriado brasileiro os investidores costumam mostrar grau ainda maior de cautela, visto que os mercados do exterior estarão abertos amanhã.

O volume financeiro totalizou R$ 35,1 bilhões na sessão, com o Ibovespa tendo oscilado entre mínima de 76.942,89 e máxima de 80.105,99 pontos. Em abril, o índice passou a acumular ganho de 8,15%, mas ainda cede 31,71% no ano. Na sessão, apesar do derretimento dos contratos da referência americana de petróleo, os papéis da Petrobras tiveram desempenho melhor do que o de outras blue chips, como Vale e bancos. No fechamento, Petrobras ON e PN mostravam baixa, respectivamente, de 0,90% e 1,12%, enquanto Vale cedia 3,50% e Itaú Unibanco, 2,50%. Na ponta negativa do Ibovespa, Gerdau Metalúrgica caiu 3,70%, Embraer, 3 66%, e Gerdau PN, também 3,66%. No lado oposto, Cyrela subiu 8 85%, seguida por Magazine Luiza (+8,72%) e Localiza (+6,15%).

"Apesar de todo estresse na esfera política e a derrocada do petróleo, o Ibovespa recuou muito menos do que o mercado internacional, em vista da forte queda dos juros futuros, movimento que favoreceu em especial o setor de consumo e varejo" diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, chamando atenção para o "tom muito dovish" do presidente do Banco Central Roberto Campos Neto, em teleconferência pela manhã, na qual "reforçou o compromisso da autoridade monetária em oferecer fluxo de crédito, que é a principal preocupação do mercado neste momento."

Gasolina nas refinarias passa a R$ 0,91 por litro após novo corte

Já o preço do diesel caiu 0,6% na semana passada, para R$ 3,318 por litro.

Legenda: Será o 11º corte na gasolina e o 10º no diesel

 Menos de uma semana após os últimos cortes, a Petrobras voltará a reduzir, nesta terça-feira (21) os preços da gasolina e do diesel no país. Será o 11º corte na gasolina e o 10º no diesel, em resposta à queda das cotações internacionais em meio à pandemia do novo coronavírus.

Segundo a estatal, o preço da gasolina cairá, em média, 8%, passando a custar em suas refinarias R$ 0,91 por litro. Desde o início do ano, a queda acumulada é de 55%. Já o preço do diesel será reduzido em 4%, em média, passando a custar 1,46 por litro. A redução acumulada em 2020 é de 38%.

Considerando valores corrigidos pela inflação, os preços dos dois combustíveis nas refinarias da Petrobras estão nos menores patamares ao menos desde 2005, início de série histórica compilada pelo CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).

Segundo especialistas, o cenário reflete o elevado nível de estoques globais dos produtos, já que o consumo despencou após o início das medidas de isolamento em social para conter a contaminação pela Covid-19. No mundo, há notícias de empresas contratando navios como alternativa para estocar os produtos.

Segundo dados da EIA (a agência de estatísticas do Departamento de Energia dos Estados Unidos), os estoques de gasolina naquele país atingiram 262 milhões de barris no último dia 10, um aumento de 15% em relação o verificado no dia 12 de dezembro de 2019.

O movimento ocorreu mesmo com uma redução de cerca de 30% na produção do combustível no mesmo período: no dia 10 de abril, a produção acumulada em 30 dias nas refinarias foi de 7 milhões de barris de gasolina, contra 9,9 milhões de barris no período de 30 dias encerrado em 12 de dezembro.

No Brasil, a Petrobras viu uma queda de 60% na demanda por gasolina nas primeiras semanas após o início do isolamento. A estatal também reduziu a produção de combustíveis em suas refinarias para evitar gargalos na infraestrutura de armazenamento.

Para enfrentar o cenário de preços baixos, anunciou uma série de medidas, como corte de investimentos, suspensão de bônus e dividendos e redução da produção de petróleo, com a hibernação de 62 plataformas.

Nos postos brasileiros, o preço da gasolina continua em queda, segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis). Na semana passada, o litro do combustível foi vendido, em média, a R$ 4,095, 1,3% a menos do que na semana anterior. Em 2020, a queda acumulada é de 10,1%;

Já o preço do diesel caiu 0,6% na semana passada, para R$ 3,318 por litro. Desde o início do ano, a queda acumulada é de 11,5%.

A queda dos preços gerou um embate entre Petrobras e usineiros, que pedem a elevação de impostos sobre a gasolina para ajudar na competitividade do etanol -que só é vantajoso quando seu preço equivale a até 70% do preço do derivado de petróleo.

O setor de cana-de-açucar tem apoio do Ministério da Agricultura, mas o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco diz que a medida pode prejudicar o abastecimento de gás de botijão, que é produzido nas refinarias junto com a gasolina.


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Com participação perto de 10% na composição da carteira teórica do Ibovespa, as ações da Petrobras são correlacionadas ao Brent, a referência global que hoje, no vencimento para junho, fechou em baixa de 8,94%, ou US$ 2,51, a US$ 25,57 por barril. A queda livre do contrato para maio do WTI, a referência americana, assim como forte depreciação do contrato para junho, refletiu o "esgotamento de uma estratégia do presidente Donald Trump de comprar e estocar o petróleo disponível para dar alguma sustentação aos preços", observa Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, em atuação que se impôs aos EUA desde que a Arábia Saudita anunciou, no início de março, descontos e aumento da oferta quando a demanda global já estava colocada em dúvida pela pandemia do novo coronavírus.

Mesmo que neste mês tenha se chegado a acordo na Opep+ quanto ao nível de oferta, o estrago já estava feito, diz Arbetman, na medida em que a demanda americana segue enfraquecida pelo "lockdown" - a suspensão de atividades não essenciais em grande parte do país. Enquanto a reabertura da economia americana segue como um plano de intenções distribuído por três fases, a perspectiva de recuperação da referência americana de petróleo permanece incerta. Hoje, o principal assessor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, disse que a intenção do governo é iniciar a reabertura em 1º de maio, se as condições médico-sanitárias assim permitirem.

Além do vencimento de opções sobre ações nesta segunda-feira, que contribuiu para que tanto a ON como a PN de Petrobras mostrassem resiliência na sessão, o fato de a receita da petrolífera brasileira ter mais exposição ao consumo doméstico do que à demanda externa também ajuda a entender o comportamento no mesmo dia em que a empresa anunciou novo corte de preços nas refinarias este ano. "Na Petrobras, 70% da receita vem do mercado doméstico e 30% do externo, dos quais dois terços correspondem à demanda da China, que há duas semanas voltou a comprar, com a reabertura de sua economia depois do coronavírus, embora ainda não nos mesmos níveis de antes", aponta Arbetman, acrescentando que a recuperação da economia chinesa parece se desenhar em forma de V.

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