Economia circular: o que é, exemplos e características

O conceito propõe o reaproveitamento dos produtos e o redesenho dos processos produtivos

A economia circular é um caminho para o desenvolvimento social sem degradar o meio ambiente. Pelo contrário, utiliza-se o recurso natural de forma mais inteligente e reduz a dependência de matéria-prima industrial.

Oposta ao tradicional sistema linear, ela ainda engatinha no Brasil, mas já há movimentos neste sentido. A pressão social tem feito empresas aderirem à economia circular. 

Para o professor de Economia Ecológica da Universidade Federal do Ceará (UFC), Aécio Alves de Oliveira, a adoção do conceito pode transformar realidades.

"A tentativa de quebrar a linearidade da economia capitalista e introduzir alguma circularidade favorece muito, recupera a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos. A saúde humana e a ambiental também são recuperadas", avalia.
 

O que é economia circular 

O professor de Economia Ecológica da UFC, Aécio Alves de Oliveira, explica que a economia circular prioriza o uso dos recursos naturais, o reaproveitamento, a reciclagem dos materiais descartados e a sustentabilidade dos processos produtivos. 

"A economia circular é uma tentativa de fazer com que os descartes sejam reaproveitáveis. A ideia básica central é a seguinte: eu não posso deixar de extrair recursos naturais. Eu tenho que transformá-los em coisas úteis para atender às necessidades humanas”, inicia.

“E, nesse processo de transformação e produção de resíduos, também acontecerá o descarte. Então, a ideia é que esse descarte seja reaproveitado. Para que isso ocorra, contudo, é preciso saber que tipo de recursos naturais estão sendo extraídos”, pondera.  

Quais as principais características

Conforme a Fundação Ellen MacArthur, organização na governamental (ONG) internacional de economia circular, essa vertente deve englobar não apenas a gestão dos resíduos, mas também remodelar os produtos e negócios desde a criação. São características:

  • Design próprio: os produtos devem ser pensados para viabilizar a circularidade, com designer que abrangem os ciclos de reaproveitamento, por exemplo; 
  • Novos modelos de negócio: empresas precisam repensar modelos inovadores que englobem a circularidade;
  • Ciclos reversos: todo o processo até o último ciclo deve envolver uma cadeia para a reutilização e melhor utilização dos recursos naturais.

Qual a diferença entre economia circular e a linear? 

Conforme o professor de Economia Ecológica da Universidade Federal do Ceará (UFC), Aécio Alves de Oliveira, “a economia circular é uma espécie de modelo que se contrapõe à economia linear, que é esta que a gente convive”. 

Ele diferencia que a característica central da economia linear é um processo abundante de extração de recursos naturais.  “Há a transformação desses recursos naturais em mercadorias para venda e, no final mesmo, há deposição de resíduos, o descarte.

"Os resíduos ocorrem quando há transformação e também no pós-consumo. É sempre assim: extrai, transforma e descarta. Isso segue de maneira indefinida. Extrai mais, transforma mais e descarta mais”, especifica. 

Economia circular no Brasil

Em 2010, foi implantada a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PRNS) para tentar acabar com os lixões. A legislação obriga as empresas a adotarem a circularidade econômica, com a logística reversa, por exemplo, que faz a gestão do resíduo para ele retornar ao ciclo produtivo.

Segundo o portal da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 76% das empresas já desenvolvem alguma iniciativa de economia circular, conforme dados de 2019.  Para o professor Aécio, o Brasil tem alguma grande potencial em relação à agrofloresta (sistema inspirado na dinâmica dos ecossistemas naturais). 

“Há experiência no semiárido com barramento de água feito com pedras. Você analisa o caminho das águas e aí coloca barramentos que não impedem o caminho das águas, porém, retém um pouco”, exemplifica. 

“As águas encontram pedras no caminho e constroem outros para ultrapassar. Então, é algo imitando a natureza. Ao fazer isso, acumula-se água em algum lugar e cria microecossistemas”, complementa. 

Exemplos de economia circular

O professor de Economia Ecológica da UFC, Aécio Alves de Oliveira, explica que a economia circular pode ser feita pelas famílias também, além das empresas. 

"É possível ter um esquema de circularidade em casa. É um modelo bem simples: você tem um galinheiro, as galinhas recebem os restos de comida da cozinha, elas excretam, isso vira posteriormente um adubo. Ela põe ovo, esse ovo vai para cozinha, a cozinha se utiliza, as pessoas se alimentam”, lista.

“A cozinha se utiliza desse ovo, mas a casca dele vai servir também como nutriente para as plantas. Os restos produzidos na cozinha vão para o galinheiro. O esterco da galinha serve de adubo e galinha põe ovo novamente. Volta para cozinha. Você tem uma ideia de circularidade em que não há desgaste e as coisas se sustentam”, completa. 

Parte desse exemplo aplicado ao mercado é possível observar em empresas que reutilizam embalagens de cosméticos, cápsulas de café e garrafas de refrigerantes.

Mas a economia circular não se limita a isso, também é importante que ela seja bioeconômica, como define Aécio. Ou seja, baseada em recursos naturais e sustentáveis. 

Principais dúvidas

Quais os 4 R’s da economia circular? 

O conceito de 4 R’s é para designar as práticas necessárias para a economia circular. São elas: 

  • Repensar: rever os processos levando em conta os impactos para o meio ambiente, sociedade e hábitos de consumo;
  • Reduzir: diminuir a quantidade de matérias-primas;
  • Reutilizar: aproveitamento máximo dos produtos e seus componentes;
  • Reciclar: reutilização de forma inteligente para novos usos.

Qual o objetivo da economia circular? 

Conforme especificado anteriormente, se opor à economia linear, permitindo melhor aproveitamento dos recursos naturais, utilização dos produtos e descarte sustentáveis.'