As memórias de uma infância no campo e das mulheres da família reunidas na cozinha, aproveitando todos os frutos que nasciam no quintal, inspiraram a agrônoma Cíntia Gamarra, 54 anos, a empreender produzindo geleias de frutas. Com quatro anos de atuação e suporte do Programa Ceará Credi para a compra de equipamento, o Sítio das Dunas, empresa de “uma mulher só”, participa de feiras do município, mas tem no Instagram e na Shopee os dois pontos de maior venda.
Além das geleias, Cíntia diversificou a sua gama de produtos e também fabrica pasta de amendoim e cestas de presentes e de café da manhã. Ao todo, já investiu R$ 25 mil no seu negócio. Porém, tudo começou com o incômodo que a agrônoma sentia ao ver o desperdício de mangas no condomínio que mora, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
“Observei que como são muitas mangueiras, os frutos caíam no chão, ninguém usava e daí tive essa ideia: por que não fazer alguma coisa que eu goste aproveitando as frutas?”, se questionou.
Assim, as primeiras geleias produzidas foram de manga pura, manga com pimenta e manga com canela. “Comecei a distribuir para os amigos, dava para todo mundo provar e foi dando certo. Fiz um rótulo, comprei vidros e comecei a fazer um perfil no Instagram para ver se vendia.”
Cíntia lembra que aqui no Ceará não há o hábito de consumo de geleias de frutas, e sim de doces de corte, mas que isso não a intimidou. Com a aceitação dos conhecidos ela foi ampliando os sabores e fazendo cursos para profissionalizar a produção e a venda.
Pandemia foi momento de qualificação
Nesse sentido, a pandemia acabou ajudando Cíntia a se qualificar e enquanto não podia participar de vendas em feiras municipais, ela aperfeiçoou suas técnicas. "Acabei adaptando as receitas dos cursos que fiz para usar menos açúcar em sua composição, por exemplo”.
Além das tradicionais de pimenta, de morango e de frutas vermelhas, a agrônoma doceira aposta em sabores de frutas de grande aceitação na região, como cupuaçu (fruta do Norte), jaca com maracujá e tamarindo, “fruta que tem muito na região e as pessoas gostam bastante”, para diversificar sua gama de produtos.
Sabores como umbu-cajá e cebola caramelizada também podem ser adquiridas por aqueles que querem testar o paladar e o consumo pode ser feito com pães, bolos ou até mesmo queijos, frios e carnes.
Surfando na “onda do momento”
No ano passado, aproveitando o que estava em alta para o consumo, Cíntia produziu a Geleia da Barbie. Com um tom de rosa intenso, o doce era composto de pitaia, pera e pimenta. “O sabor ficou especialíssimo e a cor, maravilhosa”, comenta orgulhosa.
Sempre primando pela qualidade da matéria-prima e o uso consciente de embalagens que trouxessem a “pegada rústica” que combinasse com as suas geleias, ela ampliou sua gama de produtos utilizando cestaria, jogos americanos de tear e flores-de-palha e colherinhas de pau, entre outros, transformando a geleia em “artista principal” de cestas para presentar.
Primeiro eu fiz a geleia virar presente. Ia ao médico, levava uma geleia, tinha um aniversário, dava a geleia de presente. Com isso, sai um pouco da obrigação de vender apenas para o consumo imediato e consegui transformar meu produto em presentes com significado, pois são feitos artesanalmente”.
Compra de equipamento com microcrédito salvou saúde e produção
Com dificuldade de mobilidade e muitas dores no ombro esquerdo, Cíntia viu o seu negócio ameaçado por conta da saúde. Foi nesse momento que ao saber do programa de microcrédito orientado do Governo do Estado, o Ceará Credi, por meio do Centro de Apoio ao Trabalho, Empreendedorismo e Qualificação da Prefeitura de Caucaia (Cateq), a empreendedora viu a chance de comprar um equipamento que daria continuidade ao seu trabalho e seus sonhos.
Não é todo mundo que vai para a frente do fogão e aguenta o tranco para fazer geleia. São horas em pé e mexendo sempre. No dia que tinha que fazer dois sabores, por exemplo, era só na base do remédio para aguentar”.
Com muitas dores, a produção estava sofrendo redução, já que o ponto das geleias leva horas de movimento repetitivo. “Foi então que uma amiga doceira de outro estado me falou dessa panela que mexe sozinha e com o valor do Ceará Credi consegui comprar.”
A empreendedora está no seu segundo empréstimo e, ao todo, os créditos somaram R$ 6 mil. Por trabalhar com produtos de outros artesãos para compor seu mix, o valor também foi usado para pagamento de materiais como cestaria, sacolas, vidros, além de frutas congeladas, entre outros.
“A maioria dos fornecedores são também pequenos e não parcelam as vendas. Assim, o crédito me ajudou a ter capital para fazer os pedidos, comprar os materiais e poder tê-los em estoque”, explica.
Feiras ainda são oportunidade de apresentação
Cíntia lembra que além da internet, foi nas feiras organizadas na cidade de Caucaia, que ela conseguiu difundir o seu produto e conquistar clientes. Atualmente, ela considera um evento bom aqueles que têm vendas de 25 vidros, em média. Os produtos variam de R$ 10 (vidro de 40 gramas) a R$ 300 (baú para café da manhã ou tarde que serve bem duas pessoas com geleias, frutas, pães, frios, entre outros itens).
“No início era até muito engraçado, porque as pessoas quando eu falava em geleia, elas falavam em geleia de mocotó. Hoje em dia não mais. Boa parte das pessoas aqui na região já conhece o que é uma geleia, já sabe o que é o sítio das Dunas, e já divulgam.”
Ela lembra que em uma feira no Cumbuco, os clientes são mais turistas nacionais e internacionais que querem consumir geleias de frutas típicas brasileiras ou da região. Já na cidade, as de morango, frutas vermelhas e de pimenta, são as que tem mais saída.
As feiras podem ser cansativas, mas muitos clientes que tenho vieram de feiras, compraram nas feiras e agora compram pelo WhatsApp. Além disso, é sempre um lugar onde a gente pode ter o contato direto, falar com os consumidores, além da degustação. Então, isso dá um diferencial grande, porque ali podemos dar ideias de formas de consumo que levam a venda”.
Empresa de uma mulher só
Cíntia faz as compras dos insumos no mercado, prepara as geleias, esteriliza os vidros, rotula, embala, faz a prescrição do produto e cuidados de consumo, fotografa, divulga nas redes sociais, responde os clientes nos canais e realiza o envio.
Por tudo isso e muitas outras coisas que gostaria de fazer, ela vai buscar uma terceira oportunidade no Ceará Credi, agora para ampliar o seu potencial de vendas pela internet. Um novo computador, um novo celular e quem sabe mais cursos de divulgação são a meta de Cíntia na busca pela expansão do seu negócio.
Já estou na Shopee e envio meus produtos para o todo o país, mas ainda é pouco. Como as geleias tem um tempo de conservação grande, a produção continuo dando conta, então, o que preciso é vender mais para poder ampliar o meu negócio.”
Com o seu trabalho, a doceira já consegue ter lucro e fazer o reinvestimento a partir da sua produção, mas o sustento da família vem do salário do marido, que é professor universitário.
Ceará Credi alavanca os pequenos negócios
O Programa de Microcrédito Produtivo (Ceará Credi) é uma iniciativa do Governo do Ceará, por meio da Secretaria do Trabalho, que visa ampliar oportunidades de trabalho e renda para microempreendedores, trabalhadores autônomos, formais e informais, e agricultores familiares, por meio da disponibilização de crédito produtivo orientado e capacitação empreendedora.
Em quase três anos de operações, o Programa já liberou mais de R$ 170 milhões em crédito para mais de 68 mil micro e pequenos empreendedores cearenses. Do público prioritário atendido pelo Programa, 68% são mulheres, das quais 56% são mulheres chefes de família.
Planejamento é fundamental
Além da preocupação com a orientação do crédito, é importante que a pessoa que tem vontade de empreender saiba dos desafios que esse setor enfrenta. Assim, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, conhecido popularmente apenas como Sebrae, pode ser um aliado no momento de planejar o negócio.
No Ceará, em 2023, os consultores especialistas na área de Crédito e Finanças do Sebrae atenderam 1.040 micro e pequenos empreendedores espalhados por todo o Estado. As ações são realizadas durante o planejamento do negócio e passa pelas fases de pré-crédito e pós-crédito.
No caso de Cíntia, os cursos do Sebrae lhe ajudaram a mudar a percepção de gasto. “Antes eu queria comprar tudo à vista. Mas os vidros, por exemplo, quando eu compro eu ainda não vendi as geleias. Então, se eu parcelar, vou poder pagar com o dinheiro que receber pelo produto. Essa visão do que pode ser parcelado e como deve ser feito aprendi nos cursos que fiz no Cateq em parceria com o Sebrae”.
Ela ainda comenta que a precificação dos seus produtos se tornou mais adequada, também após um curso com instrutores do Sebrae. “Antes eu perdia quase todo o meu lucro fazendo as entregas com o meu carro. Agora, o frete é calculado e feito por moto por aplicativo pago pelo cliente”.
Ensinamentos gratuitos fazem a diferença
Segundo o gestor da área de crédito orientado do Sebrae Ceará, Felipe Cidrão, a maioria dos serviços disponibilizados pela entidade estão disponibilizados na plataforma e são gratuitos para o empreendedor. Para acessar, basta fazer um cadastro. No caso dos serviços de gestão financeira, ele dá como exemplo treinamentos e capacitação online, ferramentas, planilhas, e, inclusive, calculadora de simulação de empréstimo.
“Além do planejamento até a obtenção do crédito, também é importante depois que se tem o valor, esse acompanhamento para que o investimento seja feito de forma ordenada e correta. Nesse momento, o montante passa de crédito a recurso e ele se torna uma dívida. Assim, é importante ter essa atenção para conseguir honrar com os pagamentos”.
Esse é um serviço que está mantido este ano, sendo que a área de “gestão financeira” é a mais procurada, seguida pela área de “marketing”, pelas micro e pequenas empresas. “Estes dois assuntos não param de ter demandas em nenhum momento e os empreendedores reconhecem que precisam deste apoio e orientação”.
O gestor do Sebrae pondera que na busca por crédito, algumas etapas precisam ser seguidas. A primeira é a identificação da necessidade do crédito.
É preciso entender se a busca pelo crédito é para comprar uma máquina, um equipamento, se é para fazer uma reforma, ou se é para capital de giro, porque para cada situação são oferecidas linhas de créditos específicas".
A etapa seguinte nesse processo é realizar uma análise de viabilidade do negócio, reduzindo os riscos e dando mais firmeza para o pagamento do crédito buscado. Para mais informações do Sebrae os interessados podem entrar em contato pelo telefone 0800 570 0800, que também é WhatsApp e tem atendimento 24 horas e durante todos os dias (inclusive aos domingos).
Analogia com uso de remédios para compreensão mais fácil
Um ponto que Cidrão afirma ser sempre motivo de conversa com os empresários com relação ao crédito orientado, é a tomada do crédito de forma consciente.
“Fazemos uma analogia com o ministrar de medicação. Se a pessoa está fazendo um tratamento de saúde, ela precisa tomar um medicamento em uma dosagem indicada, adequada, considerando as condições dela”.
Neste contexto, o especialista do Sebrae diz que “se tomar a medicação na dosagem menor, aquele remédio não vai surtir efeito. E se tomar uma dosagem muito grande, a pessoa pode ter uma overdose. Na obtenção do crédito, é o mesmo. Todos os fatores da empresa precisam ser levados em conta para que realmente se resolva o problema dela ou para que ela possa ampliar, expandir os seus negócios. Crédito de menos não surte o efeito desejado e crédito demais pode trazer uma grande dívida desnecessária”.
Empreendedorismo feminino tem olhar diferenciado
O gestor da área de crédito orientado do Sebrae Ceará ressalta que historicamente as mulheres têm crescido em números no empreendedorismo, principalmente no de oportunidade. Porém, na hora da obtenção do crédito, por não terem histórico bancário ou do próprio crédito, acabam sentindo dificuldades.
“Muitas vezes elas têm uma boa ideia, tem um bom planejamento, mas não consegue ter esse acesso. Pensando nessa questão e em oportunizar e viabilizar esses novos negócios onde mulheres estão à frente algumas iniciativas, de crédito estão recebendo esse olhar e trazendo linhas exclusivas, com condições diferenciadas, para estimular a abertura de novos negócios femininos”, comenta Cidrão, lembrando ainda que as mulheres também são reconhecidas como mais organizadas e seguras.
“Por isso, para as instituições, as mulheres são vistas como um risco menor, assim como suas iniciativas”.
Oportunidade de construção de histórico de crédito
O especialista lembra que a relação financeira entre clientes e instituições de crédito são feitas com base na confiança e no histórico de “bom pagador”. Assim, o histórico do empreendedor pode ser um fator que facilita ou dificulta a obtenção de crédito. O conceito, pela definição de crédito em si, é baseado na confiança.
“Ou seja, o crédito que se consegue é porque alguém está confiando que você tem condições de pagar. Assim, se tem um bom nome, uma boa reputação, você é confiável e amplia as suas possibilidades de crédito e de valores que podem ser confiados ao seu negócio”.
Sobre o Programa Ceara Credi
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