Lançados em dezembro do ano passado após meses de negociação entre o Estado e a Gol para incentivar a aviação regional no território cearense, os voos de Fortaleza a oito cidades do interior mal começaram e estão há pelo menos quatro meses suspensos por conta da pandemia. As linhas eram operadas pela TwoFlex, que foi adquirida pela Azul Linhas Aéreas em janeiro. Apesar de garantir a manutenção das operações em um primeiro momento, a Gol encerrou o contrato existente com a companhia de menor porte em meio ao contexto da pandemia e agora busca outra parceria para a aviação regional.
Em nota à reportagem, a Gol informou que "tem tratativas com outras empresas que prestam o mesmo tipo de serviço que foi oferecido pela TwoFlex, cujo acordo foi encerrado em fevereiro/2020".
A companhia disse ainda que avalia as oportunidades para o seu negócio e que "com certeza as operações em aeroportos regionais serão retomadas tão logo ocorra uma normalização da demanda e soluções mais concretas para a Covid-19". "A Gol foi a pioneira no desenvolvimento dessa parceria comercial que leva o transporte aéreo a cidades com menor demanda e que não sustentam a operação de aeronaves de maior porte e teremos outros parceiros desenvolvidos para manter o nosso plano", completa a nota.
Há pelo menos quatro meses sem movimentação de passageiros e sem voos regulares comerciais, os principais aeroportos regionais do Ceará ainda aguardam uma melhora nos cenários econômico e pandêmico para voltarem às operações. A baixa demanda por conta da Covid-19, aliada às restrições de viagens, obrigou companhias aéreas a suspenderem frequências que vinham crescendo em sete terminais do Estado no início deste ano, com voos que ligavam o interior e litoral a Fortaleza.
Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), foram movimentados mais de 43 mil passageiros de janeiro a junho deste ano em sete aeroportos regionais do Ceará (Crateús, Aracati, Jericoacoara, Iguatu, São Benedito, Sobral e Tauá). O resultado se refere basicamente aos meses de janeiro a março, uma vez que em abril, maio e junho, por conta do avanço da pandemia, não houve tráfego nestes terminais.
De acordo com Fábio A. De Faria, gerente de Programas e Operações Aeroportuárias da Superintendência de Obras Públicas (SOP), todos os aeroportos regionais estão operacionais e abertos às atividades aéreas. Questionado se os terminais estão recebendo voos, o gerente diz que sim. "Porém, somente da aviação geral, que compreende os táxis-aéreos e a aviação executiva e de pequeno porte. A aviação regular (Gol, Latam, Azul e demais companhias aéreas) não retornaram ainda suas atividades. Em nenhum momento, mesmo durante os períodos mais críticos da pandemia, nossos aeroportos estiveram fechados".
Faria diz também que o momento tem sido complicado para o setor. "Foi um período muito difícil. Houve uma redução drástica da atividade aérea com a consequente redução no turismo, na arrecadação tarifária".
Ele acredita também que as perspectivas para a retomada são as melhores possíveis. "Com a aproximação do fim do ano e das férias, associado a uma maior sensação de segurança sanitária para a população, acredita-se que os nossos aeroportos retornem a um fluxo de voos próximo dos praticados nos anos anteriores, respeitando-se os planos de retomadas das rotas por partes das companhias aéreas".
Além disso, especialistas também apontam que as perspectivas são positivas para o Ceará, uma vez que o Estado tem vocação turística, cuja demanda deve ser retomada no pós-pandemia.
Parcerias
Para o economista especialista em aviação, Alessandro Oliveira, as parcerias entre as companhias aéreas funcionam à medida que o mercado vai se recuperando. "Eu acredito na viabilidade sim (dos voos regionais) porque parcerias vão ser uma questão importante para as empresas grandes que não vão poder ficar esparramando capacidade, com muitos voos sem tatear o mercado, sem conhecer. E neste caso, ter aeronaves menores, faz sentido para ir conhecendo o mercado do que pôr logo jatos grandes para experimentar. Eu acho que a parceria é um caminho muito interessante e muito inteligente, na verdade, nesse pós-pandemia", avalia.
O especialista ainda afirma que a aviação regional é muito sensível à situação econômica do País e que o tempo para a retomada dos voos regionais no Ceará vai depender disso.
"A aviação regional é complicada porque ela sofre muito com os choques da economia. Quando as companhias aéreas estão mal, os primeiros voos a serem cortados são os de menor densidade de tráfego. E na retomada é claro que se espera que na margem, as rotas mais densas do mercado regional retornem, mas não sem antes haver um adensamento do tráfego nas principais ligações. É provável que a retomada comece nas ligações entre as capitais", explica o especialista.
Oliveira também avalia que o turismo estadual tem potencial para o desenvolvimento da aviação regional após a Covid-19, levando em consideração um cenário mais otimista para a situação da pandemia. "Eu vejo o turismo como contendo um bom potencial sim. Claro que o cenário sanitário vai impactar na retomada da economia e é um forte condicionador, porque se a renda per capita não subir, fica mais difícil a gente retomar a taxa de crescimento como antes. Mas mesmo assim eu vejo com um certo otimismo".
Futuro
Para o professor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Cláudio Jorge, o futuro da aviação regional do Ceará será como no restante do País. "Após esse evento pandêmi-co, creio numa rápida retomada da economia e acompanhando a demanda por viagens aéreas. Muitos estão sedentos por isso. Mas as companhias aéreas se desarticularão e levarão algum tempo para alçar níveis mais altos. A retomada no Ceará depende, assim como em todo o País, do sucesso das vacinas".
Além disso, o professor pondera que o cenário de parcerias da Gol vai se desenhando à medida que novas empresas aéreas com foco no mercado regional vão sendo criadas. "Quanto aos parceiros com a Gol temos, mesmo durante a pandemia, duas novas companhias regionais se formando. Uma delas é a Nella, que tem feito divulgação de atuar no início de 2021. A aviação geral deve ter maior espaço no nosso País, assim como tem nos Estados Unidos", acrescenta.