Médico que fez lipoaspiração em Liliane Amorim é indiciado por homicídio culposo pela polícia

Documento foi enviado ao Poder Judiciário, na manhã desta segunda-feira (1º), onde segue para apreciação

Escrito por Redação ,
Liliane Amorim vivia em Juazeiro do Norte (CE)
Legenda: Liliane Amorim vivia em Juazeiro do Norte (CE)
Foto: Reprodução/Instagram

O cirurgião plástico Benjamim Alencar, responsável pela lipoaspiração de Liliane Amorim, foi indiciado por homicídio culposo pela Polícia Civil. As investigações sobre a morte da modelo e digital influencer após o procedimento — ocorrido em janeiro deste ano — foram encerradas, na última sexta-feira (26), com a conclusão do inquérito policial instaurado na Delegacia Regional do Crato. No documento, o crime é caracterizado por imprudência e negligência do profissional. 

De acordo com o delegado Luiz Eduardo da Costa Santos, titular da Delegacia Regional do Crato e responsável pelas investigações, a perícia realizada no corpo da vítima, bem como os elementos comprobatórios colhidos durante a investigação policial não deixam dúvidas de se tratar de um homicídio culposo.

“Com tudo o que foi investigado e todos os elementos colhidos no curso das investigações, ficou evidente que se trata da possibilidade de um homicídio culposo, onde o médico não previa o risco de produzir o resultado. Contudo, por falta de cuidados e cautelas, teria causado o resultado grave”, ressaltou.

O delegado explicou ainda que o crime culposo, no caso do homicídio, pode se caracterizar por três elementos: a imperícia, a imprudência e a negligência, mas no caso da morte de Liliane, foram constatados dois deles: a imprudência e a negligência.

Dentre os três requisitos, ficaram muito claras a imprudência e a negligência por parte do médico. A imprudência demonstrada quando ocorreu a alta médica de Liliane, ainda com muitos sintomas e dores. Segundo depoimentos, a vítima chegou a sair do hospital de cadeira de rodas. Entendemos, desta forma, que houve uma alta prematura, pois o médico foi consultado quanto à permanência dela no hospital. Ele afirmou que não havia necessidade e então ela foi conduzida a casa dela, onde começou toda a complicação. Foram dias com muitas dores, sonolência, enjoos

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O delegado Luiz Eduardo pontuou também que a partir dos dias da vítima em casa, se caracterizou a negligência. “Porque não houve assistência necessária à paciente, que se queixava de diversos sintomas, além de não conseguir se alimentar ou dormir, e o médico se encontrava fora da cidade. Ele não fazia atendimento presencial e não deixou ninguém para fazer o atendimento. O que foi constatado foi uma assistência virtual, o que não se pode conceber no caso grave como este”, revela.

Durante as investigações, a Polícia Civil do Ceará descobriu que, durante o tempo que a vítima precisou ficar internada após a cirurgia plástica, o médico-cirurgião passou a pressionar os familiares da digital influencer para que eles a transferissem para outro hospital. O profissional de saúde pagou parte das despesas com as custas médicas e queria que a modelo fosse para outra unidade, para atendimento fornecido de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O médico não teria mais condições de custear os gastos com a vítima. Apurações apontam ainda que ele cogitou a possibilidade de entrar na Justiça contra o Estado para obrigá-lo a custear as despesas médicas gastas com a paciente.

Ao todo, foram ouvidas 24 testemunhas, entre familiares e amigos da vítima, profissionais da saúde que participaram da cirurgia e que a acompanharam enquanto ela esteve internada, além do médico que foi indiciado. Junto ao inquérito seguem ainda documentos como o laudo produzido pela Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), prontuários hospitalares/relatórios médicos das clínicas que prestaram atendimentos à vítima desde o primeiro internamento.

Todo o material corroborou com as apurações da Polícia Civil. Dessa forma, o médico-cirurgião foi indiciado por homicídio na modalidade culposa, presente no parágrafo 3º do artigo 121, combinado com o artigo 18, que trata do crime culposo, ambos previstos no Código Penal.

Em nota, as assessorias jurídica e de comunicação do médico afirmaram que o médico "nega de maneira veemente que tenha agido com imprudência ou negligência na condução do caso, o que ficará demonstrado no decorrer da apuração dos fatos". O texto diz ainda que a apuração dos fatos transcorre o percurso normal e caso a denúncia seja oferecida e aceita pela Justiça, este será o momento em que o médico poderá apresentar sua versão dos fatos. 

Leia a nota do médico na íntegra

"O médico Benjamim Alencar, por meio de suas assessorias jurídica e de comunicação, afirma que a apuração dos fatos transcorre seu percurso normal, ou seja, após o relato do inquérito policial, os autos são encaminhados ao Ministério Público, que poderá requerer à autoridade policial a realização de novas diligências, solicitar o arquivamento da investigação ou oferecer a denúncia.

Caso a denúncia seja oferecida, os autos serão encaminhados a um Juiz de Direito, que poderá aceitá-la ou rejeitá-la. Em caso positivo, inicia-se uma ação penal, momento a partir do qual o Dr. Benjamim poderá apresentar a sua versão dos fatos e apontar todos os esclarecimentos pertinentes de maneira detalhada nos autos. De qualquer forma, desde já, o médico Benjamim Alencar nega de maneira veemente que tenha agido com imprudência ou negligência na condução do caso, o que ficará demonstrado no decorrer da apuração dos fatos", diz o texto.

Causa da morte

Liliane Amorim foi internada depois de sofrer complicações após a realização de uma cirurgia plástica, ocorrida no dia 9 de janeiro deste ano. Ela faleceu em uma unidade hospitalar, no Centro de Juazeiro do Norte, no dia 24 de janeiro, dez dias após dar entrada na emergência do hospital, se queixando de dores.

Os primeiros levantamentos indicaram que a cirurgia plástica, a qual a vítima se submeteu, foi realizada em uma unidade hospitalar na cidade do Crato. Dessa forma, após o registro da ocorrência na delegacia de Juazeiro do Norte, o caso foi transferido para a delegacia do Crato, que concluiu as investigações.

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No último dia 1º de fevereiro, a Polícia Civil do Ceará recebeu da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) o laudo cadavérico que apontou a causa da morte da digital influencer. O documento com 12 páginas mostrou que houve choque séptico de foco abdominal e infecção de partes moles, decorrente de lesão intestinal secundária e traumatismo abdominal penetrante, provocado por instrumento perfurante. Com o documento, os policiais civis da Delegacia Regional do Crato seguiram com as investigações sobre o caso que resultou no indiciamento do médico.

O delegado Luiz Eduardo explicou ainda que o laudo da Pefoce foi fundamental para as investigações. “O grande auxílio da Pefoce, que fez um laudo bem detalhado e sistemático, permitiu com que a gente concluísse que tudo (a morte) começou com a perfuração (ocorrida durante a cirurgia)”.

Ouça o podcast 'É Hit', com João Lima Neto: 

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