Na rede municipal de ensino, atividades presenciais serão retomadas de forma “gradual e escalonada” a partir de setembro
“Torço pelo retorno, ninguém aguenta mais aula online.” Essa é a resposta imediata de Pedro Monteiro, 37, professor de duas escolas municipais de Fortaleza, quando questionado sobre a expectativa para voltar ao ensino presencial, no dia 8 de setembro.
O retorno “escalonado e gradual” das turmas às salas de aula foi anunciado na manhã desta segunda-feira (26) pelo prefeito de Fortaleza, Sarto Nogueira, e pela secretária municipal de Educação, Dalila Saldanha.
A retomada seguirá protocolos sanitários rígidos, mas, ainda assim, preocupa os docentes. “Estamos vacinados, mas a meninada não, e vai estar transmitindo. Muitos pais com quem conversei dizem que não vão mandar os filhos. Vamos ter que voltar numa redoma de vidro”, lamenta Pedro.
O professor reconhece e defende a necessidade da retomada, mas afirma que os prejuízos pedagógicos e emocionais causados por quase um ano e meio de pandemia – além das desigualdades acentuadas pelo ensino remoto – devem seguir assombrando a comunidade escolar.
Vamos retornar às atividades de conteúdo, mas a parte emocional, do contato, vai continuar prejudicada. Vai ser desafiador em vários aspectos.
Pedro pontua que uma das principais dificuldades será abarcar as demandas de estudantes que não conseguiram acompanhar o ensino remoto de forma adequada. “Muitos se ausentaram. Tenho 500 alunos, 15% a 20% mandaram atividades domingo, porque o pai levava o celular pro trabalho na semana”, relembra.
“Ansiosa para voltar, mas com medo”
Para Josiane Alves, professora de ciências numa escola municipal de Fortaleza, a “falta do contato com o aluno, com a escola” aumenta a ansiedade pelo retorno ao presencial – que esbarra, por outro lado, no medo pela possibilidade de infecção pela Covid.
“A escola está se organizando com os protocolos sanitários, estaremos vacinados, mas lidar com crianças é complicado. Estando numa sala com 15 ou 20 delas, é difícil conter essa organização. Ainda tenho muito medo”, confessa a docente.
Outro receio, compartilhado com Pedro, é pelos desafios pedagógicos e emocionais que o retorno vai impor: “serão alunos diferentes, com muitas mudanças”, como a professora observa.
Do jeito que estava não volta mais. Muitas crianças perderam os pais, tiveram que mudar de casa, a família perdeu a renda, enfim. Serão vários encontros para lidarmos com esses desafios.
O período a ser vivenciado a partir de 8 de setembro exigirá o mesmo que foi imposto aos professores e estudantes em março de 2020: “adaptação”, como resume Josiane, aspecto que não foi realidade para todos.
“Sinto falta de tudo”
Para Lauriana Gomes, 14, “entender algumas matérias”, como matemática e inglês, foi o mais difícil de todos os aspectos do ensino remoto. “Foi bem complicado, prefiro as aulas presenciais. Quero que volte logo”, exclama a aluna do 8º ano do ensino fundamental.
Entre todas as coisas de que sente saudades, a socialização com os amigos, inclusive nos momentos de resolver exercícios em conjunto, é a maior.
Sinto falta de tudo. Da hora da merenda, das brincadeiras. De quando a gente se juntava pra fazer tarefas, porque com várias opiniões dava pra entender melhor, coisa que online é bem difícil.
O estudante Lucas Sousa, 13, que também cursa o 8º ano na rede municipal, confessa que o que mais espera é “conseguir assistir aula direito”. Segundo ele, a instabilidade da conexão à internet tornou o aprendizado mais complicado.
“Acho que na sala dá pra entender melhor o que o professor explica, principalmente em matemática. E no colégio tem os meus amigos, faz muita falta também”, complementa.
Cronograma de volta às aulas
O segundo semestre letivo de 2021 das escolas municipais terá início no dia 29 deste mês, ainda de forma remota. Até o dia 13 de agosto, profissionais da educação e familiares passarão por formações para o novo momento, de acordo com a prefeitura.
Entre os dias 17 e 27 de agosto, será realizada uma avaliação diagnóstica para “identificar os níveis de aprendizado dos estudantes”, como explica a secretária Dalila Saldanha. A atividade será presencial, com duas séries escolares avaliadas a cada dia.
A fase de testes das aulas presenciais, então, começa em 8 de setembro, por etapas:
1ª etapa: vão às escolas turmas do Infantil III, V e 1º e 2º anos do Ensino Fundamental, cerca de 33% dos alunos matriculados;
2ª etapa: inclusão dos alunos do Infantil I e II e 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental, cerca de 61% dos estudantes da rede municipal;
3ª etapa: volta dos estudantes dos 6º, 7º, 8º e 9º anos e da Educação de Jovens e Adultos, completando 100% dos alunos.
No dia 20 de setembro, metade dos 240 mil alunos matriculados na rede municipal estará em aula presencial; e a outra metade, em ensino remoto. A cada semana, ocorrerá o revezamento entre elas.