Projeto ‘Adote uma comunidade’ cria rede de apoio durante pandemia no Grande Bom Jardim

Ao todo, 26 lideranças comunitárias estão envolvidas no cuidado. Entre as ações estão o mapeamento de pessoas em vulnerabilidade para o recebimento de cestas básicas e de kits de higiene

Escrito por Redação ,
Foto Projeto Comunitário
Legenda: A ação, que começou pequena, ganhou adesão ao longo da pandemia

Ajuda para quem precisa no momento em que mais precisa é o propósito da campanha “Adote uma Comunidade”, projeto da Rede de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável do Grande Bom Jardim (DLIS), em Fortaleza. Desde março, o grupo mobiliza lideranças para reduzir o impacto da pandemia de Covid-19 na periferia. Além do apoio da comunidade, o projeto já recebeu ajuda também de outras iniciativas, como a Cruz Vermelha Internacional.  

Para chegar com mais facilidade às famílias vulneráveis, a Rede DLIS dispõe de um mapeamento colaborativo, alimentando pelas 26 lideranças comunitárias que fazem parte do projeto. As informações são dos bairros Granja Portugal, Granja Lisboa, Canindezinho e Siqueira, que compõem a região e estão entre os mais afetados pela pandemia na Capital. “Construímos essa corrente porque já somos uma região com grande índice de vulnerabilidade. Nosso primeiro pensamento quando começou a pandemia foi a fome no nosso bairro”, relembra Lucia Albuquerque, assistente social e coordenadora da rede DLIS. 

A força-tarefa traz um resultado numérico. De acordo com a equipe, pelo menos 30 mil famílias já foram beneficiadas pela corrente — o equivalente a 10% da população do Grande Bom Jardim. “Por aqui, segundo o IBGE, somos 210 mil pessoas. Só com essa união alcançamos, entre conscientização e distribuição de cestas, umas 30 mil casas” comemora Rogério Costa, membro da comissão de articulação da Rede DLIS.   

O arrecadado auxilia na montagem de cestas básicas e kits com produtos de higiene. A ação, que começou pequena, ganhou adesão ao longo da pandemia. “Começamos com 8 equipes, mas agora somos 18 grupos” comemora Lucia. “No início, conseguimos arrecadar R$ 8 mil para montar os kits, além de outras doações. Em maio recebemos apoio do Instituto Unibanco para aumentar o nosso alcance, o que foi muito importante”, completa.    

O Instituto Unibanco é uma Organização Sem Fins Lucrativos paulista que oferece suporte para iniciativas comunitárias no Brasil. Quem fez a conexão com o Grande Bom Jardim foi um ex-morador da região, conhecido de Lúcia. “Ele morou aqui no Bom Jardim e foi para São Paulo. Soube da nossa rede e levou para a Organização. Eles entraram em contato com a gente e conseguimos expandir nosso serviço, principalmente o de distribuição de cestas básicas. Estamos trabalhando por fase. Em cada uma distribuímos mais 2.100 cestas básicas”, calcula.   

Contato 

Para distribuir as cestas, é preciso organização. “Nós temos um diferencial de ter essa corrente e muito apoio”, explica Rogério. “Nossas cestas são bem completas e ainda levamos máscaras e kits de higiene, tudo comprado no comércio do bairro, em lojas de pequeno e médio porte, para fortalecer a economia local”, explica.    

A partilha dos kits é feita por meio das lideranças comunitárias, cada uma responsável por receber e mapear as famílias necessitadas. 

A Associação Espírita de Umbanda São Miguel é parceira de longa data da DLIS, desde 1996, e realiza a distribuição no bairro Granja Lisboa. Segundo o vice-presidente, Miguel Ferreira Neto, mais conhecido como Pai Neto, a maioria das famílias atendidas já eram inscritas em um dos projetos da casa, chamado Vivendo com Amor. Entretanto, por causa da pandemia, o total de assistidos passou de 40 para 105, o que deu inicio à uma nova triagem.  

“Quando começou a pandemia, a procura amentou. Nós atendemos famílias que vivem próximo à associação e a gente foi fazendo o levantamento. Inicialmente nós recebemos famílias que não recebiam cesta da Prefeitura e idosos. Depois iniciamos com os que recebiam também, mas que não tinham outra fonte de renda. Por último, incluímos as pessoas que tiveram coronavírus”, disse. 

Ele acrescenta que a cestas podem ser distribuídas nas casas das famílias, para quem tem dificuldade de andar, ou entregue na Associação. “De qualquer jeito, para evitar tumulto, nós chamamos por ordem alfabética através do grupo no WhatsApp”.  

Para Rogério, o carinho é o que motiva a continuar com as ações. “Levamos muita coisa na cesta. As pessoas que recebem ficam muito felizes. Uma vez, a moça que recebeu falou que não sabia o que iria fazer de almoço se não tivesse recebido o kit. Isso é o que estimula a continuar esse tipo de trabalho. Eu acho que essa é a nossa diferença, é o contato de pertinho”, finaliza, emocionado.  

Parcerias  

Campanhas solidárias de outros estados também colaboraram com a equipe do Grande Bom Jardim. A ‘Adote uma comunidade já recebeu ajuda da iniciativa Favela em Pauta e Instituto Mariele Franco, ambos no Rio de Janeiro. Localmente, a rede conta com o suporte do grupo Ser Ponte, Cooperativa de Crédito do Ceará (SICREDI). O projeto Mentes que Voam realizou treinamentos em manejo seguro de alimentos, além de doar equipamentos de proteção individual para a campanha.   

Entraram como suporte ainda a Cruz Vermelha Brasileira e Internacional. Os órgãos de Saúde não só reforçaram o estoque de máscaras (mais de 400 unidades foram doadas) como realizaram a higienização de partes do bairro.  

 “É uma parceria importante porque nos ajuda em outros setores que não conseguimos. A Cruz Vermelha realizou higienização nos residenciais Leonel Brizola, Miguel Arraes e Juraci Magalhães, e ainda fez ações educativas”, relembra Rogério.   

A conscientização dos moradores também é essencial para a equipe. “Nós temos carro de som fazendo orientação nas ruas aqui da região para falar sobre limpeza e outros cuidados. É pequeno, pode não alcançar muita gente, mas dentro do que podemos tocar estamos fazendo o nosso melhor trabalho”, comemora o coordenador. 

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