Peixes-bois são transferidos para estrutura flutuante pela primeira vez no Ceará

Animais devem ficar por seis meses no ambiente monitorado antes de serem devolvidos definitivamente à natureza.

Escrito por Redação ,
Equipe colocando um dos peixes-bois no espaço reservado onde ficarão 3 meses se adaptando antes de serem soltos no mar
Legenda: Equipe colocando um dos peixes-bois no espaço reservado onde ficarão 3 meses se adaptando antes de serem soltos no mar
Foto: Mika Holanda/Divulgação

Na manhã desta terça-feira (30) a ONG Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis) concluiu a transferência de dois peixes-bois para uma plataforma marinha, localizado na Praia de Peroba, no município de Icapuí, no litoral do Ceará. A estrutura é pioneira no Brasil e será usada para aclimatação, primeiro passo antes do retorno definitivo dos animais para a natureza. O procedimento é pioneiro no Brasil e integra as ações do Projeto Manatí, braço da Associação que realiza resgate de mamíferos marinhos.

Recém-transferidos, os peixes-bois Alva e Maceió estão alocados a 300 metros da costa de Icapuí. “É o que chamamos de tanque-rede, ideal para aclimatação”. A técnica é a fase do resgate em que os animais se adaptam ao ambiente natural de maneira controlada, antes do retorno definitivo para natureza. “Nos outros estados, geralmente a adaptação acontece em mangues, mas fizemos esse local para aclimatar os peixes-bois aqui”, explica Mika Holanda, assessor de comunicação e um dos integrantes da ONG. 

O procedimento abre caminho para que os outros 13 animais em reabilitação no Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos (CRRM) da  Aquasis também voltem ao mar. 

Com todo cuidado, animais fora transferido do Sesc Iparana para um tanque feito especificamente para eles
Legenda: Com todo cuidado, animais fora transferido do Sesc Iparana para um tanque feito especificamente para eles
Foto: Geice Magalhães

O veterinário e coordenador do Programa de Mamíferos Marinhos da Aquasis, Vitor Luz Carvalho, foi um dos responsáveis por acompanhar o processo de deslocamento dos peixes-bois nesta manhã. “Eles foram retirados dos tanques, saíram do SESC Iparana, em Caucaia, em caixas de transporte feitas especialmente para eles junto com um comboio de especialistas e instituições apoiadoras”, explica.

Ambiente

Conforme o coordenador, os animais foram resgatados ainda filhotes nas praias do Ceará e do Rio Grande do Norte e foram levados para a reabilitação. “Esses animais eram soltos em outros estados, mas agora, pela primeira vez, os animais saídos aqui do Ceará vão poder voltar para a população de origem deles”, diz.

Segundo o assessor Mika, manter a população no Estado garante a permanência dos peixes-bois no ambiente em que nasceram. “Os animais que encalham aqui são daqui. Eles não são animais migratórios. Não viajam de uma praia para outra. Elas moram em um determinado local”, conta.

Agora, com as condições adequadas, os cuidados com os animais devem acontecer localmente. “Como a gente não tinha esse espaço para aclimatação, os animais eram resgatados aqui e enviados para outros estados para receber a reabilitação. Isso diminuiu o número de animais locais. Com isso nós garantimos que os peixes-bois resgatados no Ceará permanecem no Ceará”, comemora Mika. 

Alva e Maceió devem permanecer na estrutura por, no mínimo, seis meses. A estadia é necessária para que os animais, criados em cativeiro, ganhem autonomia antes do retorno à natureza. “Eles chegaram pequenos, cuidamos deles esse tempo todo. Agora nesse tanque-rede, eles vão ter que lidar com diversos fatores como maré, algas, vento, sol, com a dinâmica do ambiente”, aponta Mika.

Equipe prepara o animal antes de colocá-lo em espaço para adaptação
Legenda: Equipe prepara o animal antes de colocá-lo em espaço para adaptação
Foto: Mika Holanda/Divulgação

Adequação

A adaptação será acompanhada pelos profissionais da Aquasis. Durante o período no tanque, a equipe avaliará se os peixes-bois estão aptos a retornarem para natureza. “É o primeiro passo para o animal ser devolvido. Verificamos o peso, se estão anêmicos, para saber como eles estão indo. Se evoluírem bem, podemos soltar mas ainda com instrumentos para monitoramento”, conta o assessor.

“As primeiras horas são bem decisivas, é tudo novo pra eles. A equipe vai ficar 48 horas observando”, complementa o veterinário Vitor Luz Carvalho. “É um momento muito esperado, principalmente para a conservação desses animais, para a reprodução e ocupação de novas áreas”.

Caso a adequação de Alva e Maceió seja satisfatória, a Aquasis prevê uma expansão nos cuidados com animais marinhos. “Vamos ter todo o aporte de poder resgatar, reabilitar, e soltar”, confirma Mika. 

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