Uso de celular ao dirigir gera média de 14 multas por dia em Fortaleza; saiba como é a fiscalização
Infrações quase quadruplicaram em 1 ano e se tornaram um dos maiores fatores de risco para acidentes de trânsito
Fila de veículos. Semáforo verde, todos começam a sair do lugar – menos um. Dois, três, quatro, cinco segundos, e nada. A vida se movimenta ao redor, mas a atenção está congelada na tela do celular. E começam as buzinas.
A situação é cotidiana, comum em qualquer via movimentada de Fortaleza, e ilustra apenas um dos efeitos do uso do celular ao volante. A desatenção, porém, pode causar acidentes graves, e já é apontada como um dos principais fatores de risco para sinistros desse tipo.
O Diário do Nordeste conversou com especialistas e autoridades de trânsito para entender os prejuízos desse comportamento cada vez mais comum na cidade.
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O número de infrações por uso de celular ao conduzir quase quadruplicou, entre 2021 e o ano passado: saltou de 1.290 para 5.078 multas aplicadas, de acordo com levantamento da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) solicitado pela reportagem.
Assim, no ano passado, mais de 420 pessoas por mês em Fortaleza foram flagradas praticando a infração, considerada gravíssima pelo artigo 252 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). É uma média de 14 por dia.
O aumento também é atribuído pela AMC ao período de lockdown vivenciado na capital cearense em 2021, que reduziu o fluxo de veículos.
Dirigir com apenas uma das mãos por estar segurando ou manuseando telefone celular é infração gravíssima, gera multa de R$ 293 e penalidade de 7 pontos na habilitação.
Dante Rosado, coordenador da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global no Brasil, lista “top 3” de comportamentos que considera os mais arriscados no trânsito em Fortaleza e em qualquer grande cidade:
- Conduzir com excesso de velocidade;
- Consumir álcool e dirigir;
- Usar celular ao volante/guidão.
“As pessoas estão cada vez mais enfiadas no celular, e celular ao volante não combina. O risco de a pessoa se envolver num acidente, causar um atropelamento, é muito alto. São usuários vulneráveis”, ilustra Dante.
O especialista destaca que, além de fiscalização, campanhas educativas incisivas devem ser intensificadas.
“As campanhas não são para ensinar o que as pessoas devem fazer, mas para convencê-las de que as medidas feitas são importantes. Existe um problema: mortes e lesões no trânsito. E as soluções são essas. É disso que as pessoas precisam ser convencidas.”
Mudança no uso agrava riscos
Não só a frequência, mas o perfil de uso do celular ao dirigir tem mudado, ao longo dos anos. Disraelli Brasil, assessor técnico da AMC, observa que a forma de utilização do dispositivo torna os riscos ainda maiores.
“Antes era só voz, a pessoa segurava o celular junto ao ouvido. Hoje, é mais grave, porque a pessoa abaixa a cabeça para digitar mensagens, ver aplicativos. Fica dirigindo às cegas, podendo atropelar pessoas e causar colisões”, lamenta.
Fortaleza conta, hoje, com três tipos de fiscalização, como lista o assessor técnico da AMC:
- Fiscalização eletrônica, que flagra avanço de sinal vermelho, excesso de velocidade e conversões proibidas;
- Videomonitoramento, por meio da qual agentes de trânsito acompanham a movimentação nas vias;
- Agentes em campo, a bordo das viaturas da AMC.
O uso do celular, se identificado pelos agentes da autarquia, leva à penalização do condutor.
“Na fiscalização, temos foco nos fatores de risco e nas infrações que prejudicam a fluidez da circulação. Temos atenção especial. Mas ações de educação para o trânsito são uma área que trabalhamos muito forte”, garante Disraeli.
A meta, ele resume, é preservar vidas e fazer com que Fortaleza reduza a participação numa estatística preocupante: “é como se no Brasil caísse um avião todos os dias, só de mortes no trânsito”.
Observar, por meio de pesquisas periódicas, o uso de dispositivos móveis ao dirigir, o não uso do cinto de segurança e outras infrações que comprometem a segurança viária está entre as ações previstas pelo Plano de Segurança no Trânsito, lançado em junho de 2022 pela Prefeitura de Fortaleza.
Além de instituir o pacote de medidas, dividido em 4 eixos, a lei municipal nº 11.270 cria o Conselho Executivo de Gestão do Plano, composto por várias secretarias ligadas à estrutura e ao funcionamento da cidade.