Tubarões, raias e quimera: 44,8% das espécies está em algum nível de ameaça de extinção no Ceará
São 26 animais do grupo que também envolve arraias e quimeras afetados por caça e mudanças climáticas
Circulam pelas águas do litoral cearense pelo menos 59 espécies de tubarões, arraias e quimeras, e 27 delas estão em algum nível de ameaça de extinção. Isso representa 44,8% do grupo que precisa de medidas para conservação também por ter um tempo maior para se reproduzir. Além da degradação ambiental, a caça está entre os fatores que prejudicam a conservação dos animais.
As espécies estão detalhadas no inventário da fauna de peixes marinhos da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema). Esse levantamento foi feito com base nos estudos para mestrado em ciências marinhas tropicais em cerca de um ano e meio. Artigos científicos publicados alimentaram as informações da lista.
O levantamento considera dados tanto da lista nacional (ICMBIO/MMA 2018) quanto internacional (IUCN). As classificações são: Vulnerável (VU), Em perigo (EN), Criticamente em perigo (CR).
“Baseada nas avaliações que já foram feitas para o Brasil, e do ponto de vista internacional, a gente chegou ao número de 26 espécies que se encontram em algum nível de ameaça”, detalha a biólogoa, doutoranda em Sistemática Uso e Conservação da Biodiversidade na UFC, Lilian Xavier, responsável pela elaboração da lista dos animais.
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As espécies são classificadas pelo nível de conservação, conforme os critérios adotados pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Confira as espécies ameaçadas de extinção no Ceará:
- Alopias superciliosus: Tubarão-raposa
- Carcharhinus acronotus: Cação-lombo-preto
- Carcharhinus falciformis: Tubarão-lombo-preto
- Carcharhinus leucas: Tubarão cabeça-chata
- Carcharhinus limbatus: Tubarão-galha-preta
- Carcharhinus longimanus: Tubarão-galha-branca
- Carcharhinus obscurus: Cação-fidalgo
- Carcharhinus perezi: Tubarão-dos-recifes
- Carcharhinus plumbeus: Tubarão-galhudo
- Carcharhinus signatus: Cação-noturno
- Carcharodon carcharias: Tubarão-branco
- Galeocerdo cuvier: Tubarão-tigre
- Ginglymostoma cirratum: Tubarão-lixa
- Gymnura altavela: Raia-borboleta
- Isurus oxyrinchus: Tubarão mako
- Mobula birostris: Raia-manta
- Mobula thurstoni: Raia-jamanta
- Negaprion brevirostris: Tubarão-limão
- Prionace glauca: Tubarão-azul
- Pristis pectinata: Peixe-serra
- Pristis pristis: Peixe-serra
- Rhincodon typus: Tubarão-baleia
- Rhinoptera brasiliensis: Raia-beiço-de-boi
- Sphyrna lewini: Tubarão-martelo
- Sphyrna mokarran: Tubarão-martelo-grande
- Sphyrna tudes: Tubarão-martelo
- Sphyrna zygaena: Tubarão-martelo-liso
“A gente fez um levantamento baseado em dados que haviam sido publicados por pesquisadores e inventários feitos por outros cientistas e essas informações compiladas já estão disponíveis”, detalha a pesquisadora. A relação pode ser atualiza à medida em que chegam novas informações sobre os animais.
Das espécies de tubarões, arraias e quimeras do mundo passa pelo Ceará
Na análise dos animais, a espécie hypanus marianae alerta para a necessidade de mais estudos sobre a situação dos animais.
“Ela não está dentro das categorias de ameaça, porque entra em dados deficientes, mas é endêmica da região do Nordeste, que só ocorre aqui. Então, é interessante saber dessas espécies que só ocorrem para essa região, qual o grau de risco no status de ameaça”, aponta.
Os pesquisadores devem fazer novas análises para definir a lista vermelha dos animais ameaçados de extinção, que deve ser publicada pela Sema. Esse processo acontece com a avaliação de outros especialistas.
Lilian buscou pescadores e mergulhadores no Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio para entender as alterações no ambiente da região nos últimos anos. “Uma das observações dos frequentadores desse ambiente é a redução do número de espécies como tubarões”, destaca.
Um dos elementos que poderiam ser trabalhados, principalmente, com pescadores daquela região seria o turismo ecológico para ajudar a conservar uma região tão especial como aquela, que funciona como refúgio para essas espécies
O Parque é uma unidade de conservação onde vivem peixes, golfinhos, tartarugas e corais, por exemplo em uma área de 33,2 km² com até 30 metros de profundidade.
Fragilidade das espécies
Os fatores que prejudicam a conservação das espécies de tubarões, arraias e quimera vão desde poluição a mudanças climáticas. Além disso, os animais maiores, por exemplo, se reproduzem em gestações duradouras e com poucos filhotes.
“Ao longo da evolução do grupo eles mantiveram essa característica da produção de poucos filhotes. Por isso, quando vem uma exploração muito forte em cima deles, rapidamente o declínio é acentuado”.
Por isso a relevância de entender como essas espécies estão sendo afetadas. Essas avaliações devem ter uma periodicidade para que seja possível identificar a variação ao longo dos anos.
“O primeiro passo é saber o que tem e a partir daí aplicamos a metodologia da IUCN com a participação de especialistas”, destaca Vicente.
Pesquisa internacional
O número de tubarões, arraias e quimeras ameaçados de extinção passou de 17,4% para 32% das espécies em 8 anos, como verificou o painel do Projeto de Tendências Globais sobre Tubarões. Os resultados foram publicados pela revista Current Biology.
Parte dos especialistas, Patricia Charvet, professora do Programa de Pós-Graduação em Sistemática, Uso e Conservação da Biodiversidade da UFC, foi a única brasileira a assinar o estudo internacional.
Na análise mais recente, foram observadas 1.199 espécies conhecidas dos 3 tipos de animais. “Os novos números apontam que a gente ainda está com problemas na parte de manejo e conservação de recursos pesqueiros”, alerta Patricia Charvet.
O estudo também mostrou que 3 espécies aquáticas marinhas, considerando elasmobrânquios, que estão possivelmente extintas na natureza já que não têm registro há mais de 30 anos.
Os resultados internacionais devem ser regionalizados numa lista de animais ameaçados de extinção regionalmente. Mas esse olhar de fora sinaliza alguns cuidados necessários para o Ceará.
“Nós devemos buscar a pesca sustentável e o manejo mais adequado, às vezes tendo que limitar o número de embarcações que operam, ou capturas, como é o caso do bacalhau. Então, a gente tem como tomar algumas medidas de precaução relacionadas ao consumo”, aponta.
A gente está em um ponto em que nós ainda conseguimos tomar atitudes, principalmente, em relação ao manejo pesqueiro para que a gente possa continuar usufruindo desse recurso e resgatar esse equilíbrio marinho. A gente ainda está em um ponto reversível