Prédios balançam? Entenda movimentos de edifícios que são previstos desde o projeto

Cálculos estruturais visam a minimizar ação de ventos fortes e a impedir que moradores percebam as movimentações.

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Quanto mais altas são as edificações, mais precisos e minuciosos precisam ser os cálculos de projeto.
Foto: Carlos Marlon

Nesta semana, circulou na internet a informação falsa de que um prédio em construção no bairro Mucuripe, em Fortaleza, estaria balançando e com risco estrutural. O registro, na verdade, é de outro país e foi compartilhado em abril deste ano. Contudo, ele mostra um fenômeno possível: prédios podem, sim, balançar.

Em todo o mundo, as edificações são projetadas seguindo normas técnicas para suportar a ação de ventos fortes e prevenir riscos de fraturas. Porém, especialistas concordam que a sensação para os habitantes ou usuários não deve ser sentida. 

Para explicar melhor o tema, o Diário do Nordeste conversou com o engenheiro civil Edilson Duarte, especialista em Engenharia de Campo, Construção e Montagem, professor universitário e diretor técnico do Instituto Brasileiro de Auditoria de Engenharia (Ibraeng).

Um prédio pode mesmo balançar? É um movimento natural?

Na verdade, não só prédio, mas toda estrutura sempre tem alguns pequenos movimentos. Claro, são na maioria dos casos imperceptíveis a olho nu. Logo, não é natural que eles fiquem balançando, a não ser que sejam prédios projetados para abalos sísmicos de grandes proporções, mas desconheço esse tipo no nosso Estado.

Os ventos do Ceará podem balançar um prédio?

O litoral do nosso Estado é chamado de "Havaí dos ventos” devido aos grandes índices, mas na própria concepção da edificação, existe um cálculo para reforço da estrutura também levando em conta o impacto dos ventos. São aproximadamente de 90 a 100kg/m² de impacto de vento, mas em nenhum momento é para ele fazer com que o prédio se desestabilize ou balance. 

Isso vale para toda construção, ou só a partir de alguns andares?

Quanto mais alta é a edificação, maior é a incidência dessa força atuante dos ventos. Hoje, estamos apreciando verdadeiros arranha-céus na Avenida Beira-Mar, que precisam de um cálculo mais minucioso. Alguns postos de gasolina e estruturas metálicas também precisam levar em conta a ação dos ventos.

Além disso, o estádio Castelão tem uma estrutura propícia para que, quando a torcida comece a fazer impulso, ela possa mexer um pouco. Também temos pequenos movimentos em pontes.

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Quais são as tecnologias empregadas para minimizar a sensação de balanço?

A primeira concepção é de projeto. A própria legislação nos obriga, nas construções, a termos calculado o caminho do vento pela edificação. Eu não “lacrá-lo”, tenho que ter pelo menos a permissão de que ele passe, tem que ser ventilado, até para não criar cortinas de isolamento de vento. Paralelo a isso, temos materiais que se tornam mais flexíveis e permitem que a estrutura possa tremer um pouco.

Há exemplos em outros países de prédios que balançam, mas são seguros?

Nesses, o mais usual é a inserção nas fundações, e no decorrer da estrutura, de verdadeiras molas que fazem que balancem um pouco. Em alguns países e cidades, devido ao alto índice de abalos sísmicos, existe no projeto a obrigatoriedade de instalação de equipamentos e estruturas que possam atenuá-los. Inclusive, esses prédios recebem testes após a construção e antes da habitabilidade.

Vistorias em prédios

Edilson Duarte chama atenção para a importância da manutenção das edificações, com a realização de inspeções prediais para que profissionais especializados avaliem a estrutura do ambiente e sugiram alterações para prevenir anormalidades. Em Fortaleza, a Lei Nº 9.913/2012 estabelece prazos:

  • anualmente, para edificações com mais de 50 anos;
  • a cada 2 anos, para edificações entre 31 e 50 anos;
  • a cada 3 anos, para edificações entre 21 e 30 anos e, independentemente da idade, para edificações comerciais, industriais, privadas não residenciais, clubes de entretenimento e edificações públicas;
  • a cada 5 anos, para edificações com até 20 anos.

 

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