Por que casos de sífilis aumentaram quase 20% no Ceará em 2023; veja sintomas e como prevenir

Doença pode ser “silenciosa” por até 10 anos; 144 cidades cearenses já confirmaram infecções

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Legenda: Os testes rápidos podem ser feitos em unidades da Atenção Básica, como postos de saúde
Foto: Camila Lima

Uma doença cuja prevenção está ligada ao comportamento tem registrado aumento de casos no Ceará: a sífilis, infecção sexualmente transmissível (IST). Neste ano, entre janeiro e julho, foi confirmada no Estado uma média de 386 casos da "sífilis adquirida" por mês.

Ao todo, 2.708 testes positivos para a doença foram contabilizados pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). O número é quase 20% maior que o mesmo período de 2022, quando foram detectados 2.257 infecções. Os dados não incluem sífilis em gestantes nem sífilis congênita.

144
cidades cearenses, incluindo Fortaleza, já registraram casos de sífilis neste ano, conforme a Sesa.

Os casos de sífilis no Ceará têm aumentado anualmente desde 2021: naquele ano, 3.413 pessoas testaram positivo, quase 800 a mais do que em 2020. Já no ano passado, os registros somaram 4.444 pessoas com a IST.

A faixa etária predominante em número de infectados é a de 30 a 39 anos, seguida pela população de 40 a 49 anos, segundo as autoridades de saúde estaduais.

Mas uma informação preocupa ainda mais: de acordo com a Sesa, há uma tendência de aumento de casos de sífilis entre jovens de 13 a 19 anos de idade.

Negligência com a prevenção

O uso correto e regular da camisinha, seja feminina, seja masculina; é a medida fundamental para prevenir a sífilis – mas tem sido negligenciado e “caído em desuso”, como aponta Anuzia Saunders, assessora técnica da Célula de Vigilância Epidemiológica da Sesa.

Ela destaca, ainda, que o aumento da testagem rápida – feito com amostra de sangue da punção digital do dedo – “faz os casos aparecerem”, facilitando o diagnóstico e acelerando a busca por tratamento. 

Entre 2016 e 2022, o número de testes rápidos realizados no Ceará saltou de 94.213 para 211.855.

Com relação à faixa etária, acreditamos que os mais maduros se preocupam mais e acessam mais o serviço de saúde. Não é que estejam mais predispostos: qualquer pessoa que transa sem preservativo está suscetível à sífilis.
Anuzia Saunders
Assessora técnica da Célula de Vigilância Epidemiológica da Sesa

Quanto à crescente de infecções entre adolescentes, Anuzia afirma que “tem sido percebida também em outras ISTs, como HIV/aids, o que pode demonstrar que eles estão começando a atividade sexual mais cedo, mas muitas vezes sem a orientação adequada”.

“É preciso falar de IST pro hipertenso, pro diabético, pro adolescente que está indo atualizar a caderneta de vacinação, nas consultas em geral. Não deixar só pra prevenção ginecológica, atribuindo a responsabilidade à mulher”, sublinha Anuzia.

Quais os sintomas da sífilis

Fortalecer a atenção primária para disseminar informações sobre ISTs é uma das principais estratégias contra a doença, como aponta Anuzia, já que "a sífilis pode levar de 5 a 10 anos para se agravar”.

Os sintomas da sífilis variam de acordo com o estágio da doença, como lista o Ministério da Saúde:

Sífilis primária

  • Ferida, geralmente única, no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca ou outros locais da pele), que aparece entre 10 e 90 dias após o contágio;
  • Normalmente não dói, não coça, não arde e não tem pus; 
  • Pode estar acompanhada de ínguas (caroços) na virilha;
  • Desaparece sozinha, sem tratamento.

Sífilis secundária

  • Aparece entre 6 semanas e 6 meses do surgimento e cicatrização da ferida inicial (da sífilis primária);
  • Podem surgir manchas no corpo, que geralmente não coçam, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés;
  • Pode ocorrer febre, mal-estar, dor de cabeça, ínguas pelo corpo;
  • Manchas desaparecem em algumas semanas, independentemente de tratamento, dando a falsa impressão de cura.

Sífilis terciária

  • Pode surgir entre 1 e 40 anos após o início da infecção;
  • Costuma apresentar sinais e sintomas, principalmente lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.

Por ser uma doença que pode permanecer “silenciosa” por décadas, Anuzia destaca a importância de pessoas sexualmente ativas realizarem testes rápidos ao menos uma vez por ano. A testagem é gratuita nas unidades básicas de saúde.

Como tratar a sífilis

O tratamento da doença bacteriana é feito com aplicação da penicilina benzatina (benzetacil), que poderá ser feita no posto de saúde, como recomenda o Ministério da Saúde. “Esta é, até o momento, a principal e mais eficaz forma de combater a bactéria causadora da doença”, frisa o MS.

Quando a sífilis é detectada em gestantes, “o tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível”, com o mesmo medicamento – que é o único capaz de prevenir a transmissão vertical, ou seja, de passar a doença para o bebê.

Neste ano, até 1º de julho, 1.111 gestantes testaram positivo para sífilis no Ceará – e 563 bebês já nasceram com a infecção, de acordo com monitoramento semanal de notificações da Sesa.

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