‘Verde e amarelo’: convocatória às participantes da Parada pela Diversidade Sexual do Ceará

Nos últimos anos, o brado nacionalista promoveu um fenômeno instigante no Brasil: a presunçosa tentativa de seqüestro de um símbolo nacional por grupos políticos alinhados à agenda ultraconservadora, fortemente mobilizada, dentre outras coisas, pela pauta anti-LGBTQIAPN+

Legenda: Vestidas de verde e amarelo, empunhando a bandeira do Brasil, as cantoras Madonna e Pabllo Vittar fizeram uma apresentação histórica, performando, sob os olhos atentos do mundo, a retomada de um dos símbolos nacionais pela população LGBTQIAPN+
Foto: Reprodução/Instagram

Mayday, mayday! No próximo 30 de junho, a Parada pela Diversidade Sexual do Ceará marchará mais uma vez pela Avenida Beira Mar de Fortaleza. Na coluna dessa semana, convoco quem lá estiver a usarmos, junto à sua bandeira do orgulho LGBTQIAPN+, a Bandeira Nacional Brasileira e suas cores verde e amarelo, afinal, ela também nos pertence! 

Nos últimos anos, o brado nacionalista promoveu um fenômeno instigante no Brasil: a presunçosa tentativa de seqüestro de um símbolo nacional por grupos políticos alinhados à agenda ultraconservadora, fortemente mobilizada, dentre outras coisas, pela pauta anti-LGBTQIAPN+. Aos poucos, o país assistiu a várias passeatas, motociatas e acampamentos antidemocráticos que consolidaram uma identidade estético-ideológica própria, a partir do uso indiscriminado da Bandeira Nacional e do uniforme da Seleção Brasileira de Futebol, criando uma distinção imagética entre os chamados “patriotas” e seus opositores.

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Não é exagero afirmar que essa guerra das cores ganhou tons inimagináveis. A Copa do Mundo FIFA 2022, por exemplo, expôs o desconforto de uma parcela da população em utilizar a camisa canarinho, uma suposta “paixão nacional”, por temer a sua associação a movimentos de extrema direita. Algumas lojas de Fortaleza chegaram até mesmo a comercializar, vejam só, camisetas verde-amarelas com a inscrição “Sou apenas um torcedor”, tamanha a demanda pela demarcação de fronteiras em um cenário de polarização política.

Um novo capítulo desse enredo, porém, começou a ser escrito no último dia 4 de maio, nas areias da Praia de Copacabana (RJ). Vestidas de verde e amarelo, empunhando a bandeira do Brasil, as cantoras Madonna e Pabllo Vittar fizeram uma apresentação histórica, performando, sob os olhos atentos do mundo, a retomada de um dos símbolos nacionais pela população LGBTQIAPN+.

Ainda embebida pelo efeito Madonna, cerca de um mês depois, a maior Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ do planeta, realizada em São Paulo, convocou os seus participantes a ocuparem a Avenida Paulista usando as cores da Bandeira Nacional, aquecendo ainda mais uma importante discussão: afinal, a quem ela pertence?  

Em Fortaleza, a organização da XXIII edição da Parada pela Diversidade Sexual do Ceará também resolveu recomendar o uso do verde-amarelo no dia 30 de junho e adotou o tema “Radicalizar para existir; votar para ocupar”, incentivando a reflexão sobre a necessidade de que, em um ano de eleições municipais, o voto de cada cearense possa se traduzir em participação direta e compromisso político efetivo para com as vidas e direitos fundamentais das populações LGBTQIAPN+.

É evidente, portanto, que não estamos diante uma celeuma meramente cromática, mas da disputa entre distintos projetos de sociedade. A reaproximação dos movimentos sociais LGBTQIAPN+ com o verde-amarelo tem representado a esperança na construção de um senso de pertencimento nacional para grupos sistematicamente hostilizados, defendendo a ideia de que os interesses do país passam, incortonavelmente, pelo fim da discriminação.

A título de curiosidade, a Bandeira Nacional nem sempre foi a mesma. Em 1992, por exemplo, ela incluiu estrelas inexistentes na versão de 1889, representando graficamente estados que surgiram com nova divisão geopolítica brasileira. Esta é apenas uma lembrança de que, como criação humana, uma bandeira está sujeita a ressignificações, tremulando ao vento das mudanças sociais do seu tempo.

Faço então um convite à comunidade LGBTQIAPN+ e às pessoas aliadas a sacudirem o mofo das suas camisas verde-amarelas e a tomarem a Avenida Beira Mar no domingo 30/06 com a sua voz, com seu orgulho e de bandeira em punho, pois ela é de todas, todes e todos os brasileiros.

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