Peixe-leão já está presente em 18 dos 20 municípios de praia do Ceará; confira mapa

O invasor não oferece risco para banhistas, mas come espécies nativas e pode ferir pescadores

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Legenda: Peixe-leão se prolifera com rapidez pelo litoral cearense
Foto: Victor Soares/Reprodução

Em menos de um ano, o peixe-leão avançou no mapa do litoral cearense e foi encontrado em 18 dos 20 municípios de praia do Estado. Em tamanho maior, e numa proliferação impossível de eliminar, cientistas alertam para os prejuízos aos pescadores.

Apenas nas cidades de Itapipoca e Amontada, no litoral Oeste, ainda não foram identificados os bichos invasores, mas isso pode ser resultado da subnotificação. Os pesquisadores ainda não conseguem monitorar todo o litoral de forma independente.

O primeiro registro da espécie invasora no Ceará foi feito no dia 12 de março de 2022 e, desde então, 110 animais foram recolhidos para pesquisas no Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Essas amostras são recolhidas pelos pesquisadores e também com o apoio de profissionais da pesca do Ceará. Os bichos, antes com até 14 cm, agora aparecem com 20 cm de comprimento. Eles aparecem entre 1 e 20 metros de profundidade.

Mesmo sem dados coletados em todas as cidades de praia, é muito provável que a espécie já tenha se proliferado em todo o Estado, como pondera Marcelo Soares, professor do Labomar atuante nos estudos sobre o peixe-leão.

“É como se o bicho tivesse sumido entre agosto e dezembro, porque o vento fica mais forte e a água fica muito turva. Agora começou a aparecer de novo. No Porto do Pecém, esse registro acontece exatamente quando a água começa a clarear de novo”, acrescenta.

Legenda: Espécie invasora ameaça peixes nativos e animais marinhos
Foto: Victor Soares/Reprodução

Ainda não há risco de para os banhistas, porque a maioria dos peixes venenosos são encontrados entre 8 e 15 metros. Eles estão concentrados em áreas de pesca colocadas no mar.

Os registros do Labomar apontam que 58% dos animais foram encontrados em marambaias, que são estruturas colocadas no litoral para atrair peixes nativos, mas que são invadidos pelo peixe-leão. Além de comer os animais, o bicho oferece outros tipos de risco.

Foi numa dessas armações que um pescador cearense pisou num peixe-leão e precisou de assistência médica.

“Os pontos mais críticos, talvez, sejam as principais áreas de pesca, porque se estão crescendo em número, por exemplo a região de Icapuí, Acaraú, Itarema e Camocim, que são bem importantes do ponto de vista da pesca”, analisa Marcelo.

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Avanço do peixe-leão

O peixe-leão tem uma facilidade de se reproduzir num contexto em que não há um predador para reduzir a população do bicho. E esse avanço chegou em áreas importantes como estuário de rios e unidades de conservação ambiental.

Esses espaços são usados pelos peixes nativos e animais marinhos para se reproduzir. Ou seja, o peixe-leão come essas espécies em lugares conhecidos como “berço” da vida marinha.

“É impossível eliminá-lo totalmente agora, porque estão em águas muito fundas. No Norte, já estão a 50 metros e 102 metros na costa do Pará. Ninguém mergulha nessas áreas e, infelizmente, já faz parte da realidade”, frisa Marcelo

Não é possível eliminar, porém isso não quer dizer que não dá para fazer o controle para manter a população do bicho pequena e isso diminui os impactos
Marcelo Soares
Pesquisador

No último fim de semana, os pesquisadores identificaram o invasor na Praia da Boca do Poço, no Paracuru, na Costa Oeste, onde ainda não havia registro oficial. Além disso, foi encontrado um peixe-leão a 65 metros de profundidade do Rio Grande do Norte.

Legenda: Mergulhadores e pescadores abatem peixe-leão
Foto: Victor Soares

Isso indica que a Paraíba, Pernambuco e outros estados nordestinos devem ser invadidos pelo peixe-leão. No Ceará, pescadores e mergulhadores orientados abatem e retiram os bichos durante o trabalho.

Essas coletas também são analisadas no Instituto de Ciências do Mar com apoio, inclusive, de um pesquisador da Califórnia. Os testes são comparados com amostras do Caribe para atestar a origem.

“Nós temos algumas análises genéticas no Amazonas, em Fernando de Noronha e na Costa do Ceará, mas a gente ainda precisa de mais tempo”, aponta Marcelo.

 

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