ITA Ceará: conheça a história do prédio de quase 90 anos que vai sediar o Instituto em Fortaleza

Local foi um dos principais pontos de apoio e patrulhamento do Brasil durante a Segunda Guerra

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Fachada da BAFZ, em 1991.
Foto: Kiko Silva

A Base Aérea de Fortaleza (BAFZ) está prestes a completar 87 anos de serviços prestados ao Ceará e vai abrigar a nova unidade do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA), segundo o presidente Lula confirmou na última sexta-feira (1º). Em quase nove décadas, ela ficou marcada na história da aviação brasileira e permitiu a formação de centenas de militares profissionais.

Criada em 1933 com o nome de 6º Regimento de Aviação, só iniciou oficialmente as atividades em 21 de setembro de 1936, data em que se comemora seu aniversário oficial. O primeiro comandante foi o então capitão aviador cratense José Sampaio de Macedo.

O 6º Regimento foi rebatizado como BAFZ em 22 de maio de 1941, quando a Força Aérea Brasileira (FAB) foi organizada. O prédio tem projeto arquitetônico do húngaro Emílio Hinko, responsável por importantes obras de Fortaleza, como o Náutico Atlético Cearense, a Igreja das Irmãs Missionárias e o Hospital de Messejana.

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Em janeiro de 2022, foi aberto um processo de tombamento do complexo da BAFZ junto ao Departamento de Patrimônio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Atualmente, ele está em instrução, ou seja, processo de pesquisa documental e de campo para confirmar a relevância da proteção.

Patrulha e combate

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a BAFZ participou ativamente do patrulhamento do oceano Atlântico Sul com o uso de caças e bombardeiros. Em 1944, inclusive, ela recebeu o 4º Grupo de Bombardeio Médio.

Segundo o piloto e instrutor de voo Marcelo de Oliveira, em entrevista ao Diário do Nordeste, a posição geográfica do Nordeste brasileiro e sua proximidade com a Europa, África e América do Norte tornaram a região a mais difícil de ser defendida durante a fase de desenvolvimento do Brasil como país.

"Devido às tensões existentes na Europa pós-Primeira Guerra Mundial, no início da década de 30, a Força Aérea Brasileira resolveu implantar o que se tornaria a Base Aérea", contextualiza.

Legenda: Conjunto arquitetônico da Base teve processo de tombamento iniciado em 2022
Foto: Kid Júnior

Desta forma, a BAFZ teve papel importante na defesa do território nacional durante a Segunda Guerra, "pois existiam perigos reais no oceano Atlântico, palco de inúmeras batalhas entre aliados e alemães; e o norte africano, também ocupado por alemães, era muito próximo e exigia igual atenção".

Finalizada a Guerra, o Grupo deu origem ao Esquadrão Pacau, criado em 1947, considerado a “Sorbonne da Caça”. O apelido lembra uma famosa universidade francesa, aludindo à dedicação da formação de pilotos de ataque. 

Em 1958, a Base recebeu seus primeiros jatos. Em 1986, virou sede do 5° Esquadrão do 1° Grupo de Comunicação e Controle, para operar e manter um sistema de controle por radar em Fortaleza, auxiliando aeronaves em situações adversas, operacionais ou meteorológicas.

Na observação de Marcelo de Oliveira, a Base Aérea de Fortaleza foi "fundamental no desenvolvimento da sociedade cearense e da aviação regional, através de sua influência na formação de pilotos da aviação civil e implementação de tecnologias de navegação aérea da região". 

Legenda: Prédio do Comando da BAFZ
Foto: Kid Júnior

Mudança nas unidades

Em janeiro de 2002, o Esquadrão Pacau foi transferido da BAFZ para a Base Aérea de Natal (BANT). Em retorno, Fortaleza recebeu o Esquadrão Rumba, dedicado a formar pilotos de patrulha, transporte e reconhecimento. Porém, em outubro de 2013, este também foi transferido para a capital vizinha.

Já em dezembro de 2021, o Esquadrão Pacau foi desativado após 74 anos de atividade. De Natal, ele foi realocado para Manaus, onde trabalhou por 11 anos na patrulha da região amazônica. A decisão foi justificada dentro de um “processo de reestruturação da FAB”.

Atualmente, informou a Força Aérea Brasileira (FAB), a BAFZ executa atividades de preparo, gestão e suporte “necessárias ao funcionamento das Organizações Militares de sua área de atuação”. Compõem a Base:

  • Comando (CMDO)
  • Grupo Operacional (GOP)
  • Grupo de Serviços de Base (GSB)
  • Grupo Logístico (GLOG)
  • Grupo de Segurança e Defesa (GSD)
  • Grupo de Saúde (GSAU)
  • Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Fortaleza (DTCEA–FZ), responsável pela vigilância e controle da circulação aérea geral no Terminal de Fortaleza. 

A BAFZ também presta apoio a aeronaves e tripulações em trânsito, sejam em missões de preparo ou de emprego, no Aeroporto de Fortaleza. O piloto Marcelo de Oliveira ressalta sobretudo a prestação dos serviços da Base no controle de tráfego aéreo e na manutenção dos sistemas de navegação aérea, que “balizam” inclusive rotas aéreas internacionais.

"Creio que as instalações internas da BAFZ, justamente por ter sediado tantos Esquadrões Aéreos, ainda possa dispor sim de uma boa estrutura que possibilite viabilidade na implantação do ITA. Creio também que, pelo fato de estar localizada em terreno adjacente ao do Aeroporto Internacional de Fortaleza, possa haver um maior atrativo para tal implantação visto que o Instituto, em grande parte, tem seu foco no desenvolvimento de tecnologias aeronáuticas", finaliza Marcelo.

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