De Aldeia a Cidade, conheça a história de Caucaia que hoje celebra 263 anos; veja imagens
Segundo maior município em população do Ceará vive processo de modernização recente
A maternidade onde nasci em 1995, no Centro de Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza, não existe mais. Aliás, foi transformada em uma clínica popular, refletindo a modernização pela qual a cidade passa com mais intensidade nas últimas duas décadas - um período importante de sua história de 263 anos, comemorados neste 15 de outubro.
Caucaia é o segundo maior município em população do Ceará, com quase 369 mil habitantes, conforme a última projeção do IBGE, de 2021. O crescimento demográfico permitiu que a cidade tivesse segundo turno nas eleições municipais, pela primeira vez, em 2016. As regras eleitorais só permitem isso em municípios com mais de 200 mil eleitores.
Embora territorialmente colada a Fortaleza, a cidade tem cenários bem diferentes. Ou, como minha mãe fala sempre, Caucaia é 'praia, serra e sertão'. A cara de cidade grande fica mais no Centro e nos distritos mais ligados à Capital, como a Jurema.
Por outro lado, bairros praianos como Icaraí, Tabuba e Cumbuco despontam como destinos turísticos importantes. Os distritos de Tucunduba e Catuana guardam as principais serras. Sítios Novos e Bom Princípio, embora de nomes suaves, representam o cenário mais distante e árido do município.
Francisco Antonio Cavalcanti, o padre ‘Tula’, registra na memória as mudanças pelas quais Caucaia passou desde que ele nasceu, em 1950. Naquela primeira década, o historiador e filósofo considerava a cidade “provinciana, muito dependente de Fortaleza”. A economia se dava basicamente pela agricultura e alguns comércios.
À época, a Igreja Matriz ainda era o principal ponto de referência do povo caucaiense. Foi a fundação de “grandes escolas” na década de 1960 que passou a atrair famílias para o município e fazê-lo crescer.
Mas o crescimento se tornou “desordenado”, principalmente após a construção do Porto do Pecém e da chegada de novas indústrias, na visão do padre. Isso acelerou a conurbação - fenômeno em que duas cidades vizinhas crescem a tal ponto que se invadem.
“Hoje, ninguém sabe mais o que é urbano e o que é rural, que praticamente está só no sertão. Ninguém sabe mais o que é Fortaleza e o que é Caucaia, e ainda tem áreas emendadas com Maranguape”, percebe.
Para a bibliotecária Ana Thays Soares, 27, nascida e criada em Caucaia, também é evidente a multiplicação de novos empreendimentos, tirando o ar de que “todo mundo sabia quem era o ‘Seu Zé’ da mercearia ali da esquina” e deixando de lado a antiga opinião de que Caucaia é uma cidade-dormitório.
Cada vez mais vejo pessoas firmando seu local de trabalho na cidade, e Caucaia tem se desenvolvido em relação a isso, em ter um mercado de trabalho mais amplo, o que proporciona a muitas pessoas trabalharem na cidade e não ter que se deslocar até Fortaleza.
Tanto a bibliotecária quanto o padre enxergam pontos importantes de melhoria na cidade. Ela, a necessidade de superar deficiências na educação, uma vez que muitos estudantes migram para a Capital em busca de “um ensino de qualidade”. Ele, o controle da violência que tomou grandes proporções nos últimos anos.
História de Caucaia
Segundo o IBGE, Caucaia foi um dos primeiros núcleos de população do Ceará, com povoamento iniciado pelos jesuítas Luís Figueiras e Francisco Pinto a partir de 1735. Os padres da Companhia de Jesus conseguiram aldear os indígenas da região e transformá-los em auxiliares da missão. Como Aldeia, ficou na dependência da Vila de Fortaleza.
Porém, após divergências com os jesuítas, o Marquês de Pombal ordenou suprimir todas as Aldeias administradas pela Companhia de Jesus no Brasil e elevar as aldeias indígenas que se encontravam sob a orientação dos jesuítas a vilas.
Assim, a Aldeia de Caucaia recebeu o nome de Vila Nova Real de Soure (nome de uma localidade portuguesa no distrito de Coimbra) por determinação da corte portuguesa, sendo oficializada em 15 de outubro de 1759. A Câmara Municipal se reuniu pela primeira vez dois dias depois.
Demoraria mais 184 anos para que Soure recebesse a denominação de Caucaia, concretizada por decreto-lei de 1943.
Com a criação da Região Metropolitana de Fortaleza, em 1973, Caucaia expandiu-se como centro habitacional e industrial. Em divisão territorial de 1991 que dura até hoje, o município é constituído de 8 distritos: Caucaia (Centro), Bom Princípio, Catuana, Guararu, Jurema, Mirambé, Sítios Novos e Tucunduba.
A área em que hoje se situa o município é marcada pela presença histórica de dois povos indígenas: Tapebas e Anacés. Também é o município com o maior número de representação de quilombos no Estado, tendo 11 comunidades reconhecidas oficialmente pela Coordenação das Comunidades Quilombolas do Ceará (Cerquice).
O padre Tula é entusiasta de projetos de memória para o município, mas reconhece as dificuldades para que eles saiam do papel.
“Manter nossa identidade como povo de Caucaia é muito difícil porque o próprio povo não resguarda e nem quer resgatar essas origens, e um povo que não tem passado está fadado ao fracasso. É preciso fazer um trabalho de reorganização cultural”, sugere.
Significado de Caucaia
Caucaia é uma denominação de origem indígena e tem duas linhas de interpretação. A mais antiga e corrente fala de "mato queimado", derivada de caa (mato) e caia (queimado). A outra, revisão mais recente, aponta como "vinho queimado": cau (vinho de caju) e caia (queimado).
Curiosidade: nas redes sociais, há anos existe uma brincadeira chamando a cidade de “Coucoio”, por causa do formato de um letreiro posto na entrada da cidade por uma gestão municipal.
Outros nomes curiosos incluem os de bairros como Garrote, Cipó, Grilo, Açude, Cigana e Curicaca. No entanto, os mais famosos devem ser “Jurema, Araturi até o Balão do Metrópole”, ditos por topiqueiros do Centro à Avenida Bezerra de Menezes chamando os passageiros desse percurso.
Pontos turísticos
Igreja Matriz
A Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres, padroeira do município, foi concluída pelos colonizadores em 1749, dez anos antes da fundação da cidade. Em 1871, foi elevada a Paróquia. Atrativo histórico e cultural, possui uma grande torre e naves laterais. A imagem atual de Nossa Senhora dos Prazeres chegou em abril de 1906.
Mercado Municipal
O Mercado do Povo Juaci Sampaio Pontes, no Centro, foi fundado em 1989 e reformado em 2019. Oferece dezenas de serviços: cabeleireiros, consertos de eletrônicos em geral, venda de panelas, roupas, remédios tradicionais, utensílios para casa, hortaliças, frutas e carnes. É um dos pontos mais movimentados da cidade de segunda a sábado.
Parque Estadual Botânico
Criado em 1996 e localizado a 15 km de Fortaleza, tem 190 hectares de mata de tabuleiro, caatinga, cerrado, mata atlântica e manguezal. Na área, são permitidos a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação, recreação e turismo ecológico. A programação inclui oficinas, cursos, exposições, trilhas guiadas, campanhas e capacitações.
Biblioteca Pública/Casa de Câmara e Cadeia
A Biblioteca Municipal Professor Martinz de Aguiar se localiza no prédio onde antigamente funcionava a Casa de Câmara e Cadeia, próximo à Igreja Matriz. O sobrado foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e restaurado em 1967 e em 1987, quando o espaço foi adaptado para funcionar como biblioteca.
Praias do Icaraí e Cumbuco
A cerca de 30km de Fortaleza, as praias são queridinhas por turistas e praticantes de esportes aquáticos, como surf, kitesurf e windsurf. É possível realizar diferentes passeios de buggy, além de aproveitar barraquinhas, restaurantes e pousadas com lanches e bebidas.
Barra do Cauípe
Menos conhecida, mas também bastante visitada, é famosa por passeios e piqueniques aos fins de semana por ser um encontro entre lagoa e mar. Tem pequenos bares que servem petiscos e bebidas.
Cachoeira da Tucunduba
Com entrada pela BR-020, as cachoeiras são passeios recomendados a quem busca um cenário mais calmo do que as praias. Há pequenos balneários que servem comidas e bebidas.
Museu do Caju
Criado em 2007, no bairro Parque Guadalajara, reúne centenas de obras de artes com a temática do caju. O acervo é composto por fotografias, literatura de cordel e produtos derivados do caju e da castanha.