Chuvas 'acima da normalidade' reduziram áreas com seca no CE em fevereiro, aponta Monitor de Secas

A seca no sul do Ceará passou de grave para moderada, conforme levantamento fechado no final de março

Escrito por Gabriela Custódio , gabriela.custodio@svm.com.br
Vista aérea do açude Umari
Legenda: Construído em 2011 no município de Madalena, o açude Umari ultrapassou o volume máximo de 30 milhões de m³ e sangrou pela primeira vez na última quarta-feira (3)
Foto: Divulgação / Cogerh

As áreas com seca fraca e moderada, no norte e no centro do Ceará, tiveram redução em fevereiro devido às chuvas “acima da normalidade”. Enquanto isso, no sul do Estado, foi registrado o abrandamento da seca, que passou de grave para moderada. As informações são do Monitor de Secas, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), atualizado no dia 20 de março.

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O Monitor de Secas acompanha as secas no Brasil continuamente, a partir de informações disponibilizadas até o mês anterior por instituições estaduais e federais, com base em indicadores que refletem o curto prazo (últimos 3, 4 e 6 meses) e o longo prazo (últimos 12, 18 e 24 meses).

Ele aponta características como a severidade e a evolução espacial e temporal, além dos impactos sobre diferentes setores. A ferramenta classifica a severidade do fenômeno em cinco categorias, em que S0 indica seca fraca e S4, seca excepcional.

No levantamento referente a fevereiro, o Monitor aponta que a seca no sul do Ceará passou de grave (S2) para moderada (S1) e que os impactos no Estado permanecem de curto prazo. Conforme a classificação de severidade, a seca moderada pode levar a alguns danos a culturas e pastagens; córregos, reservatórios ou poços com níveis baixos e algumas faltas de água em desenvolvimento ou iminentes, além de restrições voluntárias de uso de água solicitadas.

No Nordeste, em geral, também houve uma “melhora generalizada da condição de seca”, marcada por “expressiva redução” da área com seca moderada na maior parte dos estados e pelo recuo da seca fraca em parte da região litorânea. Além do Ceará, o abrandamento da seca de grave para moderada também foi percebido na Bahia, em Pernambuco e no Piauí.

Os únicos estados brasileiros em que 100% do território se encontrava, na época do levantamento, em condição “sem seca relativa” foram Santa Catarina (SC) e Rio Grande do Sul (RS).

CHUVAS NO CEARÁ EM 2024

Após começar o ano com registro de chuvas abaixo da média em janeiro, o Ceará teve o mês de fevereiro mais chuvoso nos últimos 17 anos. Em 2024, as chuvas de fevereiro somaram 230,5 mm — 90% a mais do que a normal. Antes disso, a maior precipitação para o mês foi em 2007, com 245,1 mm — 102% acima da normal.

Já o mês de março teve precipitações em torno da média. No mês passado, foram registrados 233,8 mm — 13% acima da normal climatológica. Esse valor foi o menor para o mês desde 2021.

Os próximos dois meses de quadra chuvosa no Ceará — abril e maio — podem terminar com precipitações “dentro da normalidade”. A informação foi concedida pelo doutor em Meteorologia e pesquisador da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Francisco Vasconcelos Júnior, em entrevista ao Diário do Nordeste na terça-feira (2).

De acordo com ele, “todos os grandes centros de pesquisa do País estavam indicando um alto risco de termos uma seca, mas as coisas mudaram muito rápido”. No último janeiro, o prognóstico da Funceme apontou 45% de probabilidade de chuvas abaixo da média no Ceará entre fevereiro e abril e 40% de chance de precipitações dentro da normalidade.

Ele explicou que os impactos do El Niño, que prejudica as chuvas no Ceará, foram atenuados pela temperatura dos oceanos. “O Atlântico Tropical está quente, muito quente. Esse foi o principal motivo para que, mesmo dentro do El Niño, tenha havido essas chuvas mais expressivas”, afirmou.

AÇUDE UMARI SANGRA PELA PRIMEIRA VEZ

A quarta-feira (3) foi marcada por um fato inédito em Madalena, município localizado no sertão de Quixeramobim: o açude Umari, construído em 2011, sangrou pela primeira vez. As águas do reservatório ultrapassaram o volume máximo de 30 milhões de m³.

O açude faz parte da sub-bacia do Banabuiú, na região central do Estado, que está com mais de 39% das reservas totais preenchidas, segundo informações da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). Ao todo, 45 açudes cearenses monitorados estavam vertendo até a sexta-feira (5).

“É sempre bom lembrar que vivemos em uma região semiárida, então é preciso usar a água de forma econômica para, nos anos que não houver tanta recarga, possamos desfrutar de sua maior disponibilidade”, informou Yuri Castro, presidente da Cogerh, em comunicado da Companhia.

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