Acidente com jovem em terminal de ônibus faz vítima de caso semelhante reviver dores

"Depois de uns dois anos que eu vim andar de ônibus", declara jovem vítima em 2013. No último sábado, mulher morreu no Siqueira imprensada por veículos

Escrito por João LIma Neto , joao.lima@svm.com.br
Atualmente, Ana Caroline segue carreira de fisioterapeuta
Legenda: Atualmente, Ana Caroline segue carreira de fisioterapeuta
Foto: Arquivo Pessoal

A fisioterapeuta Ana Caroline Lima Monteiro, 26, reviveu sentimentos e dores ao ver as cenas da jovem Joyciane Silva, 20, que morreu imprensada por um ônibus nas grades da entrada do Terminal do Siqueira. Em 2013, aos 17 anos, ela passou por acidente semelhante.

Em 17 de outubro daquele ano, Ana Caroline foi imprensada por dois ônibus ao tentar chegar em uma plataforma do Terminal da Parangaba após descer em uma das entradas de ônibus.

Ana Caroline conta detalhes de acidente:

Ana estudava no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), no curso técnico de Meio Ambiente, em Maracanaú. Ela passava no Terminal da Parangaba para pegar um ônibus intermunicipal, do lado de fora do equipamento.

"No dia do acidente fiz minha rotina normal. Era umas 17h, quando eu peguei o ônibus 362, que saía do bairro Manuel Sátiro e ia para Parangaba. Nesse dia, estava bem lotado, como sempre", lembra Ana Caroline.

A fisioterapeuta conta que, ao chegar ao terminal, o ônibus parou na entrada em fila com outros veículos. Na época, a catraca ficava na parte de trás ela não tinha passado ainda.

Desci após pagar passagem. O 362 - Siqueira / Vila Manoel Sátiro / Parangaba estava parado. Eu estava encostada nele para ver se vinha algum ônibus, quando fui olhar veio o 38 - Parangaba Papicu e me imprensou. Ele reduziu a velocidade e saiu imprensando. Não conseguia fazer gesto nenhum, meu rosto ficou virado para frente. Fiquei cianótica
Ana Caroline Lima Monteiro
Fisioterapeuta

A pressão exercida contra Ana Caroline, entre os dois ônibus, fez ela ter costelas quebradas, além de problemas respiratórios. Ela ainda sofreu uma hemorragia interna. 

Ao ser retirada do local do acidente, Ana Caroline chegou a desmaiar. Uma enfermeira, passageira de outro ônibus, informou a necessidade de hospitalização da jovem.  

Por força do destino, a irmã de Ana Caroline estava passando no terminal no momento e acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Ana Caroline ficou internado no IJF, em Fortaleza
Legenda: Ana Caroline ficou internado no IJF, em Fortaleza
Foto: Arquivo Pessoal

Cirurgias seguidas para controle de hemorragia

No Instituto José Frota (IJF), a fisioterapeuta ficou cerca de um mês e 12 dias em internação. "Eu tive três altas médicas, mas minha mãe não acreditava que eu estava bem. Por fim, foi descoberta minha hemorragia no fígado".

Passei por duas cirurgias, em menos de 72 horas, pois tive hemorragia de último grau. Graças a Deus foi o fígado, porque ele consegue se regenerar em seis meses. O grande desafio era não apresentar quadro de infecção.
Ana Caroline Lima Monteiro
Fisioterapeuta

Até hoje, Ana Caroline tem sequelas do acidente. Ela teve a capacidade respiratória reduzida. "Acabei tendo a criação de um tecido que fica bem aderido na superfície dos meus órgãos na região abdominal. Eu tenho hoje problemas como constipação e minha capacidade respiratória também foi afetada".

Novo acidente trouxe dores

Ônibus atravessam o Terminal do Papicu, em Fortaleza. Ao fundo, uma ambulância do Samu.
Legenda: Mulher ficou presa entre o ônibus e as grades do Terminal do Siqueira.
Foto: Carlos Marlon

Ana Caroline estava indo realizar um trabalho na igreja que atua quando foi informada por uma amiga sobre o acidente com a jovem Joyce Silva no Terminal do Siqueira, no sábado (21). Segundo a fisioterapeuta, as memórias do que ela passou despertaram.

"Vi um filme na minha cabeça, fiquei nervosa, minha frequência cardíaca aumentou. Tudo veio na minha cabeça. Falei com minha mãe: 'Infelizmente, a Joyce não teve a mesma dádiva de sobreviver'. Foi difícil observar a situação dela", declarou Ana Caroline.

Na época do acidente, a família de Ana Caroline priorizou o atendimento médico e o tratamento da filha. Por isso, de imediato, eles não buscaram ir à Justiça contra a empresa.

Hoje, não passo entre dois ônibus de jeito nenhum, eu passo longe. Porque, para mim, vai acontecer a mesma coisa, mesmo em um contexto diferente. Eu passei mais de um ano sem andar de ônibus. Meu pai ia me deixar e buscar. Depois de uns dois anos que eu vim andar de ônibus
Ana Caroline Lima Monteiro
Fisioterapeuta

Depois do acidente com Joyce, a fisioterapeuta pensa em retomar o processo contra as empresas de ônibus. Segundo ele, o objetivo não é financeiro, mas evitar novos acidentes nos terminais. 

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