Vitrines da CeArt servem como espelho para juventude dançar: ‘Gambiarra pra suprir carência’

Grupos de K-Pop chegam de vários bairros de Fortaleza e da Região Metropolitana para garantir ensaios quando equipamentos públicos estão fechados

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: O grupo de K-pop Rainbow+ passou a utilizar as vitrines da CeArt para dançar sobretudo aos domingos, quando os Cucas estão fechados
Foto: Kid Júnior

Quem passa aos domingos pela praça Luíza Távora, na Aldeota, presencia uma cena inusitada. De manhã até a tarde, jovens se utilizam das vitrines da Central de Artesanato do Ceará (CeArt) para dançar. O reflexo provocado pelas vidraças forma um grande espelho, no qual é possível visualizar movimentos, posturas e coreografias.

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“A liderança do grupo organiza os horários e dias, e depois repassa aos demais membros com antecedência”, explica Wic Saboia, 23. O grupo citado pela estudante de Estética e Cosmética se chama R&D Dance Group (Runners & Dreamers), especializado em K-Pop. Formado por 25 membros, entre 15 e 28 anos, começou a realizar ensaios na Luiza Távora em 2019.

De lá para cá – afetados pela pandemia de Covid-19 e desejosos de dançar em lugar aberto – os integrantes aumentaram a frequência de idas ao espaço, aparentemente sem motivo específico, apenas pelo prazer de movimentar o corpo. E eles vêm de todas as partes da cidade: do Aracapé ao Joaquim Távora, passando pelo Carlito Pamplona e São Gerardo.

Legenda: Os resultados que o R&D Dance Group (Runners & Dreamers) vêm conquistando em diferentes concursos de K-pop é também devido aos ensaios na CeArt
Foto: Arquivo pessoal

A principal dificuldade, segundo Wic, é a distância para alguns membros. “Utilizamos metrô, ônibus e até mesmo bicicletas para locomoção. Mesmo para alguns sendo difícil, a CeArt acabou se tornando um local tranquilo para ensaiarmos e gravarmos vídeos para nosso canal do YouTube”, explica.

Há outro motivo entre as frestas dessa vontade imensa de ensaio. Durante a semana, grupos como o de Wic se utilizam de equipamentos públicos feito os Cucas. Aos domingos,com esses lugares fechados, a alternativa é ocupar outros recantos. “Acreditamos que existem bons espaços, mas é algo que sempre pode melhorar”.

"A dança, além de atividade física, também é arte, e faz a diferença na vida de muitos jovens. Com mais investimentos, esse cenário poderia ser ainda melhor"
Wic Saboia
Estudante e integrante do R&D Dance Group

Falta disponibilidade

Outro grupo com opinião semelhante é o Rainbow+, formado por nove membros, todos variando entre 20 e 27 anos. O foco da trupe são dance covers de coreografias de grupos femininos de K-Pop, incluindo a participação em competições e produção de vídeos para o YouTube. Juntos desde 2015, começaram a se reunir na Praça Luíza Távora a partir de 2017.

Conforme Nathan Pereira – um dos integrantes da formação – nesse mesmo ano os Cucas suspenderam o funcionamento aos domingos, ficando de portas abertas apenas de terça a sábado. “O fim de semana é o único momento que a gente consegue se reunir para ensaiar, e nesse cenário os grupos tiveram que se deslocar para procurar um local viável e seguro, prosseguindo com as atividades”, diz.

Legenda: Apesar das dificuldades de locomoção, integrantes do Rainbow+ enxergam na CeArt uma saída possível para praticar a dança
Foto: Kid Júnior

Não à toa, essa falta da disponibilidade do Cuca aos domingos – no qual há salas com espelhos para ajudar nas coreografias – acaba fazendo com que aquela parte de fora da CeArt seja, nas palavras do DJ e professor de dança, “uma ‘gambiarra’ pra suprir essa carência”.

“Alguns integrantes moram próximo ao Antônio Bezerra, outros na Parangaba e outros na Messejana. Os que moram mais distantes são de Maracanaú, e têm a locomoção um pouco mais complicada, tanto pelo horário dos ônibus – que costumam demorar bastante aos domingos – quanto pelo valor da passagem. Além do preço do ônibus metropolitano ser mais caro, eles ainda precisam pagar mais uma passagem pra se locomover dentro de Fortaleza”.

Legenda: Resistência e desejo de prosseguir na arte justificam adesão de jovens às vitrines da CeArt
Foto: Kid Júnior

Embora encarem tal complicação, a CeArt continua sendo a opção mais viável principalmente por questão da segurança, de acordo com Nathan. O jovem, inclusive, levanta a mesma bandeira de Wic: ainda que equipamentos como o Cuca sejam gratuitos e possuam aparato suficiente para suprir as necessidades dos grupos, é preciso mais.

“A dança é uma atividade extra, e a gente só consegue exercê-la com mais facilidade durante o fim de semana. Logo, essa necessidade do uso do material que temos acesso nos Cucas acaba sendo algo limitado pelo não-funcionamento aos domingos”.

O que a Prefeitura diz

De acordo com a Secretaria Municipal da Juventude de Fortaleza, os cinco equipamentos da Rede Cuca – localizados no Pici, Barra do Ceará, Mondubim, Jangurussu e José Walter  – funcionam com salas de danças e outros espaços de terça a sexta-feira, das 8h às 22h, e aos sábados, das 8h às 18h. 

Aos domingos, os jovens têm acesso livre à pista de skate e anfiteatro dos cucas Pici, José Walter, Jangurussu e Barra. A pasta também enfatiza que a Prefeitura dispõe de espaços abertos que podem ser acessados diariamente, a exemplo da Nova Beira-Mar – com anfiteatro, quadras e Skate Park – além das 560 praças da cidade, localizadas nas 12 regionais. Entre elas, estão o Parque Rachel de Queiroz, Passeio Público e Cidade da Criança.

A nota finaliza destacando as Areninhas, abertas aos sábados, domingos e feriados mediante agendamento para rachas, projetos e ligas da comunidade. Ao todo, Fortaleza conta com 101 lugares feito esse. As quadras externas do Ginásio Paulo Sarasate também estão disponíveis mediante agendamento.

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