Vitrines da CeArt servem como espelho para juventude dançar: ‘Gambiarra pra suprir carência’
Grupos de K-Pop chegam de vários bairros de Fortaleza e da Região Metropolitana para garantir ensaios quando equipamentos públicos estão fechados
Quem passa aos domingos pela praça Luíza Távora, na Aldeota, presencia uma cena inusitada. De manhã até a tarde, jovens se utilizam das vitrines da Central de Artesanato do Ceará (CeArt) para dançar. O reflexo provocado pelas vidraças forma um grande espelho, no qual é possível visualizar movimentos, posturas e coreografias.
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“A liderança do grupo organiza os horários e dias, e depois repassa aos demais membros com antecedência”, explica Wic Saboia, 23. O grupo citado pela estudante de Estética e Cosmética se chama R&D Dance Group (Runners & Dreamers), especializado em K-Pop. Formado por 25 membros, entre 15 e 28 anos, começou a realizar ensaios na Luiza Távora em 2019.
De lá para cá – afetados pela pandemia de Covid-19 e desejosos de dançar em lugar aberto – os integrantes aumentaram a frequência de idas ao espaço, aparentemente sem motivo específico, apenas pelo prazer de movimentar o corpo. E eles vêm de todas as partes da cidade: do Aracapé ao Joaquim Távora, passando pelo Carlito Pamplona e São Gerardo.
A principal dificuldade, segundo Wic, é a distância para alguns membros. “Utilizamos metrô, ônibus e até mesmo bicicletas para locomoção. Mesmo para alguns sendo difícil, a CeArt acabou se tornando um local tranquilo para ensaiarmos e gravarmos vídeos para nosso canal do YouTube”, explica.
Há outro motivo entre as frestas dessa vontade imensa de ensaio. Durante a semana, grupos como o de Wic se utilizam de equipamentos públicos feito os Cucas. Aos domingos,com esses lugares fechados, a alternativa é ocupar outros recantos. “Acreditamos que existem bons espaços, mas é algo que sempre pode melhorar”.
”"A dança, além de atividade física, também é arte, e faz a diferença na vida de muitos jovens. Com mais investimentos, esse cenário poderia ser ainda melhor"
Falta disponibilidade
Outro grupo com opinião semelhante é o Rainbow+, formado por nove membros, todos variando entre 20 e 27 anos. O foco da trupe são dance covers de coreografias de grupos femininos de K-Pop, incluindo a participação em competições e produção de vídeos para o YouTube. Juntos desde 2015, começaram a se reunir na Praça Luíza Távora a partir de 2017.
Conforme Nathan Pereira – um dos integrantes da formação – nesse mesmo ano os Cucas suspenderam o funcionamento aos domingos, ficando de portas abertas apenas de terça a sábado. “O fim de semana é o único momento que a gente consegue se reunir para ensaiar, e nesse cenário os grupos tiveram que se deslocar para procurar um local viável e seguro, prosseguindo com as atividades”, diz.
Não à toa, essa falta da disponibilidade do Cuca aos domingos – no qual há salas com espelhos para ajudar nas coreografias – acaba fazendo com que aquela parte de fora da CeArt seja, nas palavras do DJ e professor de dança, “uma ‘gambiarra’ pra suprir essa carência”.
“Alguns integrantes moram próximo ao Antônio Bezerra, outros na Parangaba e outros na Messejana. Os que moram mais distantes são de Maracanaú, e têm a locomoção um pouco mais complicada, tanto pelo horário dos ônibus – que costumam demorar bastante aos domingos – quanto pelo valor da passagem. Além do preço do ônibus metropolitano ser mais caro, eles ainda precisam pagar mais uma passagem pra se locomover dentro de Fortaleza”.
Embora encarem tal complicação, a CeArt continua sendo a opção mais viável principalmente por questão da segurança, de acordo com Nathan. O jovem, inclusive, levanta a mesma bandeira de Wic: ainda que equipamentos como o Cuca sejam gratuitos e possuam aparato suficiente para suprir as necessidades dos grupos, é preciso mais.
“A dança é uma atividade extra, e a gente só consegue exercê-la com mais facilidade durante o fim de semana. Logo, essa necessidade do uso do material que temos acesso nos Cucas acaba sendo algo limitado pelo não-funcionamento aos domingos”.
O que a Prefeitura diz
De acordo com a Secretaria Municipal da Juventude de Fortaleza, os cinco equipamentos da Rede Cuca – localizados no Pici, Barra do Ceará, Mondubim, Jangurussu e José Walter – funcionam com salas de danças e outros espaços de terça a sexta-feira, das 8h às 22h, e aos sábados, das 8h às 18h.
Aos domingos, os jovens têm acesso livre à pista de skate e anfiteatro dos cucas Pici, José Walter, Jangurussu e Barra. A pasta também enfatiza que a Prefeitura dispõe de espaços abertos que podem ser acessados diariamente, a exemplo da Nova Beira-Mar – com anfiteatro, quadras e Skate Park – além das 560 praças da cidade, localizadas nas 12 regionais. Entre elas, estão o Parque Rachel de Queiroz, Passeio Público e Cidade da Criança.
A nota finaliza destacando as Areninhas, abertas aos sábados, domingos e feriados mediante agendamento para rachas, projetos e ligas da comunidade. Ao todo, Fortaleza conta com 101 lugares feito esse. As quadras externas do Ginásio Paulo Sarasate também estão disponíveis mediante agendamento.