Ricardo Bacelar faz show no Festival Jazz & Blues inspirado em canção feita com Belchior

Apresentação do pianista cearense acontece no próximo sábado (18) de forma presencial, ao lado de companheiros de longa data

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Show traz um apanhado dos discos anteriores lançados por Ricardo Bacelar, destacando a linguagem do jazz como uma prática de improviso
Foto: Fernando Travessoni

Alexandre Dumas (1802-1870) anunciou: “A vida é tempestade”. Guimarães Rosa (1908-1967) reforçou, “O correr da vida embrulha tudo”. Belchior (1946-2017) e Ricardo Bacelar selaram, enfim, em tom de canção: “O viver é de improviso”. 

Este verso – presente na música “Vício Elegante”, de autoria dos dois artistas cearenses – agora intitula o novo show de Bacelar, num movimento de tributo ao jazz e com vistas a multiplicar reflexões sobre o cenário pandêmico, a partir de todas as imprecisões referentes a ele.

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A apresentação acontece no próximo sábado (18), a partir das 19h30, em Guaramiranga, compondo a programação da 22ª edição do Festival Jazz & Blues – primeiro evento-teste presencial de música no Estado, frente à realidade da pandemia do novo coronavírus. As atividades do projeto iniciam na sexta-feira (17) e seguem até o dia posterior.

Será, portanto, um instante de retorno de Ricardo Bacelar aos palcos após um ano e meio de confinamento artístico. “Estou muito feliz com isso, para mim vai ser muito emocionante”, adianta o músico. Segundo ele, o show traz um apanhado de seus discos anteriores, destacando a linguagem do jazz como uma prática de improviso.

“Fiz esse link do jazz com a música que Belchior e eu compomos porque acho que precisamos colocar a nossa vida dentro da música. Para esse arremate realizado a partir dos meus discos, essa frase, ‘O viver é de improviso’, me pareceu muito interessante – inclusive porque, na pandemia, nós tivemos que nos adaptar, improvisando bastante no dia a dia. E, na música, principalmente no jazz, há algo muito forte que é a improvisação, ou seja, uma conversa, saída na hora, do músico com a plateia por meio do instrumento”, detalha.

Legenda: Junto ao compilado de alguns dos discos do pianista, apresentação ainda reservará ao público algumas surpresas
Foto: Fernando Travessoni

Assim, em cada Jam Session – como é chamada a reunião informal de músicos de jazz para tocar e improvisar – há um tema fixo e espaços em branco, nos quais os instrumentistas se valem do calor da hora para conceber as notas e a comunicação entre si. “Tive a ideia para o show faz pouco tempo, quando fui convidado para participar do festival. Junto ao compilado de alguns dos meus discos, trarei ainda algumas surpresas”, complementa.

Paisagens sonoras

Para os quase 50 minutos de show, Bacelar aprofundou o olhar sobre a própria produção a fim de elencar quais músicas fariam parte do repertório. Há criações, por exemplo, advindas do disco “Sebastiana” (2018); outras, do CD “Ao vivo no Rio” (2020); e algumas provêm do último trabalho assinado por ele, “Paracosmo” (2021), lançado no mês de abril. A composição “Vício Elegante”, claro, não poderia faltar, também marcando presença na noite.

O pianista acredita que a mensagem alimentada pela apresentação é a de exaltar o poder dos encontros – tanto dele com o público, quanto do público com a música e, ainda, do artista com ele mesmo, uma vez considerar o palco como um lar. “A música ao vivo é um carinho que o público recebe, aquele calor do momento. E para nós, enquanto artistas, significa receber das pessoas o aplauso, a energia que elas transmitem”, considera.

“O viver é de improviso” sela igualmente outras parcerias. Em ritmo de esmerada camaradagem, Ricardo tocará ao lado de parceiros de longa data. Entre eles, estão Márcio Resende (sax e flauta), Cristiano Pinho (guitarra), Pantico Rocha (bateria) e Nélio Costa (contrabaixo). Estes três últimos, cabe destacar, são remanescentes da Banda Oficina, grupo de grande influência no cenário da música instrumental cearense dos anos 1980.

Legenda: Pianista acredita que a mensagem alimentada pela apresentação é a de exaltar o poder dos encontros – dele com o público, do público com a música e do artista consigo
Foto: Fernando Travessoni

“São todos amigos com quem toquei desde muito jovem. Já fizemos vários trabalhos juntos. Antes mesmo dos meus 20 anos de idade, a gente já se conhecia e tocava. São músicos experientes e muito virtuosos, acho que vai ser um momento interessante”, estima o pianista, reforçando o quanto tece uma grande admiração pelo Festival Jazz & Blues.

Ele esteve presente na edição de 2015 do projeto – até então, a única vez que havia participado da programação. Na ocasião, gravou um disco ao vivo, o segundo de forma solo, intitulado “Concerto para moviola”. O trabalho projetou o artista para o mercado fonográfico internacional a partir de um repertório alicerçado em jazz fusion e bandas dos anos 1980, numa criativa confluência de gêneros musicais.

“O Festival Jazz & Blues faz parte do calendário nacional de festivais como sendo uma iniciativa que sempre traz uma programação de qualidade. Ao mesmo tempo que confere espaço para novos talentos, também traz pessoas mais experientes, tornando-se um espaço democrático de arte, no qual as pessoas vão para ouvir música de qualidade – coisa rara nestes dias”.
Ricardo Bacelar
Pianista

Na visão dele, o panorama instrumental de composição musical sempre necessita de fomento e apoio, sobretudo neste nebuloso instante para a cultura a nível nacional. O Festival Jazz & Blues, portanto, chega como uma bem-vinda ação de enaltecimento de inúmeros projetos e nomes do Ceará, do Brasil e do mundo.

Legenda: Segundo Bacelar, o panorama instrumental de composição musical sempre necessita de apoio e fomento, algo que o Festival Jazz & Blues cumpre muito bem
Foto: Fernando Travessoni

Reforço de cuidados

Apesar de toda a ansiedade e alegria para estar no palco de novo, Bacelar não deixa de chamar a atenção para o cumprimento das medidas sanitárias durante os dias de programação. “O show foi montado para atender a esse convite do festival. Acho importantíssimo mantermos todos os cuidados. Nós já estamos observando cada um deles inclusive para fazer os ensaios – testamos todos os músicos antes que entrassem no estúdio, por exemplo”, dimensiona.

“Para haver uma retomada das atividades musicais mesmo, esse evento-teste é muito importante. Por isso, reforço: é bastante importante que as pessoas tomem os devidos cuidados, como uso de máscara e de álcool em gel – não só durante o evento, mas antes e depois dele”. 
Ricardo Bacelar
Pianista

Em parceria com a Secretaria da Cultura do Ceará (Secult-CE), a Prefeitura de Guaramiranga e com a produtora do Festival Jazz & Blues, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) planeja todo o controle do evento, limitando a quantidade de público convidado a 200 por dia e exigindo comprovação de esquema vacinal completo – duas doses ou dose única, no caso do imunizante da Janssen.

Além disso, é necessário apresentar testagem com resultado negativo realizado, no máximo, 48 horas antes das apresentações. O palco também estará montado em espaço aberto e será seguido o protocolo sanitário, com uso de máscaras, álcool 70% e sem alimentação no local. Os profissionais envolvidos no Festival, inclusive os artistas, estarão vacinados com pelo menos uma dose, e devem estar negativados nos testes de Covid-19.

De acordo com a organização do evento, o público convidado para o Jazz & Blues poderá aproveitar as apresentações musicais de forma responsável, ao mesmo tempo em que contribuirá para a avaliação dos impactos do evento-teste em relação à transmissão e ao contágio do coronavírus. Logo, os participantes terão dados coletados e serão monitorados por pelo menos 14 dias após o Festival pelas vigilâncias epidemiológicas dos municípios e do Estado, produzindo evidências para nortear as próximas tomadas de decisão no contexto da pandemia.

Legenda: Para haver uma retomada das atividades musicais mesmo, esse evento-teste é muito importante", observa Ricardo Bacelar
Foto: Fernando Travessoni

Esta é a segunda temporada da 22ª edição do projeto. A primeira foi realizada, como de costume, no Carnaval deste ano, com shows e atividades formativas realizadas de forma online. As Residências Artísticas desta nova seção foram realizadas recentemente, de 10 a 13 de agosto, também no formato virtual. Para realizar a programação presencial, o Jazz & Blues passou por um processo de seleção da Secretaria da Saúde do Estado. 

Além de Ricardo Bacelar, integram a programação nomes como Rômulo Santiago, Marcos Lessa, Idilva Germano, Adelson Viana, Nonato Lima e Zé do Norte. Além da programação na Cidade Jazz & Blues, nos dois dias haverá recitais nas igrejas da Gruta e Matriz de Guaramiranga em homenagem a Alberto Nepomuceno, igualmente apresentado por figuras de relevo no cenário da música instrumental. Todos os momentos serão transmitidos ao vivo pelo YouTube.

Serviço

Show “O viver é de improviso”, do pianista Ricardo Bacelar
Neste sábado (18), a partir das 19h30, na Cidade Jazz & Blues, em Guaramiranga (CE). Ingressos limitados no site da Bilheteria Virtual. Gratuito. Programação completa do Festival disponível no site oficial do evento

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