Professor compõe cordel com reflexão sobre papel dos colegas de profissão no momento de pandemia

Em homenagem, Gilson Franco criou a obra "Os desafios do professor em tempos de pandemia e a importância do autocuidado"

Escrito por Zilda Queiroz , zilda.queiroz@svm.com.br
Legenda: Gilson deseja envolver o leitor na descoberta de novos fazeres no convívio familiar e profissional
Foto: Foto: Mara Rúbia Cardoso

Apaixonado por literatura de cordel, o professor de Língua Portuguesa Gilson Franco, 50 anos, debruçou-se sobre sua peculiar sensibilidade, aliada aos dotes poéticos, na produção do cordel "Os desafios do professor em tempos de pandemia e a importância do autocuidado".

A recente obra do poeta expressa o olhar cuidadoso do autor em reconhecer o valor dos demais profissionais da educação, neste momento de adaptação ao formado de aulas online, dúvidas, incertezas e medos.

Com 15 anos de atuação na rede municipal de ensino de Fortaleza, Gilson deseja ainda envolver o leitor na descoberta de novos fazeres no convívio familiar e profissional, e que essas atividades, das mais simples às complexas, sejam realizadas de maneira leve, prazerosa e saudável.

"Os desafios do professor em tempos de pandemia e a importância do autocuidado" é mais uma sugestão de leitura que enriquecerá o conteúdo dos Projetos "Mala da leitura na Comunidade" e o "Cordel Encantado", coordenados por Gilson Franco.

Formas de prestigiar

A ideia de homenagear os educadores com um cordel surgiu a partir do convite para Gilson participar de uma live com o tema: "Como lidar com as cobranças deste momento de pandemia".

Na ocasião, também foi apresentado aos participantes o apontamento de elevados índices de professores que reportam altos níveis de ansiedade e preocupação com a saúde física e mental durante esse período de pandemia.

Imagem: Mara Rúbia Cardoso
Legenda: "Os desafios do professor em tempos de pandemia e a importância do autocuidado" é mais uma obra que irá enriquecer o conteúdo dos projetos literários coordenados pelo professor Gilson Franco
Foto: Mara Rúbia Cardoso

O professor Gilson Franco decidiu, então, escrever a homenagem em forma de cordel. A escolha pelas rimas aconteceu por dois motivos. Primeiro por ser, de longe, o gênero textual do qual ele mais gosta de escrever e recitar há muitos anos. Segundo, pelo fato de o cordel apresentar uma linguagem simples, coloquial, de fácil compreensão; sem alegorias semânticas.

"O cordel é um gênero caracterizado pelo emprego da rima, do ritmo, da métrica e da oração. É um gênero que configura uma certa noção de pertencimento, caracterizada por elementos particulares: o falar típico do cearense, as terminologias e expressões; a afirmação da identidade linguística etc", descreve o cordelista.

Emocionado, especialmente pelo momento de afastamento social, o qual vem afetando a sensibilidade de todos, o professor faz questão de evidenciar a grandeza e a importância do trabalho docente para assegurar educação pública de qualidade, depositando em cada um (a) deles (as) altíssimas expectativas de aprendizagem.

"Postura amorosa e acolhedora para com os estudantes, faz toda a diferença; gera amorosidades; desperta neles a segurança, a firmeza no trabalho do professor, a confiança de que o docente precisa para alcançar grandes objetivos pedagógicos. E para tanto, a saúde mental, física e emocional do educador é fundamental".

À flor da pele

O amor pela arte alimenta o destemido e inquieto educador em busca de tantos saberes. Desde 2011, Gilson Franco leciona a disciplina de Língua Portuguesa na Escola Municipal de Tempo Integral Professor Ademar Nunes Batista, na capital e está lotado em três turmas, as quais totalizam 114 estudantes.

"Sou apaixonado pela educação pública, meu lugar de atuação profissional e onde aprendi a ser feliz, desde de que coloquei os meus pés em sala de aula pela primeira vez no ano de 2005".

Gilson se intitula um educador inquieto que vai além do limite físico das paredes e dos muros da escola. "A educação pública que represento, e na qual acredito, continua na minha casa todos os dias com ideias e projetos criativos".

O professor revela estar contando os dias para o retorno das aulas presenciais, ainda sem previsão de retorno. "Há um sentimento de saudade e de incompletude. Os estudantes nos rejuvenescem, fazem com que 'enganemos o tempo' e dão verdadeiro sentido à nossa prática docente", comenta o educador.

Gilson ainda ressalta que esteve na escola em momentos pontuais durante esse período do quarentena e diz que a imagem o marcou.

"Em todo esse tempo de isolamento social, fui à escola poucas (e perigosas) vezes, mas fiquei desolado: um sentimento de tristeza e de solidão se instalou de imediato em meu coração. O prédio, em absoluto silêncio, nem de longe parecia o lugar mágico, onde a atividade docente ganha sentido e faz todos os nossos esforços valerem a pena", compartilha.

O professor não esconde a ansiedade pela volta às aulas presencias, revistas para dia 20 de julho (com bastante segurança para todos), e com muitos projetos para colocar em prática. Dentre os planos pós-pandemia, o mestre revela a criação de um canal no YouTube para os alunos recitarem cordéis de sua autoria.

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Os desafios do professor em tempos de pandemia e a importância do autocuidado

Prof. José Gilson Lopes Franco 

Tem uma íntima ligação
Do que o professor sente
Com o momento que vivemos,
Pois é tudo diferente.
Em tempos de pandemia,
Que abalam a nossa alegria,
Tudo ocorreu de repente.

Com o socioemocional
Quase sempre revirado,
O valente educador
Tem ficado atribulado.
Tem feito de tudo um pouco,
Tem vivido no sufoco,
E muitas vezes, calado.

Cobranças de toda parte
Se dirigem ao professor,
Que com a cabeça erguida
Demonstra o seu valor.
Nunca se dá por vencido;
É ousado e atrevido,
É, de fato, um sonhador.

A aula foi transferida
Para a sala de estar. 
O modelo agora é outro,
Tivemos que adaptar:
Por vezes, aulas gravadas,
Remotas, mas planejadas;
Outras formas de ensinar.

Estimado professor,
Adorável professora:
Vocês são a esperança
De uma nação promissora,
Depositando uma semente,
Crendo muito firmemente
Na escola transformadora.

Já dão o melhor que podem;
Não se cobrem em demasia,
Preservem a boa saúde,
A paz e a harmonia;
Se liguem ao que faz bem,
Dividam com os que não têm,
Sua gentil alegria.

Que tal pedir uma pizza?
Para a mãe telefonar?
Jogar bola com o filho?
Com a família almoçar?
Dar umas boas pedaladas,
Acabar-se em risadas,
E no quintal passear?

Que tal cozinhar um pouco,
Testar aquela receita?
Ler um livro especial,
E tudo o que se aproveita?
Curtir o sol despontando
Olhar crianças brincando?
Como a gente se deleita!!

Coisas legais pra fazer,
E que não nos custam nada:
Assistir aquela série,
Há muito tempo esperada;
Abraçar o seu benzinho,
Dar e receber carinho,
De uma forma emocionada.

Viva, viva todos os professores e professoras desta grande nação!!!

 

 

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