“Não podemos abrir mão da memória”, afirma Ronaldo Correia de Brito sobre panorama brasileiro atual

Cearense radicado no Recife, o escritor fala a respeito de “A arte de torrar café - Narrativas além da ficção”, refletindo sobre o lugar do arcaico na realidade nacional, as tentativas de silenciamento da cultura e a sua relação com Ariano Suassuna

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Literatura de Ronaldo Correia de Brito é descrita pelo próprio escritor como um ofício de fricção com o mundo, com as pessoas e as relações sociais
Foto: Samuel Macedo

O sol estava a pino em Fortaleza quando Ronaldo de Correia de Brito, residente no Recife (PE), achegou-se ao telefone para conversar com o Diário do Nordeste sobre seu mais recente livro, “A arte de torrar café - Narrativas além da ficção”(Objetiva). A obra reúne 55 textos escritos antes da pandemia de Covid-19, mas que ganham novo relevo ao chegar neste momento ao público.

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Não à toa, apesar do tempo aberto na capital cearense, o contraste com o nebuloso sentimento de Ronaldo no início do diálogo, em virtude das sucessivas perdas e distâncias motivadas pelo cenário pandêmico, era gritante. “É um tempo maluco demais, muito triste”, confessou. “Agora as pessoas estão estabelecendo uma relação com a gente muito a partir da perspectiva de morte”.

A impressão se agiganta sobretudo quando o escritor observa a própria forma de fazer literatura, a qual descreve como um ofício de fricção com o mundo, com as pessoas e as relações sociais. Maneira de captar uma espécie de imantação que ele sabe ser própria das coisas, capaz de o tocar e engajar.

“A minha literatura é muito sensualizada, eu diria até muito sexualizada. Mesmo as coisas mais simples vêm sempre carregadas de muita sensualidade, erotismo e beleza. Ou seja, ainda que em meio à morte, há sempre um alento de vida que prevalece”, disse.

Na entrevista que nos concedeu, o cearense natural de Saboeiro imerge nessa e em várias outras questões, situando, por exemplo, o lugar do arcaico no panorama nacional, o modo como encara as tentativas de silenciamento da cultura e da arte no Brasil e sobre a relação dele com o dramaturgo, romancista e poeta paraibano Ariano Suassuna (1927-2014).

 

Todos os textos foram escritos antes da pandemia, vide a data em que você menciona na nota do livro, dezembro de 2019. Mesmo assim, senti que o diálogo das narrativas com o hoje pandêmico é bastante forte. Como você encara o chegar de cada criação de “A arte de torrar café” no leitor do Brasil de 2021?

Ronaldo Correia de Brito: Curiosamente, eu sempre me referi muito aos narradores bíblicos. Sempre vi, desde criança, a História Sagrada – não fui habituado a chamar de Bíblia, mas de História Sagrada, no sertão – como um livro de narrativas. Nunca o imaginei como um livro ditado por Deus. Então, sempre imaginei esses narradores, todos eles, com uma capacidade profética, de antever o futuro. Um futuro próximo ou um futuro mais distante. Em “Estive lá fora” [livro do escritor publicado pela editora Alfaguara, em 2012], ao revisitar a ditadura de 1964, eu, de uma certa maneira, pressenti o que estaria por acontecer. E, em “Dora sem véu” [livro do escritor publicado pela editora Alfaguara, em 2018], ao traçar todas as questões mais urgentes do Brasil, como o modelo de colonização que não se desfez – de patriarcalismo, escravagismo, machismo e desigualdade social –, vi o quanto a obra foi profética e premonitória desse tempo que atravessamos. 

Esse livro, “A arte de torrar café”, entreguei a Marcelo [Ferroni, editor da obra] em outubro ou setembro de 2019. Eram muitos textos, eu tenho muita coisa escrita, e então logo nós fizemos um trabalho muito grande de selecionar e de arrumar, de criar um corpo, uma unidade. Assim, fechamos o livro em dezembro daquele ano. Eu não queria chegar com um outro romance tão forte. Meus romances, aliás, são assim.

Legenda: "É por isso que a prisão da pandemia é terrível, tendo em vista que a minha literatura é visceralmente alimentada pela escuta e pelo olhar sobre as pessoas ", afirma Ronaldo
Foto: Samuel Macedo

Quando entramos na pandemia, Marcelo disse: “Não vamos lançar o livro”. E, agora, quando a obra sai em 2021, eu fiquei muito feliz que você tenha percebido isso, Diego. Porque é incrível, ela parece que foi escrita para ser um consolo para este momento. E, ao mesmo tempo em que reflete sobre muitas questões do hoje, também sempre tem uma epifania, um alento, uma promessa, uma nesga de sol, mesmo quando falo da morte. Esse livro está sendo um sopro para as pessoas. É perfeito para se ler na pandemia. 

Interessante você utilizar “narrativas além da ficção” no subtítulo do livro, ao invés de ensaios ou crônicas...

RCB: Usei o nome “narrativa” primeiro porque sou de uma comunidade narrativa. Nós somos de comunidades narrativas, eu sei que você também é. E comunidades que se narram. Acho que a nossa sanidade mental, o que nos mantém ainda sãos, é exatamente nossa capacidade de narrar. Você narra e se narra. Você constrói uma narrativa e, na posição dessa narrativa, garante a sua sanidade. Eu sou de comunidades narrativas, consequentemente sou um narrador. No livro, há também crônicas e muitos ensaios, mas que não são ensaios e que não são crônicas e que não são contos e não são perfis biográficos... Na verdade, são narrativas. Porque essa é a nossa maneira de narrar e de nos narrarmos.

É buscar substrato no nosso saber, no nosso passado, na nossa ancestralidade, para aquilo que nós afirmamos.

De que forma essa escrita não-ficcional que o livro traz se relaciona com a sua escrita ficcional?

RCB: Há sempre três pontos de atenção e tensão e de cuidado com a escrita. Um é a imaginação, que chega e que cobra um espaço; segundo, a construção da linguagem, o cuidado com ela; terceiro, o discurso. Há uma tentativa de equilibrar isso nos dois campos – tanto no ficcional quanto no não-ficcional. Coloco algumas lições e saberes nos textos, mas não faço isso didaticamente. Samico [Gilvan Samico, gravurista e pintor recifense, falecido em 2013], por exemplo, em uma das narrativas, dá uma aula de gravura. Em outro texto, aproveito para falar em Baccaro [Giuseppe Baccaro, galerista, colecionador e pintor recifense, falecido em 2016] e da questão do mercado de arte brasileiro; assim como em “Guimarães Rosa e o amor entre dois homens” [um dos textos do livro], termino entrando na questão fundamental da educação grega, do modelo de afeto, de amor, entre homens. Mas tudo com muito cuidado. Muito cuidado.

Seja de forma mais evidente ou de modo mais discreto, em todas as narrativas presenciei uma grande reflexão sobre os ataques que a cultura vem sofrendo ao longo do tempo, sendo a memória e os costumes de tantos povos escanteados. Como você observa essa questão?

RCB: Nós, do Nordeste, vivemos um drama – para nós é um drama e também uma vantagem –, o de ter nascido num espaço que é considerado espaço cultural menor, periférico. Eu nem falo em regional. Hoje prefiro chamar periférico, pois estamos na mesma periferia das periferias de São Paulo, Rio de Janeiro ou Minas, deslocados do que chamam núcleo produtor. Mas essa perspectiva é recente, porque nós éramos um espaço cultural maior.

Há mesmo um drama, mas também uma vantagem, porque isso nos torna abertos a todas as formas de conhecimento. Veja, estou falando do Recife.  Para dizer o que sinto da cidade, recorro ao encontro com um colega, na rua da Aurora, esquina com a Conde da Boa Vista. Preciso falar de um livro, ‘A epopeia de Gilgamesh’, um poema mesapotâmico em escrita cuneiforme, fundamental para o meu raciocínio na narrativa ‘Recife tão Síria tão Iraque’.

Por que posso fazer isso? Porque sou um cara aberto a todas as formas de conhecimento. Eu posso tudo.

Nossa cultura é plural. Como jogar fora minha formação na cultura oral, a dos mestres que eu tive além da universidade – muitos deles analfabetos? Por outro lado, mesmo vindo desse mundo arcaico, antigo, eu não sou enraizado nele a ponto de não poder visitar outros mundos. Eu circulo. Se quiser, eu cito Hegel, Haroldo de Campos... Então, é isso, a liberdade de não ter raízes. Também acho que nós do Nordeste somos mais desembaraçados. Podemos discorrer com a mesma desenvoltura sobre o frevo ou sobre Heráclito, livremente. Podemos explicar que o frevo, em tal passo, em tal forma de evolução, se explica da mesma maneira que o "tudo flui" de Heráclito.

Legenda: "É lamentável que haja tanta literatura inconsistente. O risco de abrir mão dessa memória, desse arcaico, é de criar algo inconsistente", diz o escritor
Foto: Samuel Macedo

Em um dos textos, “As palavras que brotam”, você afirma: “A memória regressou ao arcaico”. Ainda nesse contexto de que falamos, quais os desafios de valorizar esse arcaico na cultura nacional hoje?

RCB: Posso interpretar o mundo segundo as teorias mais caprichosas. João Cabral de Melo Neto tem um poema sobre a forma de falar do sertanejo. Ele diz que o sertanejo fala como se mastigasse pedras. Eu posso interpretar que a palavra brota da pedra, que não há melhor compreensão da palavra para mim do que imaginá-la sendo plantada e brotando em meio às pedras. 

Valorizar o arcaico na cultura nacional não é fácil. Nada é fácil, sobretudo agora. Na América Latina, nós somos mais informados do que os ocidentais europeus e norte-americanos, exatamente por eles acharem que o conhecimento é especializado e apenas deles. Pensam quer nos reduzimos a uma única forma de cultura, quando na verdade somos bem mais abertos e plurais. Nós temos uma intensa curiosidade.

Espero sempre lançar mão dos meus conhecimentos, sejam quais forem. Todos eles me servem e me pertencem. 

Uma semana dessas eu parei para ver um homem trabalhando numa calçada portuguesa. Sentei no meio-fio e fiquei duas horas olhando. Ele perguntou se eu queria experimentar como se fazia e eu experimentei. Eu não vou trabalhar fazendo calçada portuguesa. Mas aprendi como é que se faz e posso escrever um ensaio sobre isso. E posso referenciar qualquer filósofo a partir dessa experiência. É essa possibilidade que me move. É por isso que a prisão da pandemia é terrível, tendo em vista que a minha literatura é visceralmente alimentada pela escuta e pelo olhar sobre as pessoas e, se possível, pelo toque, pelo abraço, pelo beijo, pelo cheiro, pelo afago. Vivo uma constante erotização e sensualização do conhecimento.

E qual a importância de estarmos sempre retornando a esse arcaico, falando dele novamente, de modo a buscarmos proposições para o presente e o futuro? 

RCB: No caso do homem, tudo nele remonta a esse arcaico. Até o falar, o erguer-se, o sair do engatinhar para a posição de pé, implica em milhões e milhões de anos de História, de memória. Nós não podemos abrir mão dessa memória, não podemos. E nós, que somos descendentes de povos tão antigos, como os africanos, os índios, e os brancos mesmo que nos formaram e outros tantos e tantos povos orientais, não podemos abrir mão disso. Porque isso é o melhor da gente. Se não for o melhor, é o essencial. 

O risco de abrir mão dessa memória, desse arcaico, é de criar algo inconsistente.

Um dos textos mais emblemáticos da obra é “O dia em que Ariano Suassuna caiu”, em que você narra um curioso episódio envolvendo o escritor paraibano. Conte-me a respeito dessa relação: como foi conviver com Ariano, que eventos mais marcaram sua vida a partir desse contato com ele?

RCB: Eu era muito jovem quando conheci Ariano. Passei a estar com Ariano em 1970, com 18 para 19 anos. Eu morava com um poeta chamado Ângelo Monteiro e ele trabalhava com Ariano no Departamento de Extensão Cultural (DEC). Era aluno de Ariano, de Filosofia, e trabalhava com ele nesse departamento da Universidade Federal de Pernambuco. Nessa época, Ariano estava fundando o Movimento Armorial e finalizando o romance “A Pedra do Reino”. Então, foram dezenas de vezes em que chegávamos lá, sentávamos e Ariano ia ler trechos de “A Pedra do Reino” que ele havia escrito. De certa maneira, Ariano nos adotou, e também a Assis Lima, como pessoas que ele estimava. 

Nos encomendava pesquisas, registros de brinquedos populares, compras de objetos cerâmicos do Cariri – registros que até hoje estão no Museu do DEC. Me tornei, assim, amigo de Ariano. Era uma pessoa dileta, que frequentava a casa dele. Ele me tomava muito como confidente, me dizia coisas tão impressionantes que você não pode imaginar. Incrível! Eu ficava chocado com os conselhos que ele me dava.

Legenda: "Eu não sei o que se seguirá nesses tempos, mas sei como estarei: trabalhando"
Foto: Samuel Macedo

Mas veja o que acontece, eu não era Armorial. Por exemplo, eu adorava Whitman [Walt Whitman (1819-1892), poeta e ensaísta americano] e o Ariano odiava literatura norte-americana. Ariano não gostava dos franceses, e eu gostava de Rimbaud [Arthur Rimbaud (1854-1891), poeta francês] e Verlaine [Paul Verlaine (1844-1896), poeta francês]. Então, assim, os cânones de Ariano batiam totalmente ao inverso dos meus. Eu adorava rock naquela época; ele não. Ele não admitia, não gostava nem de Caetano nem de Gil. Quando foi Secretário da Cultura, proibiu que esses cantores – Gil, Caetano, Bethânia, Gal – se apresentassem nos teatros da prefeitura dos quais ele era secretário.

Então foi natural que, com o tempo, a gente fosse rompendo. Um rompimento que se tornou maior no dia em que eu escrevi um texto muito duro sobre ele num tom que ninguém nunca escreveu, e a gente ficou sem se falar durante muitos anos. Muitos anos. Até que houve aquele fatídico encontro [narrado no livro], quando ele cai aos meus pés mesmo. Cai. Ele vem em um clima de reconciliação, gritando, "Eu quero um abraço do grande escritor brasileiro Ronaldo Correia de Brito". E me abraçava naquela alegria, com os braços abertos e, de repente, cai. E eu fico perplexo, paralítico, completamente paralítico. Até comentei com o Schneider [Schneider Carpeggiani, editor do Suplemento Pernambuco], que estava ao meu lado, “poxa, um mito não cai aos nossos pés todos os dias”. (risos)

Mas, depois disso, eu fui falar com ele e ele me falou coisas belíssimas, que me marcaram profundamente, que me educaram muito para o futuro.

A última coisa que ele me falou foi: “Ronaldo, eu prefiro morrer na estrada do que dentro de casa esquecido”. Nunca esqueci disso. E, pouco tempo depois, ele morreu. 

O aspecto fragmentado das narrativas do livro – que abarca tantas questões, do sertão cearense ao Carnaval do Recife, de passeios noturnos a viagens pelo exterior – é evidenciado desde a belíssima capa de Daniel Trench. Como foi trabalhar esse mosaico de referências e assuntos de modo a deixar a obra coesa?

RCB: Eu tive um pré-trabalho com meu grande parceiro e amigo Assis Lima porque eram muitos textos. Acho que começamos com uns 300. Eu escrevo muito, publico menos do que escrevo (risos). Depois, chegamos a uns cento e pouco – também contei muito com Cristhiano Aguiar, meu amigo professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. O trabalho final de edição é de Marcelo Ferroni. Ele é que escolhe as posições, os textos. Decide ter coragem e me orienta a manter textos como “Excelsior Cabaré”, um relato muito pungente sobre um cabaré no Crato, muito delicado. Meu querido e amado editor é uma luz para mim. Ele escolheu como dar uma unidade ao livro, que é quase como se você estivesse lendo um romance.

No texto que dá nome ao livro, você reflete sobretudo sobre o processo criativo, se perguntando “O que se seguirá ao grande vazio?”. Pergunto a você a mesma questão agora: para você, diante de tantas tentativas de silenciamento da cultura e da arte no Brasil, o que se seguirá para os criadores e narradores em meio a esse vazio de perspectivas?

RCB: Eu não sei. Agora, se você quiser que eu lhe responda o que eu faço, eu lhe digo. Eu trabalho. Eu trabalho feito um desvairado. A única coisa que não podem tirar de mim é o trabalho. Eu trabalho, eu crio. Eu fiz aquele Baile [espetáculo Baile do Menino Deus, tradicional no Recife, escrito e dirigido por Ronaldo Correia de Brito], aquela coisa monumental. Já estamos preparando o Baile para 2021, que não será presencial; já estou preparando um filme para 2022 com uma equipe de cinema incrível; estou trabalhando num monte de textos… Eu crio artisticamente e crio os netos e varro casa e arrumo os livros e vou para a calçada e observo. Eu trabalho. 

Legenda: "Há sempre uma iluminação, porque, para mim, foi isso que aconteceu", conta o escritor sobre o seu contato com os livros
Foto: Samuel Macedo

Eu não sei o que se seguirá nesses tempos, mas sei como estarei: trabalhando. Meu pai trabalhou até seis dias antes de morrer. Espero que o meu caminho seja o mesmo – eu gostaria muito, muito. Meu pai soube que ia morrer no dia em que a memória dele falhou. A memória dele não falhava e, para nós, a memória é um fundamento de vida. É um lastro, é a inspiração. E, no dia em que a memória dele falhou, ele disse: ‘Meu filho, eu estou acabado, vamos ali fora que eu quero lhe dizer uma coisa’. Foi aí que ele me disse isso, fez essa afirmação. Mas aí a preocupação dele era com o trabalho. E, quando ele sentiu que ia morrer, organizou tudo dele relativo ao trabalho. Também estou sempre com essa preocupação (risos). Eu digo muito a um amigo, Abel Menezes, quando ele pergunta: “Como é que você tá? E a morte?”. Eu digo, “Rapaz, como é que eu vou morrer se eu tenho tanto trabalho pra fazer?”.

Eu não sei o que se seguirá nesses tempos, mas sei como estarei: trabalhando.

O subtítulo da obra é “Narrativas além da ficção”: como foi para você passear por essas geografias escritas que, como a própria expressão sublinha, estão para além da ficção?

RCB: Foi bom. Eu gosto de me saber um homem de cadernetinha no bolso e lápis, que vai para o carnaval bem vestido. Que não vai dar um único pulo – não vai correr, não vai gritar, não vai beber, muito menos – mas que vai chegar junto às pessoas, vai levantar os celofanes picotados que cobrem o rosto do caboclo de lança. E que vai olhar, vai querer tocar no rosto dele e sentir como é a pintura que ele colocou no rosto. Sentir o jogo de sedução de ambos os lados e também o bafo de cachaça dele e toda essa movimentação. É a mesma coisa de entrar num café em Paris e descobrir a África e o Brasil, refletindo sobre o processo de colonialismo imperialista francês. Também saudar com alegria, com um evoé, os africanos que estão chegando, numa viagem em sentido contrário à dos colonizadores: marroquinos, argelinos, tunisianos, etc., dizendo “eis meu povo que chega”. É muito bom!

No texto “Admirável mundo virtual”, você traz a frase “Ninguém entra na cidade dos livros. Eu continuo preso nela”. Hoje, em sua visão, o panorama permanece assim, ninguém entra na cidade dos livros? E, enquanto cidadão dessa urbe de saberes em brochura, o que acontece quando as pessoas entram nela?

RCB: Eu acho que há sempre uma centelha. Há sempre uma iluminação, porque, para mim, foi isso que aconteceu. Felizes os que entram nessa cidade. Felizes, felizes. E eu conclamo todos a entrar. Vamos juntos!

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