Na avenida e na plateia, desfile de maracatus reúne gerações pela preservação da cultura popular

Seja desfilando, seja assistindo, às agremiações na Av. Domingos Olímpio, famílias fortalecem a vivência da expressão tradicional que é patrimônio imaterial de Fortaleza

Escrito por João Gabriel Tréz , joao.gabriel@svm.com.br
No tradicional desfile de maracatus da av. Domingos Olímpio, famílias se reúnem no cortejo e na plateia como forma de fortalecer e renovar tradições
Legenda: No tradicional desfile de maracatus da av. Domingos Olímpio, famílias se reúnem no cortejo e na plateia como forma de fortalecer e renovar tradições
Foto: Thiago Gadelha

Tradição é palavra-guia no maracatu cearense. Não daquela cristalizada e parada no tempo, mas sim da dinâmica, que mescla passado e futuro no presente. Nos desfiles da Avenida Domingos Olímpio, é possível ver esse encontro temporal nas famílias que, seja na avenida seja na plateia, compartilham o gosto pela preservação da expressão carnavalesca.

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“É uma identidade cearense, do nosso povo, da nossa cultura”, resume Clayson Viana. Bailarino e coreógrafo da companhia de dança popular Cia Via, ele desfila há mais de 10 anos no maracatu Vozes da África como porta-estandarte.

Apresentado à tradição pela própria mãe, repassou não somente o gosto, mas o fazer cultural para a filha, Gaia Luiza Viana, de 14 anos, que já carrega trajetória de mais da metade da vida no maracatu.

Gaia Luiza Viana estreou na avenida aos sete anos; hoje, aos 14, pretende que a tradição siga: Não quero, nunca, deixar de vir pra cá
Legenda: Gaia Luiza Viana estreou na avenida aos sete anos; hoje, aos 14, pretende que a tradição siga: "Não quero, nunca, deixar de vir pra cá"
Foto: Acervo pessoal

“Minha mãe vinha assistir aos maracatus. Quando eu disse que iria desfilar, ela nunca perdeu um. Hoje já não está mais com a gente, mas aconteceu a mesma coisa com a Gaia: ela vinha assistir até os seis anos e aí, aos sete anos, vi que ela conseguia segurar a cangalha (um dos adornos do figurino) e falei ‘agora dá’”, lembra o porta-estandarte.

“Eu sempre achei muito bonito. Eu cresci no meio da dança, nasci praticamente nela. Meu pai já dançava e aí, nos meus sete anos, ele me trouxe para desfilar e eu me apaixonei pelo maracatu”, compartilha Gaia Luiza, que compõe a ala que homenageia povos indígenas.

Gaia Luiza Viana e Clayson Viana, filha e pai, desfilam juntos em alas diferentes do maracatu Vozes da África
Legenda: Gaia Luiza Viana e Clayson Viana, filha e pai, desfilam juntos em alas diferentes do maracatu Vozes da África
Foto: Thiago Gadelha

O repasse do gosto pelo maracatu como herança também marca a relação das irmãs Norma Célia e Ivone Carneiro com a tradição carnavalesca cearense. “Nós temos memória afetiva. Quando crianças, nossa mãe e nossa avó nos traziam para assistir ao desfile. Nós tínhamos também um primo que desfilava todo ano”, explica Norma.

É pelo afeto, mas também pela reverência à cultura, que elas optaram por introduzir a sobrinha-neta Laura Carolina aos desfiles. “Nós apresentamos o maracatu para ela no ano passado e ela amou, por isso nós trouxemos de novo nesse ano”, aponta. 

As irmãs Ivone Carneiro e Norma Célia foram apresentadas ao maracatu pela mãe e pela avó e, agora, convidam a sobrinha-neta Laura Carolina para se encantar com a tradição
Legenda: As irmãs Ivone Carneiro e Norma Célia foram apresentadas ao maracatu pela mãe e pela avó e, agora, convidam a sobrinha-neta Laura Carolina para se encantar com a tradição
Foto: Thiago Gadelha

Ivone ressalta que a menina se encanta com os figurinos, em especial, das rainhas. Enquanto comia pipoca, Laura quis ressaltar o que mais acha bonito nos desfile: “Aqui, a rua”, divide a pequena.

“Ela ama passear. A gente leva pra teatro, cinema, estimulamos muito. Aqui, é a nossa cultura. Temos sempre que incentivar e não deixar morrer. São as nossas raízes”, ensina Norma.

Raízes, essas, fincadas e sempre em estado de renovação — que o digam Laura e Gaia Luiza, novas gerações que prometem, pela palavra e pela ação, manter viva essa tradição tão cearense. 

“Meu pai gostava de dançar, eu agora, e espero isso para meus filhos, meus netos, que vá seguindo. É de família, mesmo. Espero que continue essa tradição porque eu não quero, nunca, deixar de vir pra cá”, assegura Gaia.

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