Na avenida e na plateia, desfile de maracatus reúne gerações pela preservação da cultura popular
Seja desfilando, seja assistindo, às agremiações na Av. Domingos Olímpio, famílias fortalecem a vivência da expressão tradicional que é patrimônio imaterial de Fortaleza
Tradição é palavra-guia no maracatu cearense. Não daquela cristalizada e parada no tempo, mas sim da dinâmica, que mescla passado e futuro no presente. Nos desfiles da Avenida Domingos Olímpio, é possível ver esse encontro temporal nas famílias que, seja na avenida seja na plateia, compartilham o gosto pela preservação da expressão carnavalesca.
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“É uma identidade cearense, do nosso povo, da nossa cultura”, resume Clayson Viana. Bailarino e coreógrafo da companhia de dança popular Cia Via, ele desfila há mais de 10 anos no maracatu Vozes da África como porta-estandarte.
Apresentado à tradição pela própria mãe, repassou não somente o gosto, mas o fazer cultural para a filha, Gaia Luiza Viana, de 14 anos, que já carrega trajetória de mais da metade da vida no maracatu.
“Minha mãe vinha assistir aos maracatus. Quando eu disse que iria desfilar, ela nunca perdeu um. Hoje já não está mais com a gente, mas aconteceu a mesma coisa com a Gaia: ela vinha assistir até os seis anos e aí, aos sete anos, vi que ela conseguia segurar a cangalha (um dos adornos do figurino) e falei ‘agora dá’”, lembra o porta-estandarte.
“Eu sempre achei muito bonito. Eu cresci no meio da dança, nasci praticamente nela. Meu pai já dançava e aí, nos meus sete anos, ele me trouxe para desfilar e eu me apaixonei pelo maracatu”, compartilha Gaia Luiza, que compõe a ala que homenageia povos indígenas.
O repasse do gosto pelo maracatu como herança também marca a relação das irmãs Norma Célia e Ivone Carneiro com a tradição carnavalesca cearense. “Nós temos memória afetiva. Quando crianças, nossa mãe e nossa avó nos traziam para assistir ao desfile. Nós tínhamos também um primo que desfilava todo ano”, explica Norma.
É pelo afeto, mas também pela reverência à cultura, que elas optaram por introduzir a sobrinha-neta Laura Carolina aos desfiles. “Nós apresentamos o maracatu para ela no ano passado e ela amou, por isso nós trouxemos de novo nesse ano”, aponta.
Ivone ressalta que a menina se encanta com os figurinos, em especial, das rainhas. Enquanto comia pipoca, Laura quis ressaltar o que mais acha bonito nos desfile: “Aqui, a rua”, divide a pequena.
“Ela ama passear. A gente leva pra teatro, cinema, estimulamos muito. Aqui, é a nossa cultura. Temos sempre que incentivar e não deixar morrer. São as nossas raízes”, ensina Norma.
Raízes, essas, fincadas e sempre em estado de renovação — que o digam Laura e Gaia Luiza, novas gerações que prometem, pela palavra e pela ação, manter viva essa tradição tão cearense.
“Meu pai gostava de dançar, eu agora, e espero isso para meus filhos, meus netos, que vá seguindo. É de família, mesmo. Espero que continue essa tradição porque eu não quero, nunca, deixar de vir pra cá”, assegura Gaia.