MFF abre nova exposição com fotografias táteis produzidas por pessoas com deficiência
“Na ponta dos dedos” fica em cartaz no andar térreo até 30 de setembro
Após o hiato provocado pela pandemia de Covid-19, o Museu da Fotografia Fortaleza (MFF), já de portas abertas para o público, inaugura nesta sexta-feira (10) uma nova exposição. Intitulada “Na ponta dos dedos”, a mostra é acessível e reúne 20 imagens, todas com peças táteis, produzidas por pessoas cegas e com baixa visão.
As obras são resultado de uma formação ministrada no equipamento em 2019, pelo Núcleo Educativo do MFF junto com o Projeto Fotografia Tátil, do Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Design da UFC. A Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC) também é parceira da iniciativa.
“Desde o início, com o envolvimento dos alunos/fotógrafos, vimos que era possível uma exposição. Foi impressionante ver a sensibilidade deles na fotografia, são detalhistas e atentos”, partilha a coordenadora educativa do MFF, Keli Pereira.
Na ocasião, foram atendidas duas turmas, totalizando 20 participantes. Os alunos puderam aguçar os sentidos e tiveram contato com câmeras, percepção de enquadramento e espaço - por meio da audiodescrição do visor de seus equipamentos e do auxílio de “regras” fotográficas táteis produzidas com MDF para melhor compreensão do conteúdo ministrado.
“A maioria das fotos é de momentos do curso, foram sempre tardes muito leves, muitas risadas e aprendizado. Acredito que a exposição fale muito sobre esse momento de descoberta tanto para eles, quanto para nós”, conta.
Acessibilidade
Roberto Cesar Cavalcante Vieira, coordenador do projeto Fotografia Tátil e professor do Curso de Design da UFC, explica que a ideia de uma atividade em parceria com o MFF surgiu ainda em 2018, após assistir uma oficina com esse recorte no museu. Como já trabalhava com isso desde 2014, a articulação se deu de forma rápida.
“A formação de 2019 durou 11 semanas. Nós falamos sobre fotografia, arte, regra de composição, acervo do museu, e também tivemos a prática”, recorda.
A expertise do projeto, que envolve a materialização de peças por meio do uso de máquina fresadora, laser e impressora 3D, foi compartilhada nesses encontros.
“Na exposição, por exemplo, tem a foto de uma vaca, e a escultura dela foi impressa em 3D. Então, nós fazemos uso desse maquinário de fabricação digital”, explica.
Para Roberto Vieira, a mostra “Na ponta dos dedos” é um marco nesses processos de acessibilidade cultural.
“É uma exposição de fotos feitas por pessoas cegas, com peças táteis, audiodescrição, sistema de rastreamento de toque, que é um sistema que permite que a pessoa tateie a peça e o computador dispara áudios da área que ela está tateando. Então tem uma abrangência muito grande nesse sentido da inclusão”, analisa.
Perspectivas
O coordenador do projeto Fotografia Tátil adianta ainda ações paralelas que também está conduzindo no momento. É o caso da produção de pinturas táteis para o Museu de Arte da UFC (Mauc), além de outras conversas com o Museu da Cultura Cearense, recém-reaberto no Dragão do Mar.
“Eu espero que esse trabalho com o Museu da Fotografia seja apenas o início de muitos outros; que a gente faça formações em fotografia mais avançadas para pessoas cegas e que a gente experimente. Tem muito ainda o que ser feito”, projeta.
Em diálogo com esse discurso, a representante do Núcleo Educativo do MFF deixa as portas abertas para as possibilidades:
“Nós acreditamos na democratização da fotografia e ter fotografias que podem ser apreciadas sem restrição de público é muito gratificante. É importante para que a cultura esteja ao alcance de todos”, finaliza.
Serviço
Exposição “Na ponta dos dedos”
Local: Museu da Fotografia Fortaleza
Quando: até 30 de setembro
Visitação gratuita (de terça-feira a domingo, de 12h às 17h)
Endereço: Rua Frederico Borges, 545 – Varjota
Mais informações: (85) 3017-3661