Livro sobre as origens do cearense terá lançamento virtual nesta terça-feira (4)

Obra “O Cearense Revelado: uma jornada via DNA desvenda nossa ancestralidade”, do professor e biógrafo Luís Sérgio Santos, dá continuidade ao ensaio “O Cearense”, do professor e ex-governador José Parsifal Barroso

Escrito por Redação ,
Legenda: A heterogeneidade na formação de nosso povo é tema de investigação do livro “O Cearense Revelado: uma jornada via DNA desvenda nossa ancestralidade”

Como meio de dar prosseguimento aos estudos realizados pelo professor e ex-governador José Parsifal Barroso no ensaio “O Cearense” – publicado em 1969 e reeditado em 2017 – chega agora ao público o livro “O Cearense Revelado: uma jornada via DNA desvenda nossa ancestralidade”. De autoria do professor e biógrafo Luís Sérgio Santos, a obra, um ensaio jornalístico, confere todos os detalhes a respeito de uma pesquisa inédita no Brasil – intitulada “GPS-DNA Origins Ceará”, sobre a origem de nosso povo.

O exemplar será lançado virtualmente nesta terça-feira (4), às 19h30, pelas redes sociais do Instituto Myra Eliane, entidade que assume a frente editorial da obra. Na transmissão online, um QR Code será disponibilizado para a venda do livro. Após o lançamento, ele estará à venda na sede da instituição, no bairro Aldeota. Por meio de 14 capítulos, o exemplar passeia por temas como “Os grupos genéticos do cearense”, “Diálogos com Gilberto Freyre”, “Visões do Ceará”, entre outros. O prefácio é assinado pelo empresário e presidente do Instituto Myra Eliane, Igor Queiroz Barroso. 

No cerne da pesquisa, está uma apresentação do padrão genético da composição do cearense, com uma análise realizada no Laboratório DDC, em Ohio (EUA), a partir de amostras colhidas em todo o Estado.

“Essa é a via que nos permite agora mostrar ‘O Cearense Revelado’. Para isso, o apoio de cientistas na pesquisa foi fundamental, notadamente a metodologia desenvolvida pelo professor Eran Elhaik e seu time, que criaram o algoritmo GPS — Geographic Population Structure (Estrutura Geográfica da População), método que permite o rastreamento genético ancestral a partir de amostras de DNA”, ressalta Igor Queiroz Barroso.

Não à toa, o empresário e presidente do Instituto Myra Eliane enfatiza a relevância dessa nova escalada. “Parece-nos somente o início de uma grande revolução na história da humanidade, notadamente no campo da Medicina Molecular”, afirma.

Por sua vez, Luís Sérgio Santos explica: “É um estudo sobre ancestralidade, e não um levantamento forense, de paternidade ou médico, como o exoma”, diz, citando aqui um exame que analisa todas as regiões codificadoras do genoma humano com o objetivo de identificar variantes que possam estar relacionadas com a doença de uma pessoa. 

“O livro tem uma vasta bibliografia e traz aos leitores o motor da pesquisa, que é a questão ‘de onde viemos’”, complementa o autor. “A partir daí, há toda uma revisão bibliográfica, orientada pelo professor Eran Elhaik”. O docente mencionado pelo autor é biogeneticista, professor-doutor da Universidade de Sheffield (Reino Unido), consultor na pesquisa genética e autor da metodologia GPS (Geographic Population Structure). Ele também participará do lançamento, por meio da internet, diretamente da Suécia.

Além de Eran Elhaik, estarão presentes no momento Igor Queiroz Barroso, o médico Evangelista Torquato, colaborador técnico da pesquisa, e o próprio Luís Sérgio.

Nesta entrevista, feita no dia 30 de julho de 2020, o professor biogeneticista Eran Elhaik responde as questões do professor Luís Sérgio Santos sobre a pesquisa GPS-DNA Origins Ceará. GPS é a abreviatura de Geographic Population Structure, Estrutura Geográfica da População. 

Professor Elhaik, como funciona a metodologia GPS-DNA?

O teste considera que todos os humanos são uma mistura de diferentes “gene pools” — os bolsões genéticos — de determinados povos de todo o mundo. Este modelo é fundamentalmente diferente do teste de ancestralidade típico, no qual é sugerido que os humanos são derivados de um pequeno número de populações que se moveram com o passar do tempo. Como a GPS Origins se baseia no caráter único da genética criada com a mistura de 41 conjuntos genéticos globais, ele consegue capturar antigos eventos que deixaram pequenos resíduos nas populações atuais, como a migração dos povos Indo-Iranianos dentro da Europa por volta de 2500 a.C. Os grupos genéticos descrevem as origens geográficas da sua molécula de DNA transmitidas ao longo das linhas geracionais.

O GPS Origins utiliza o DNA autossômico herdado dos cromossomos 1-22, que são mais sensíveis à assinatura genética dos nossos mais recentes ancestrais comuns, se comparado aos cromossomos Y e mitocôndrias. Para rastrear a origem de seus dois pais, por exemplo, o GPS Origins primeiramente separa o código genético (os gene pools) dentro dos seus dois componentes primários. Sendo assim, pessoas das quais os dois pais são descendentes de ingleses devem descobrir que seus GPS Origins os levam a ancestrais da Itália e da Escandinávia, provavelmente porque os Romanos e os Vikings, que estabeleceram ambos assentamentos na Inglaterra, foram os que mais contribuíram na sua ancestralidade. Depois de determinar os dois pontos chave, o GPS Origins calcula as rotas de migração que o DNA de seus antepassados incorporou. Essas rotas de migração são literalmente o itinerário de viagem desse DNA, não das pessoas. Porque? Se seus antepassados não trocaram genes com populações que encontraram e diversificaram esses genes, mas ao contrário continuaram casando entre si e mantendo os mesmos fundos genéticos antigos, isso não vai ser registrado como um evento genético significativo para a GPS Origins identificar. Trabalhando de volta no tempo, a GPS Origins só pode detectar partidas substanciais das antigas ancestralidades. Finalmente, depois de reconstruir as rotas de migração, GPS Origins se atém às datas das mesmas e explica o que deve ter incentivado seus ancestrais a migrarem nesse específico espaço de tempo.

Por que o “pool” de genes Fennoscandia (Fenoscândia é o termo geográfico e geológico usado para descrever a península Escandinava) foi tão alto na amostra da GPS-DNA Origins no Ceará?

Legenda: O mapa apresenta as regiões originais do “gene pool” Fennoscandia. Foi elaborado pelo professor Eran Elhaik a partir dos dados da metodologia GPS-DNA Origins

Eu anexei um mapa de calor deste componente específico no mundo, que você pode publicar. O “gene pool” ‘Fennoscandia’ tem alta presença entre pessoas da Islândia e da Noruega (25-66%), assim como em pessoas da Inglaterra (57%). O seu legado entra em declínio ao passo em que nós nos movemos ali da Escandinávia, por exemplo. Na média, a pesquisa no povo do Ceará teve presença de 11.6% deste código genético, a mesma porcentagem no povo de Portugal. No máximo, nós temos visto 18% desse componente, que pode ser associado a pessoas com maiores origens do Norte.

Essa amostra da pesquisa GPS-DNA Origins Ceará tem tamanho suficiente para rastrear nosso objeto de pesquisa?

Toda jornada começa com pequenos passos, então este estudo é um passo inicial antes que outras extensas pesquisas possam responder questões específicas. O objetivo deste estudo foi obter um instantâneo da população e aprender algo sobre suas origens. Mesmo esse tamanho modesto da amostra destaca a história dos principais grupos populacionais, sua composição genômica e suas origens. Como tal, permite-nos desenvolver hipóteses que podemos explorar em trabalhos futuros. 

O Sr. pode comentar um pouco sobre os resultados da GPS-DNA Origins no Ceará, Brasil?

Estudos prévios já aludem à heterogeneidade dos brasileiros do leste em geral e no Ceará em particular, mas eles não puderam localizar a origem desse povo. A GPS Origins especificamente localiza os ancestrais cearenses na Europa (na maioria da Espanha e de Portugal, mas também da Inglaterra, Polônia, Hungria, Itália e dos Balcãs), África (África do Sul, Angola, Camarões, Chade, Marrocos e Argélia) e nas Américas (México e Colômbia). A decomposição detalhada dos códigos genéticos nos conta que os brasileiros tiveram sua ascendência ameríndia derivada dos códigos genéticos continentais e os mantiveram.

Nós podemos até mesmo ver uma fração pequena da Bouganvília, porque o povo de Papua Nova-Guiné alcançou a América alguns milhares de anos atrás. Esse achado que nós vimos por anos nas populações americanas foi recentemente confirmado em um grande estudo. Nós também vimos uma ampla representação de todos os fundos genéticos europeus e africanos. Curiosamente, vimos evidências de fundos genéticos do Levante (área do Oriente Médio), com algumas pessoas carregando 11% de origens levantinas. A genética heterogênea dos brasileiros é genuinamente impressionante. O único “pool” genético faltando são os localizados na Ásia Central e Leste.

As pessoas reduziram o grupo genético Fennoscandia a simplesmente Vikings. Eu acredito que isso é apenas um estereótipo, não é?

Fenoscândia é fortemente associada com a Islândia, Noruega e com algumas partes da Inglaterra. Essas regiões foram inicialmente assentadas por Viking, mas, com o passar do tempo, mais migrantes chegaram e um caldeirão genético foi criado. Estudos antigos de DNA nos Vikings mostram que eles não são idênticos a islandeses modernos, cujos ancestrais mostraram mistura entre ingleses e outras populações. Então, a história é mais complicada que isso, mas eu concordo que a localização deste fundo genético tem uma consistente contribuição Viking. 

O Sr. acredita que os resultados deste trabalho carregam uma visão eugenista de raça?

Pelo contrário. Os resultados enfatizam a alta heterogeneidade da população e as multi-geográficas origens de cada pessoa. Se as raças fossem biologicamente reais, veríamos pessoas que correspondem em 100% de algum fundo genético específico. O máximo que vimos são pessoas com 30% em correspondência com o grupo genético da América Central. O próximo maior número é o de 18% (Fennoscandia). Então, nós vemos exatamente o oposto que a teoria racial prega. A média do DNA brasileiro vem de 19 “pools” genéticos, com pessoas possuindo até mesmo 23 “pools” genéticos. Nenhum grupo populacional tem tantos grupos genéticos assim tão diversos. Infelizmente, eugenistas e racistas não se importam com dados científicos ou tendem a usá-los erroneamente para dar suporte às suas ideias. O presente estudo fornece fortes evidências contra essas visões.

“O Cearense Revelado: uma jornada via DNA desvenda nossa ancestralidade”
Luís Sérgio Santos
Instituto Myra Eliane
2020, 350 páginas
R$ 80

Serviço
Lançamento do livro “O Cearense Revelado: uma jornada via DNA desvenda nossa ancestralidade”
Nesta terça-feira (4), às 19h30, pelas redes sociais do Instituto Myra Eliane (Youtube, Facebook e Instagram, @myraeliane)

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