Exposição apresenta desenhos de viagens do arquiteto Campelo Costa e celebra os 80 anos do artista
Mostra "Arquitetura e Cidade" traz ilustrações dos cadernos de viagem do artista. Evento será aberto nesta terça-feira (1º), na Biblioteca da Universidade de Fortaleza
O arquiteto e urbanista Campelo Costa tem um hábito que se repete a cada viagem. Se uma imagem lhe chama atenção, ele se demora diante dela acompanhado de um pequeno caderno. Com os movimentos certeiros das mãos, o papel serve de suporte para representação da paisagem observada à frente. Nada de registros fotográficos. É pelo desenho que Campelo guarda o presente.
Ao longo dos anos, a prática lhe rendeu mais de 60 cadernos de viagens com anotações das cidades visitadas, informações sobre o cotidiano local e muitas imagens de monumentos históricos, prédios significativos e espaços urbanos.
Desse material, 44 imagens foram selecionadas para compor a exposição "Arquitetura e Cidade - Campelo Costa", que será aberta hoje à noite, na Universidade de Fortaleza, celebrando os 80 anos do arquiteto reconhecido no Ceará como um dos mais representativos artistas do traço.
A mostra ficará em exibição no Hall da Biblioteca Central da Universidade até 14 de dezembro. Os desenhos foram concebidos entre as décadas de 1980 e 2000 em passagens do artista por cidades como Paris, Nova York, Roma, Milão, Amsterdã, Lisboa, Porto, São Paulo, Olinda, Igarassu, Fortaleza e Sobral.
A exposição traz ainda alguns cadernos de viagem do artista pernambucano radicado no Ceará, além de livros nos quais o trabalho de Campelo Costa foi registrado. A seleção renderá também uma publicação comemorativa com 210 páginas, nas quais estarão os desenhos que compõem a exposição, além de palestras proferidas pelo artista em congressos e artigos sobre a arquitetura.
O objetivo da mostra é homenagear o arquiteto que tem incursões nas diversas linguagens artísticas. Ao longo das décadas, ele foi premiado em salões de artes plásticas realizados em Fortaleza, como no Salão de Abril, que contou com obras do artista nas edições de 1966, 1967 e 1968.
De acordo com o curador da mostra, Roberto Galvão, a seleção privilegiou a pluralidade de lugares visitados pelo arquiteto. A exposição se divide em duas alas: uma para Europa, com desenhos de cidades como Paris, Roma e Veneza, e outra para a América, em que estão registros de vários espaços, incluindo Fortaleza e o interior do Ceará. "Esses trabalhos valorizam a paisagem urbana. O desenho de Campelo Costa é muito rico. Ele não desce a detalhes, mas todos leem. Com poucos traços, Campelo consegue definir na mente do espectador o que ele observou", afirma.
Memória
Idealizador da mostra, Galvão conta que os cadernos de viagem que deram origem à exposição servem como um diário, em que o arquiteto registra anotações, conta sobre pessoas com quem esteve e retrata amigos. Apesar disso, a mostra se atém apenas às obras sobre a arquitetura.
"Procuro registrar a beleza intrínseca de alguns lugares, algo que me fere os olhos e isso acontece em muitos lugares, na Europa e no interior do Ceará, por exemplo", revela o artista, que exercita o desenho desde a infância. Os primeiros registros no papel, ele recorda, foram aos cinco anos.
De lá para cá, o hábito aperfeiçoou o traço sem nunca precisar passar por uma educação formal na área. O talento acabou auxiliando no trabalho como arquiteto e urbanista, mas continua tendo uma dimensão muito maior que uma ferramenta profissional. "O desenho, para mim, é uma obra única e aberta. Não tem limites. Quando você desenha, o traço não se acaba, ele pode continuar", revela.
A presidente da Fundação Edson Queiroz, Lenise Queiroz Rocha, demarca a exposição como uma homenagem aos 80 anos do arquiteto. "O foco da mostra são suas passagens documentadas em desenho por diversas cidades pelo mundo. De Fortaleza a Paris. De Olinda a Milão. De São Paulo a Nova York. É possível passear não apenas pelas linhas soltas e estilizadas que transportam para estes locais, mas pelas curvas que também lhes conferem vida. O convite vem embalado por ruas, feiras, árvores, tetos de casas, espaços de convívio e outros pedaços de passado que, intrinsecamente, conectamos ao presente por meio do olhar", afirma.
Na avaliação do vice-reitor de Extensão da Universidade de Fortaleza, Randal Pompeu, a programação incentiva as discussões acerca da arquitetura das cidades. "Além da exibição de desenhos de Campelo Costa, a mostra promove o debate sobre arquitetura, cidades e patrimônio, por meio de palestras e seminários envolvendo, sobretudo, a graduação e os cursos de especialização em Arquitetura e Urbanismo e o mestrado em Cidades da Universidade de Fortaleza, bem como estudantes e profissionais da comunidade externa. Assim, a Fundação Edson Queiroz, mais uma vez, cumpre seu papel de aliar arte e educação para promover o conhecimento", considera.
Serviço
Exposição "Arquitetura e Cidade - Campelo Costa"
Abertura hoje, às 19 horas, no Hall da Biblioteca da Universidade de Fortaleza (Av. Washington Soares, 1321 - Edson Queiroz). Visitação até 14 de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 7h às 21h55, e aos sábados, das 7h30 às 16h25. Gratuito. Informações: (85) 3477.3311