Em parceria inédita, Daniel Peixoto e Felipe Catto regravam 'Postal de Amor'
Mantendo a sequência de singles que homenageiam grandes músicas brasileiras, cearense entrega sua versão para a música gravada por Ney Matogrosso e Fagner na década de 1970
Recriando um clássico
A trajetória musical de Daniel Peixoto é dada ao matrimônio de referências sonoras distintas. Munido das possibilidades do eletrônico, o cearense destila pancadão, rock, embolada, brega, carimbó e o que mais for possível na construção desse universo. Tá na novela e na pista de dança. Desacelerar, jamais.
São 15 anos de trabalho profissional na música, desde que despontou com o electro da banda Montage. 95% do material gravado na carreira ele mesmo escreve, assevera. Nos últimos anos, outro horizonte foi possível com a criação do “projeto DP”. Basicamente, é a leitura de Peixoto para hits da música popular brasileira. Hoje, o mundo conhece mais uma releitura. Está no ar o single “Postal de Amor”, regravação de um petardo setentista, cantado originalmente por Ney Matogrosso e Raimundo Fagner.
“Decidi trabalhar e mexer em obras de outros compositores que sempre gostei”, defende o músico. A escolha, assume, foi devagar e levou tempo. Era preciso se sentir preparado. Após lançar “O Vira” (Secos e Molhados) e “Colégio de Aplicação” (releitura dos Novos Baianos com direito a clipe) o cantor reconstrói “Postal de Amor” ao lado de Felipe Catto. Parceria inédita.
“Nos conhecemos num festival que tocamos juntos, coisa de três anos atrás. Sabe aquela coisa de ‘bater santo’? Quando você conhece uma pessoa e você vê ali uma afinidade? Quando decidi gravar ‘Postal de Amor’ pensei imediatamente no Felipe, pois sempre quis convidá-lo para alguma coisa. Achei que essa oportunidade seria incrível”, detalha.
Clipe de "Colégio de Aplicação"
A nova produção é inspirada na mistura do trip hop com a MPB. Do estúdio veio o reforço de Rodrigo Brandão e Carlos Gadelha, músicos e produtores de longa proximidade com Daniel. Daqui a duas semanas, “Postal de Amor” ainda será contemplada com remixes em versões electro e techno. Serão assinadas pelos DJs L_cio (responsável pelo renascimento de “Construção”, de Chico Buarque nas pistas de dança) e Malka, artista trans revelação da nova cena paulista.
“Sempre fui um artista da música eletrônica, sempre vou ser. Todas as coisas que eu faço, quando uno estilos musicais como brega ou reggae, tudo está dentro da eletrônica. Queria que ‘Postal de Amor’ soasse como música eletrônica, mas que também tivesse essa coisa do groove, da melodia, que remetesse ao popular. Acho que ficou meio a meio ali”, se diverte o cantor.
Reencontro
Saiu na Revista Pop, edição de janeiro de 1976, a seguinte matéria. "Fagner e Ney: A super-dupla". A notícia apontava que a parceria entre os dois estava afiada. “Depois que ele (Ney) e o Fagner improvisaram um show da pesada, em Belô, a experiência acabou em disco”, narra a notícia.
"Não foi preciso nem regravar", contou Fagner à época. E ainda emendou: “O Ney faz o que quer com a voz e aprendi muito com ele”. Por sua vez, Ney, que tinha acabado de deixar o Secos e Molhados foi poético. “Adoro sua forma dilacerada de interpretar uma música. O sotaque nordestino dá um charme maravilhoso”.
Lançado em 1975, pela extinta Continental, o compacto de sete polegadas continha duas canções. O lado A saiu com “Postal de Amor”, parceria de Fagner com Fausto Nilo e Ricardo Bezerra. No lado B era “Ponta do lápis”, de autoria de Clodo Ferreira e Rodger Rogério. Duas verdadeiras pérolas. O disquinho chegou nas lojas em novembro daquele ano e contou com produção de Carlos Alberto Sion.
As gravações aconteceram no Estúdio Level (Rio de Janeiro), nos dias 17, 18 e 19 de outubro de 1975. Uma segunda versão de "Postal de Amor" foi inserida no disco “Pecado” (1977), de Ney Matogrosso. Já Fagner incluiu a faixa no álbum ''Fagner – Entre Amigos” (1990) lançado em LP e CD pela gravadora CBS.
O disco segue procurado até hoje. É o que mostra uma olhada rápida em um site especializado em venda de discos. O valor do compacto chega até R$ 120. A bolachinha também é cotada em euro, cerca de € 30 (R$ 175). E como Daniel Peixoto conheceu essa história? A resposta está nas memórias afetivas.
Infância
“Tem um que de retribuir e ao mesmo tempo referência. Essa música especialmente. Conheci “Postal de Amor” no Crato, na infância. Meus pais ouviam bastante e sempre achei ela linda. Quando me permiti revisitar as obras, essa foi uma que imediatamente decidi que faria. Sempre quis e gostei da música a ponto de querer minha leitura dela”, resgata Peixoto.
A versão 2020 para o trabalho dos bambas Nilo, Bezerra e Fagner visita a melancolia do passado São beats e timbres do pop contemporâneo, quase como a trilha sonora de um filme imaginário, explicam os cantores no material de divulgação do single. Peixoto e Catto cantam uma história de amor trágica e apaixonante, narrada por dois pontos de vista únicos.
O encontro dos dois renderia um clipe. As filmagens aconteceriam nos dias 18 e 19 de março, justamente na semana que foi decretado o isolamento social. O novo coronavírus alterou tudo. As sessões de gravação aconteceram em agosto e setembro do 2019. A ideia era esperar passar Réveillon e Carnaval.
“Como é uma música mais introspectiva, não queríamos concorrer com aqueles milhões de lançamentos. Aconteceu a pandemia e fiquei sendo mais prudente de esperar o momento certo. Ainda estávamos entendendo como é que seriam as coisas. Mas guardar uma música boa na gaveta, esperando... Acho que foi uma hora legal”, conclui Daniel Peixoto.