Djavan convida à esperança no futuro e celebra longevidade de artistas; Fortaleza receberá turnê
O 25º álbum do artista ecoa histórias de amor, vida num mundo sem pandemia e preservação da natureza
As vozes dos filhos e netos de Djavan se somam ao canto do artista na composição feita por ele no litoral alagoano, a música “Iluminado”, que fecha o 25º álbum intitulado ‘D’, lançado na quinta-feira (11). Fora de casa, o vasto repertório atravessa quase 5 décadas com fãs de todas as idades num processo de renovação contínua. Como é produzir arte por tanto tempo?
O cantor deu um tom de luxo ao bate papo com o Diário do Nordeste abordando a criação de músicas para curar o coração depois das dores da pandemia, o envelhecimento de artistas consagrados e a relação dele com o público cearense.
Fortaleza, inclusive, está na rota da próxima turnê, que deve iniciar em março de 2023, como o artista adiantou em entrevista. O disco ‘D’ chega como um alívio por meio de 12 faixas com riqueza de ritmos, do jazz ao samba, e a vocalização única de quem usa a voz como um instrumento original.
“Eu continuo tendo aquela impetuosidade de compor, de criar, de cantar, de fazer shows e isso porque eu estou na música desde sempre. Eu tenho mesmo essa vocação para a música, sempre tive. Então, eu acho que vou estar aí sempre”, indica sobre a presença artística marcada em amores.
São quase 50 anos produzindo uma sonoridade com rigor nas harmonias e nas letras, que compõem a identidade do artista. A cada ciclo de novas canções, Djavan também atualiza os instrumentais de hinos, como “Oceano”, “Se” e “Eu Te Devoro”, que permanecem vivos nos shows, bares e no peito de fãs.
Dessa vez, no entanto, a criação aconteceu num momento de dor causada pela pandemia.
“Ninguém viveu na minha geração um momento tão difícil e extremo. Eu consegui, mesmo produzindo esse disco naquele período – comecei a compôr em junho de 2021 –, me apartar daquela situação e fazer um disco voltado para o otimismo”, comenta, com entusiasmo na voz.
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Durante o processo de divulgação do disco, Djavan reflete também sobre o avançar dos anos. O artista explicou à imprensa que os tremores na cabeça, associados erroneamente a Mal de Parkinson, na verdade são consequência da falta de sono.
O tremor essencial foi diagnosticado e tratado com medicamentos, no que o artista busca regular as noites de descanso, como revelou. “O envelhecimento para mim sempre esteve ligado à saúde, ou à falta dela evidentemente, enquanto há saúde não há envelhecimento”, disse em entrevista.
Essa relação de acompanhar o passar tempo atravessa também os afetos. Ele mantém uma amizade próxima com Milton Nascimento e pôs fim às cobranças por uma parceria entre os dois com a nova música “Beleza Destruída”, sobre o prazer de estar no ambiente natural e a importância de preservar a natureza.
Bituca, como Milton é conhecido, está em turnê de despedida, aos 79 anos. Djavan também acompanha as celebrações de outros colegas. No último domingo (7) esteve na plateia para aplaudir os 80 anos de Caetano Veloso para quem dedicou o neologismo “caetanear” em “Sina”.
Nesse contexto, o alagoano entende os artistas consagrados como referências não só musicais, mas exemplos para a vida dos brasileiros.
“Eu espero que todos os artistas consigam ter saúde para continuar, porque a vida deles nos pertence de algum modo”, analisa. Isso porque a produção artística desses ícones contribui, por exemplo, para o conhecimento sobre si e sobre o mundo.
O que eles criam, produzem, dizem e nos indicam. São pessoas muito caras para nós, para a evolução da sociedade, são pessoas que ajudam o Brasil a crescer, pessoas importantíssimas
“Vida longa num mundo de paz”
"E que a gente volte a rir de tudo / E que a vida seja longa e tudo / Num mundo de paz." O trecho da música “Num Mundo de Paz”, com clipe lançado no dia 30 de junho, exalta o desejo do artista de transmitir felicidade.
O vídeo, aliás, aparece numa roupagem moderna proposta pelo designer Giovanni Bianco, que já fez parceria com artistas internacionais, como Madonna.
Além da sonoridade e escrita próprias, Djavan deixou a postura mais parada em frente ao microfone e desenvolveu uma dança também autoral, que empolga no clipe e nos shows.
E como quem convida para essa dança, as músicas do álbum ‘D’ ecoam histórias de amor, esperança num mundo sem pandemia e preservação da natureza.
Eu espero que as pessoas absorvam essa ideia, de que o futuro nos espera, a gente tem que refundar todos os valores perdidos, temos que abraçar uma nova vibe para conseguir criar uma atmosfera de esperança. Esse é meu desejo e minha expectativa
Saiba o título de cada faixa:
- 1. Primeira Estrada
- 2. Num Mundo de Paz (single)
- 3. Nada Mais Sou
- 4. Cabeça Vazia
- 5. Ao Menos Um Porto
- 6. Beleza Destruída
- 7. Sevilhando
- 8. Você Pode Ser Atriz
- 9. Quase Fantasia
- 10. Rídiculo
- 11. "Êh! Êh!"
- 12. Iluminado
A ideia mesmo, então, é respirar após um período de incertezas, medos e perdas. Por isso, o álbum é “voltado para uma luz e campos de luzes, de pessoas mais felizes e pensando no futuro”, como define o compositor.
“Ou seja, meio que induzido a buscar o futuro, porque eu acho que só ele nos salva de momentos tão dolorosos como a gente viveu e continuamos, de algum modo, vivendo”, conclui.
Relação do Djavan com o Ceará
Esse processo de buscar um futuro de esperança, na verdade, já está em curso. O artista concluiu em junho os shows adiados durante a pandemia. Logo mais vêm as apresentações no Rock in Rio e no Coala Festival.
“De início foi difícil, porque a gente perdeu o timing e a embocadura, mas voltar ao palco é sempre uma coisa que nos revigora e nos empurra para frente. Foi maravilhoso ter voltado a fazer os shows que eu deixei de fazer por causa da pandemia na turnê Vesúvio”, lembra.
Depois dos festivais começa a preparação para a nova turnê, que começa em março de 2023 e deve passar por Fortaleza, como adiantou Djavan ao Diário do Nordeste. Não foram especificadas datas, mas o artista falou sobre o laço com o Ceará.
Eu sou nordestino e tenho uma relação com as coisas do Nordeste muito forte. O sotaque, os hábitos, a comida, o modo de ser e cantar em Fortaleza, que é uma cidade tão linda - talvez a cidade que mais cresceu nos últimos anos - é maravilhoso
O público que espera para ouvir e cantar junto leva uma sensação muito boa, como Djavan observa. No shows, os pedidos por “Pétala” e “Flor de Lis”, por exemplo, surgem da plateia, que também responde com “eu te amo” na pausa de “Oceano”.
Sair de uma apresentação do artista envolve uma somatória de sentimentos - das paixões, medos à esperança na vida. Em terras nordestinas, isso se intensifica.
“O público nordestino é diferente: o cearense, o pernambucano, o alagoano, o paraibano… São pessoas que têm, acho que não só comigo, mas eu sinto muito esse aconchego de um reconhecimento pelo fato de eu também ser nordestino”, reflete.