Após a maternidade, mulheres se descobrem empreendedoras no setor de alimentação

O que a princípio poderia ser um problema para elas, acabou se transformando em uma alternativa "saborosa", tanto para os seus filhos quanto para os clientes que elas estão conquistando no mercado

Escrito por Wolney Batista , wolney.santos@verdesmares.com.br
Legenda: Amanda Cruz, Glicia Bonfim e Sandra Cajazeiras criaram receitas baseadas nas experiências com os filhos
Foto: FOTOS: FABIANE DE PAULA/ KID JUNIOR

Tudo começou assim: "Eu estava lavando o espinafre, folhinha por folhinha, e comecei a pensar quem faria isso para a minha filha quando eu fosse trabalhar. Aí eu tive um estalo: as outras mães também têm essa dificuldade", relembra Amanda Cruz, proprietária da marca Papinha da Mamãe.

A partir desta constatação, ela iniciou um detalhado percurso de pesquisa, estudo e profissionalização. Frequentou um curso técnico de cozinheiro no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), contratou uma nutricionista para lhe auxiliar na fabricação das receitas e procurou um ponto comercial adequado. Após oito meses, nascia a Papinha da Mamãe.

Legenda: Ainda jovem, Amanda Cruz percebeu sua vocação para os negócios
Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

Ainda jovem, Amanda Cruz percebeu sua vocação para os negócios. Graduada em Administração e com MBA em Gestão Empresarial, ela adiou a carreira para embarcar em uma experiência de morar um ano no Canadá. De volta ao Brasil, veio o casamento e a primeira gestação, o que a fez postergar novamente a concretização profissional. Mas foi durante a rotina doméstica, após o nascimento da filha, que a empresária percebeu um nicho de mercado promissor no Ceará.

A marca produz alimentação para crianças a partir dos seis meses de vida. Entre as opções estão sopas, papinhas de fruta, lanches e refeições. Os potinhos para a introdução alimentar são compostos apenas por um mix de legumes triturados e, de acordo com o crescimento da criança, ganham outras variedades como feijão, carne, frango e peixe.

A empresária conta que esse tipo de procedimento atraiu pais de alérgicos alimentares. "A gente faz as papinhas com poucos ingredientes. Então fica fácil da mãe identificar se a criança tem alergia a alguma substância", detalha

Ampliação

Com dois anos de mercado, a empresa funciona em um centro comercial no bairro Parque Manibura, em Fortaleza, e emprega quatro funcionários diretamente e dois, indiretamente. O prédio abriga no térreo uma loja e, no primeiro andar, a área de produção dos itens.

Foto: FOTO: FABIANE DE PAULA

Além de vender no ponto físico e oferecer delivery, a marca revende os produtos para estabelecimentos nos bairros Parquelândia, Maraponga, Aldeota, Guararapes, Cidade dos Funcionários e inclusive para outras cidades, como Sobral. A demanda semanal ultrapassa as mil unidades. "Aqui é uma continuidade da minha maternidade, então a minha satisfação vai renovando a cada novo cliente", diz Amanda com empolgação.

Os bons ventos do negócio já inspiram uma necessidade de ampliação. A proprietária conta que, a curto prazo, pretende aumentar o leque de revenda e transferir a produção para um espaço mais amplo.

Boca a boca

A pedagoga Sandra Cajazeiras também se voltou para a gastronomia após o nascimento da primeira filha, Yandra, de 8 anos. Depois do susto de saber que a primogênita havia nascido com alergia alimentar múltipla - quando o organismo se mostra intolerante a diversas substâncias presentes nos alimentos -, ela decidiu compartilhar as vivências por meio das redes sociais. "A alergia é um mundo muito confuso", conta.

Legenda: A restrição alimentar da filha, inspirou Sandra na criação de pratos e da própria empresa
Foto: FOTO: KID JUNIOR

As receitas criadas por ela geraram interesse dos consumidores de forma despretensiosa, como em conversas com outras mães enquanto esperava a consulta médica da filha. "Como exige um pouco de técnica para o preparo, algumas mães acham mais fácil comprar. E foi pela ideia delas que passei a vender o produto", detalha Sandra.

Em um curso online de alimentação inclusiva conheceu um grupo de profissionais composto por uma bióloga, uma engenheira alimentar e cinco nutricionistas que a auxiliou no desenvolvimento de combinações de substâncias para que as receitas se aproximassem ao máximo dos sabores de um salgadinho ou doce, por exemplo. Atualmente, seis anos depois de criar a Yanutri, ela produz variados tipos de bolo, cookies, coxinhas, pizzas, empadas, entre outras guloseimas saudáveis. Para auxiliar na construção da tabela nutricional de cada item, Sandra contratou uma nutricionista.

Encomendas

A microempresária garante que as compras têm aumentado devido "ao número de pessoas que se preocupam mais com a alimentação e, sobretudo, com a alimentação de crianças com alergia".

Foto: FOTO: KID JUNIOR

Para dar conta dos pedidos, às vezes, ela necessita da ajuda da família. "Quando recebo muitas encomendas meu esposo sempre me ajuda e a gente vira a noite na cozinha", diverte-se.

Ela se prepara agora para dar um passo maior à frente da marca. Em breve, Sandra pretende comprar um fogão industrial, que ajudará a aumentar a produtividade e reduzir o tempo de trabalho.

A empreendedora também quer montar um lugar exclusivo para a empresa. "Já estamos planejando sair da cozinha de casa e deixar totalmente independente. Já andei pensando em um espaço, tenho até um em mente", sonha.

Cozinha criativa

Mãe de três filhos com alergia alimentar múltipla, a filósofa Glicia Bonfim não conseguiu fugir do talento da família. "Sempre gostei de cozinhar. Minha mãe e avó eram confeiteiras. Então eu já tinha história", recorda a proprietária do Fábrica de Gostosuras para Alérgicos.

Legenda: Glicia Bonfim desenvolveu receitas específicas para alimentar os filhos com diagnóstico de alergia alimentar múltipla
Foto: FOTO: KID JUNIOR

Depois de "passar fome", como faz questão de frisar, para inibir a transmissão de qualquer substância agressiva aos filhos através do leite, Glicia criou fórmulas gastronômicas, com ajuda de profissionais da nutrição, sem a presença de ovos, leite, glúten, oleaginosas e farinha de trigo. "Na primeira vez que postei as receitas no Facebook, uma médica que também tem filha com alergia alimentar entrou em contato, comprou meus produtos e passou a divulgar. Desde então, há seis anos, eu não parei mais de vender", orgulha-se. Instantaneamente, segundo ela, cerca de 30 clientes a procurou na rede social.

"Meu público, apesar de restrito, é bastante fiel e necessita de tudo que eu faço, por uma questão de nutrição. Além disso, tem as pessoas que consomem porque querem ter uma vida mais saudável e que adotaram o veganismo", situa.

Foto: FOTO: KID JUNIOR

Glicia calcula que desenvolveu 125 receitas adaptadas na criação de alimentos semelhantes aos pães francês, de forma, australiano, de coco, entre outros. Comercializa também salgadinhos, docinhos, brigadeiro, sobremesas, ovo de Páscoa, chocolate, trufa, alfajor, além de refeições como creme de galinha, lasanha e tortas doces e salgadas.

As vendas chegaram em um momento oportuno para a família. "Essa passou a ser minha principal renda. Nessa época, meu marido ficou desempregado, não pude mais trabalhar porque tinha três bebês. E meu pai, que às vezes nos dava um suporte, ficou paraplégico", relembra os dias difíceis. Hoje, atua em um ateliê equipado com máquinas industriais e projeta o futuro. "Quero expandir, mas não passar todo o tempo dentro da empresa. Quero palestrar. Pretendo trabalhar parte do meu tempo principalmente com mães de filhos com alergia alimentar, porque eu passei isso na pele e sei o quanto é doloroso", ansia em transformar as dificuldades em um exemplo positivo.

Serviço

Fábrica de Gostosuras para Alérgicos
Informações: (85)98741.0313 e no perfil do Instagram

Papinha da Mamãe
Rua Antenor Rocha Alexandre, 260, Parque Manibura.
Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 9h às 18h; sábado, das 9h às 13h.
Informações: (85) 98406.4512 e no perfil do Instagram

Yanutri
Informações: (85) 98744.1601 e no perfil do Instagram

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