Anna Muylaert lança comédia política em Gramado: “eu acredito no cinema brasileiro e na autoria”

Diretora participa da competição do Festival de Cinema de Gramado com o longa-metragem inédito “O Clube das Mulheres de Negócios”

Escrito por Diego Benevides* , verso@svm.com.br
Diretora de “Durval Discos” (2002) e “Que Horas Ela Volta?” (2015) lança filme no Festival de Cinema de Gramado
Legenda: Diretora de “Durval Discos” (2002) e “Que Horas Ela Volta?” (2015) lança filme no Festival de Cinema de Gramado
Foto: Aline Arruda

Em Gramado (RS) para apresentar o seu novo filme, a cineasta Anna Muylaert discursou fortemente sobre os novos modos de produção e consumo de produtos audiovisuais, sobretudo de obras brasileiras. Na noite do último sábado (10), Muylaert subiu ao palco do Palácio dos Festivais ao lado de um grande elenco quase inteiramente feminino e reafirmou o papel da 52ª edição do Festival de Cinema de Gramado como espaço fundamental para o cinema nacional de autor.

A cineasta relembrou de todas as suas passagens pelo festival, desde a época em que era curta-metragista, passando pela atuação como jurada e as exibições de dois dos seus filmes mais aclamados, “Durval Discos” (2022) e “Que Horas Ela Volta?” (2015).

Reconhecendo que o cinema brasileiro enfrenta um momento difícil junto ao público, que consome cada vez mais narrativas curtas e em telas pequenas, Muylaert foi incisiva quanto às empresas que dominam hoje o mercado audiovisual.

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“Também houve uma invasão das multinacionais do audiovisual americanas que estão fazendo produções a partir de outros parâmetros do que o que o cinema faz. Eles trabalham muito a partir de números e estão mudando a forma de ver filmes e de produzir filmes. E eu tenho a impressão de que eles estão diminuindo a importância da autoria cinematográfica, sendo mais importante a empresa, a multinacional, do que o diretor e o autor. Acho que está sendo rebaixada essa importância”, disse a diretora.

Para Muylaert, a desconsideração de tais empresas quanto ao cinema de autor, aquele que provoca e movimenta o pensamento sobre as múltiplas linguagens do cinema brasileiro hoje, deixa tudo menos vivo e desimportante. Em sua fala, a diretora fez referência ao trabalho de Paulo Emílio Sales Gomes, importante crítico, pesquisador e defensor do cinema realizado no Brasil.

“Eu acho que o cinema brasileiro, como disse o Paulo Emilio Sales Gomes, independentemente da qualidade, sempre será mais interessante para nós do que qualquer filme estrangeiro. Eu acredito no cinema brasileiro e na autoria. Que o cinema brasileiro tenha vida longa e que tenha sangue”
Anna Muylaert
Diretora de cinema

O clube das mulheres de negócios

“O Clube das Mulheres de Negócios” tem previsão de estreia para novembro em circuito comercial
Legenda: “O Clube das Mulheres de Negócios” tem previsão de estreia para novembro em circuito comercial
Foto: Aline Arruda

O novo filme de Muylaert abriu a mostra competitiva de longas-metragens brasileiros no último sábado (10) com a primeira exibição de “O Clube das Mulheres de Negócios”, comédia que discute as relações de poder por meio da inversão dos papéis de gênero. “Esse é um filme muito provocativo e tem múltiplas formas de ser visto e lido, mas posso dizer que todo mundo que está aqui fez esse filme com sangue, com muito amor e muitas mãos dadas”, definiu a diretora.

O clube que intitula a obra é formado por um elenco estelar de mulheres já consagradas por seus trabalhos de humor em projetos como Terça Insana, Zorra Total e TV Pirata, entre elas Louise Cardoso, Katiuscia Canoro e Grace Gianoukas. A proposta política do longa está em questionar o comportamento da estrutura patriarcal a partir de um olhar feminino coletivo e solidário que, por meio do incômodo, estimule debates essenciais sobre a união entre mulheres.

Aos poucos, a comédia dá espaço para o suspense e reflete sobre uma série de violências enfrentadas pelas mulheres dentro e fora do filme. Ainda participam do elenco os atores Rafael Vitti e Luis Miranda, além de atrizes Cristina Pereira, Irene Ravache, Polly Marinho, Helena Albergaria, Shirley Cruz, Ítala Nandi, Maria Bopp, Verônica Debom, entre outros.

A programação do Festival de Cinema de Gramado continua até o dia 17 de agosto e é marcada pela forte presença de curtas e longas-metragens realizados por mulheres.

“Eu queria dizer o quanto esse festival é mais importante do que nunca porque aqui temos sete autores, dos quais quatro mulheres, que é algo muito bom. Celebro também a Ancine porque sem ela não haveria o cinema brasileiro dos últimos anos. Essa ideia de autor eu acho fundamental porque qualquer obra de arte, seja cinema, teatro ou literatura, demanda humanidade, demanda sangue, demanda cuspe e, como diria Cláudio Assis em ‘Amarelo Manga’, estômago e sexo”. 

*Colaboração especial para o Verso do Festival de Gramado