Erosão do solo e infiltrações de água das fortes chuvas que atingem todo o estado de Minas Gerais há dias, podem ter sido as responsáveis pelo desabamento de um paredão no lago de Furnas, em Capitólio (MG), segundo apontaram especialistas ouvido pelo Portal G1. Há, também, outras hipóteses para a tragédia, como a falta de um mapeamento de riscos da região e o fato de que paredões e falésias costumam ceder naturalmente.
A queda do paredão, ocorrida na tarde deste sábado (8), deixou pelo menos 8 mortos e dezenas de feridos. Há ainda desaparecidos. A Marinha do Brasil informou que um um inquérito será instaurado para apurar as causas e a Polícia Civil também também já investiga o caso. A Marinha também vai investigar se os barcos de passeio poderiam estar ali, dadas as condições climáticas e os alertas meteorológicos.
Além das chuvas intensas dos últimos dias, pesa o fato de a região ser basicamente formada por rochas que possuem uma resistência menor ao volume de água.
"A entrada de água nessas áreas pode fazer a rocha perder a coesão, que é a resistência interna. E pode haver uma ruptura como essa", explicou tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, ao G1.
Fábio Braz, da Sociedade Brasileira de Geologia, também acredita que as chuvas contribuíram para a queda. "Essa questão das chuvas muito intensas, por períodos muito longo, [faz] o solo se encharcar. O sedimento se enxarca e não existe mais aquela penetração ao longo da superfície, então começa haver o escoamento".
Fenômeno natural
Gustavo Cunha Melo, especialista em gerenciamento de risco, explicou em entrevista à Globo News que a rocha que despencou aparentava estar com muita erosão. Ele também afirma que a queda é parte de um fenômeno natural.
Desabamento de falésias acontecem em algumas praias do nordeste. E, no caso desse cânion, são acidentes naturais, eles vão acontecer. Essa rocha estaca com muita erosão, totalmente fragmentada. Aparece uma cicatriz incrível na rocha e ali iria desabar em algum momento.
"A tromba d’água pode explicar o desabamento neste momento? Pode, assim como também não precisava nada – ela ia desabar em algum momento por erosão, por um processo natural", afirmou.
Na opinião de Tiago Antonelli, do Serviço Geológico do Brasil, esse tipo de queda é natural em formações rochosas. "A queda, no meu ponto de vista, está ligada a vários fatores, mas principalmente, nesta época do ano, às chuvas que percolaram as trincas e fraturas que existem. A chuva acelera tanto a formação quanto o tamanho dessas trincas", dise.
"Esse tipo de evento é natural e ocorre aos milhares no Brasil inteiro. O que acontece é que hoje o turismo está avançando para regiões que antes não se conheciam. E hoje as pessoas estão portando celular e câmera fotográfica e, com isso, conseguem relatar esse tipo de evento e até sofrer com as consequências. Mas, no meu entendimento, é um evento natural que acontece aos montes no Brasil inteiro", completou.
Mapeamento de riscos
Segundo Joana Paula Sanchez, especialista em turismo geológico e professora da Universidade Federal de Goiás, a existência de um mapeamento técnico da região poderia ter evitado que pessoas estivem tão próximas de uma área de risco.
"Nessa região, que tem muito quartzito, que sofreu uma deformação, é comum que essas rochas sejam fraturadas. Cair um paredão de pedras não é tão comum, mas pode acontecer", afirmou.
Para Sanchez, as mortes poderiam ter sido evitadas caso existisse um mapeamento geológico da região -- e que essas informações fosse usadas para que autoridades impedissem barcos e turistas chegassem tão próximo das pedras, principalmente em época de chuvas.
"O que acontece hoje em dia é que a gente não tem mapeamento geológico, nesses locais, de uso turístico. É muito raro existir uma análise geotécnica, uma análise por um geólogo, de riscos desses locais", disse.
"A gente não tem, nos espaços turísticos, um mapeamento geológico técnico. E falta mesmo. Faltam profissionais, mas falta muito mais as gestões públicas saberem que o geólogo não é só para mineração. A gente trabalha também com risco de acidente. Esse acidente poderia ter sido evitado, sim. Esse bloco já estava se deslocando da parede, dá pra ver que ele já estava fraturado."
O prefeito de Capitólio, Cristiano Silva, disse em entrevista à Globo News que nenhuma norma impedia as lanchas de estar naquele local, próximas do paredão. Segundo ele, o que não pode é atracar no cânion para que os banhistas entrem na água.