Climatério ou menopausa? Entenda como saber se está entrando nessa fase e o que muda no corpo

Ondas de calor, insônia, irritabilidade e alterações no corpo podem ser sinais de que o ciclo reprodutivo da mulher está chegando ao fim

Escrito por
Amanda Andrade* producaodiario@svm.com.br
Despertador rosa e símbolo feminino em cubo de madeira, representando a relação entre o tempo e as questões de gênero durante o climatério.
Legenda: O climatério é um período de transição na vida da mulher, marcado por mudanças hormonais que afetam o ritmo de vida e a percepção do tempo.
Foto: Shutterstock

Ondas de calor, insônia, irritabilidade e alterações no corpo podem ser sinais de que o ciclo reprodutivo da mulher está chegando ao fim. Mas será que isso significa que a menopausa começou? Ao Diário do Nordeste, especialistas explicam que, na verdade, esses sintomas fazem parte do climatério — um período muito mais longo e cheio de mudanças, que ainda é confundido com a menopausa.

Qual a diferença entre climatério e menopausa?

Segundo a médica ginecologista Karinne Azin*, o climatério é um processo que pode durar anos, e que envolve alterações hormonais antes e depois da última menstruação. Também é diferente da menopausa, ainda que os termos sejam frequentemente usados como sinônimos.

“A menopausa refere-se a um evento específico, ou seja, a data da parada permanente da menstruação. Já o climatério é um termo mais abrangente, que descreve uma fase de transição hormonal antes e depois da menopausa”, explica a especialista.

Além disso, Karinne Azin reforça que compreender a diferença entre os termos climatério e menopausa é essencial, inclusive do ponto de vista médico. 

"O reconhecimento do climatério como um período de transição permite que intervenções preventivas, como mudanças no estilo de vida e terapias hormonais, sejam iniciadas antes da cessação completa da menstruação, visando diminuir os efeitos adversos da queda dos níveis de estrogênio”, esclarece. 

Como saber se está entrando no climatério?

Um dos principais sinais é a irregularidade do ciclo menstrual. Mudanças de humor, suores noturnos, insônia e alteração na libido também são comuns. Mas como eu sei que estou entrando no climatério? Isso pode ser percebido por uma série de sinais físicos e emocionais que variam de mulher para mulher. Segundo a médica, o climatério é um processo que “pode se estender por várias décadas” e começa geralmente por volta dos 40 anos. 

A ginecologista esclarece que, entre os primeiros indícios, estão as alterações no ciclo menstrual, que passam a ficar mais irregulares, além de sintomas como ondas de calor (fogachos), insônia, alterações de humor, diminuição da libido, ganho de peso, ressecamento vaginal e mudanças na pele e nas mucosas. Esses sintomas costumam surgir ainda na fase da pré-menopausa, quando os níveis hormonais começam a oscilar, mesmo que a menstruação ainda ocorra.

“Esses sintomas afetam o sistema nervoso central, a função sexual, o metabolismo, o sistema musculoesquelético e genito-urinário”, explica Karinne Azin.

Entre os sintomas mais comuns do climatério, estão:

  • Ondas de calor (fogachos)
  • Distúrbios do sono
  • Alterações de humor e memória
  • Ressecamento vaginal
  • Diminuição da libido
  • Ganho de peso
  • Dor articular
  • Perda muscular
  • Queda na elasticidade da pele

Mulher mais velha com expressão cansada, sentada em um sofá, em frente ao ventilador, retratando os desafios emocionais e físicos enfrentados por muitas mulheres durante o climatério.
Legenda: O climatério pode trazer desafios emocionais e físicos para as mulheres, como alterações de humor e sensação de cansaço.
Foto: Shutterstock

E o que é a pré-menopausa? Como acontece esse fase? 

A ginecologista explica que o climatério é dividido em três fases: pré-menopausa, perimenopausa e pós-menopausa.

“Na pré-menopausa, as mulheres apresentam sintomas associados ao padrão do ciclo menstrual, além de sintomas relacionados à flutuação no humor”, diz Karinne Azin.

Já na perimenopausa, os ciclos menstruais começam a falhar, e os sintomas físicos e emocionais ficam mais evidentes. Já a pós-menopausa começa após 12 meses sem menstruar, mas não encerra os efeitos hormonais no corpo.

O que muda no corpo da mulher durante o climatério?

Com a queda do estrogênio e do estradiol, há um impacto direto no metabolismo, na distribuição de gordura corporal e no funcionamento do cérebro, como explica a ginecologista.

“Pode haver aumento da gordura visceral, inflamação crônica, alterações na taxa metabólica basal, maior risco de doenças cardiovasculares e perda óssea”, alerta Karinne.

O que a menopausa causa no corpo, como se vê em muitas buscas online, na verdade é consequência das transformações vividas ao longo do climatério.

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Como aliviar os problemas e as consequências do climatério

Para lidar com os sintomas e as mudanças do climatério, o cuidado com a saúde da mulher precisa ir além dos tratamentos convencionais. A enfermeira especialista em saúde da mulher Beatriz Queiroz* ressalta que é essencial adotar uma abordagem integral, que considere corpo, mente e contexto de vida.

“O climatério é uma fase natural, mas cheia de mudanças físicas e emocionais. Para passar por esse momento com mais tranquilidade, é importante cuidar do corpo como um todo: manter uma alimentação rica em cálcio, vitamina D e ferro, praticar atividade física com regularidade, dormir bem e buscar formas saudáveis de lidar com o estresse”, avalia a especialista.

Beatriz Queiroz reforça que o cuidado emocional deve caminhar alinhado com o físico. Ela chama atenção para a importância do acompanhamento com profissionais de saúde, não apenas para prevenir doenças como osteoporose e problemas cardiovasculares, mas também para promover o bem-estar emocional. 

“Alterações hormonais podem provocar irritabilidade, ansiedade e até quadros depressivos. Conversar, ser ouvida e ter suporte emocional pode fazer toda a diferença. O autocuidado, a espiritualidade, a escuta empática e a terapia são aliados importantes nessa fase”, explica.

A enfermeira também destaca que terapias integrativas, como acupuntura, fitoterapia, meditação, aromaterapia e fisioterapia pélvica, também podem ser aliadas no alívio de sintomas como os fogachos, a insônia e a ansiedade. O mais importante, segundo a enfermeira, é que o cuidado respeite a individualidade de cada mulher, promovendo acolhimento, escuta ativa e ações de autocuidado que façam sentido em sua rotina.

Mão de uma profissional de saúde aplicando agulhas de acupuntura no pescoço de uma mulher, representando um tratamento alternativo para os sintomas do climatério.
Legenda: A acupuntura é um tratamento complementar eficaz para aliviar os sintomas do climatério, como ondas de calor, irritabilidade e distúrbios do sono.
Foto: Shutterstock

Como manter a saúde íntima e a libido durante o climatério?

As mudanças hormonais que ocorrem durante o climatério afetam não somente o corpo, mas também a sexualidade da mulher. A queda nos níveis de estrogênio pode provocar ressecamento vaginal, desconforto durante a relação sexual e diminuição do desejo. No entanto, como destaca a enfermeira Beatriz Queiroz, a libido não depende apenas dos hormônios. 

“A libido vai muito além dos hormônios. Ela é influenciada pela rotina, pelo nível de estresse, pelo relacionamento com o parceiro, pelo cansaço físico e até pela autoestima”, ressalta a especialista.

Para cuidar da saúde íntima durante o climatério, é possível adotar medidas como o uso de hidratantes vaginais, lubrificantes à base de água, tratamento hormonal local e fortalecimento do assoalho pélvico com fisioterapia. Mas manter a libido vai além do físico: envolve autocuidado, resgate do prazer e qualidade na relação afetiva.

“Manter o desejo também passa por cuidar de si, reservar tempo de qualidade para o casal, resgatar o prazer e se sentir segura emocionalmente”, destaca a enfermeira Beatriz Queiroz.

Quem está no climatério precisa fazer reposição hormonal?

Nem toda mulher que está no climatério precisa fazer reposição hormonal. A ginecologista Karinne Azin explica que a terapia de reposição hormonal (TRH) pode ser indicada quando os sintomas estão afetando significativamente a qualidade de vida, especialmente em casos de fogachos (ondas de calor), sudorese noturna, ressecamento vaginal, alterações de humor e distúrbios do sono.

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Já a enfermeira Beatriz Queiroz complementa que a TRH é uma opção válida, mas que deve ser considerada dentro de um plano de cuidado individualizado, que leve em conta outros aspectos da saúde da mulher.

Mulher segurando comprimidos, ilustrando os tratamentos médicos necessários durante as transformações hormonais do climatério.
Legenda: Nem toda mulher que está no climatério precisa fazer reposição hormonal.
Foto: Shutterstock

Ela reforça que, para além dos hormônios, é possível recorrer a terapias complementares, como fitoterapia, fisioterapia pélvica e mudanças no estilo de vida, desde que com acompanhamento profissional.

“A ginecologia natural e integrativa oferece estratégias que respeitam a individualidade da mulher e promovem um cuidado mais amplo”, explica a enfermeira.

Quem pode fazer reposição hormonal?

A reposição hormonal não é indicada para todas as mulheres e deve ser iniciada somente após avaliação médica criteriosa. Karinne Azin esclarece que há contraindicações importantes, como histórico de câncer de mama, trombose, doenças cardiovasculares descompensadas ou mais de 10 anos após a menopausa.

“A decisão deve ser individualizada e sempre acompanhada por um médico que irá utilizar as melhores evidências disponíveis para maximizar os benefícios e minimizar os riscos”, detalha.

Qual o papel da alimentação e da suplementação durante o climatério?

A alimentação exerce um papel fundamental no controle dos sintomas do climatério e na manutenção da saúde da mulher nessa fase. De acordo com a nutricionista Karine Sabóia****, uma dieta equilibrada contribui para a modulação hormonal e ajuda a amenizar sintomas como ondas de calor, alterações de humor, insônia e ganho de peso.

“Isso acontece porque certos nutrientes influenciam diretamente a produção de neurotransmissores, o metabolismo estrogênico e a resposta inflamatória”, explica Karine.

Símbolo feminino em bloco de madeira, representando de forma simbólica as transformações biológicas e a identidade de gênero durante o climatério.
Legenda: A alimentação exerce um papel fundamental no controle dos sintomas do climatério e na manutenção da saúde da mulher nessa fase.
Foto: Shutterstock

Quais alimentos podem ajudar no climatério?

Alimentos ricos em fitoestrógenos, como soja, linhaça e grão-de-bico, podem colaborar com a regulação hormonal. Já alimentos fontes de triptofano, como banana, ovos e aveia, favorecem a produção de serotonina e melatonina, auxiliando na melhora do humor e do sono.

Quais alimentos não comer durante o climatério?

De acordo com a nutricionista, é indicado evitar alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, cafeína em excesso, álcool e alimentos com alto teor de gordura saturada. 

"Esses itens podem aumentar inflamação, dificultar o controle glicêmico e potencializar sintomas como ondas de calor, irritabilidade e alterações no sono, explica.

É necessário fazer suplementação durante o climatério?

Em relação à suplementação, a nutricionista ressalta que ela pode ser necessária em alguns casos, principalmente de vitamina D, cálcio, magnésio, complexo B e ômega-3, mas sempre com base em exames e avaliação individual. “A avaliação deve ser individualizada, com base em exames e sintomas clínicos”, orienta a nutricionista.

As mulheres engordam no climatério?

A nutricionista Karine Sabóia explica que, durante a fase de transição hormonal, as mulheres tendem a ganhar peso, especialmente na região abdominal

“Essa mudança ocorre devido à redução dos níveis de estrogênio, que afeta o metabolismo, além de um menor gasto energético basal e a piora na qualidade do sono”, explica. 

Karine também observa que a resistência à insulina pode aumentar, dificultando ainda mais o controle do peso. Para contornar esses desafios, ela recomenda “manter uma alimentação equilibrada, focando em fibras e proteínas magras, além de praticar atividade física regular, que deve incluir tanto musculação quanto exercícios aeróbicos.” 

A nutricionista reforça que garantir uma boa qualidade do sono é essencial para o bem-estar e para o controle do peso durante essa fase.

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*Estagiária sob a supervisão do editor Felipe Mesquita

**Karinne Azin é médica graduada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com residência em Ginecologia e Obstetrícia na Maternidade Escola Assis Chateaubriand (UFC) e em Endoscopia Ginecológica no Hospital Geral César Cals. É Fellow em Uroginecologia, com foco em estudo urodinâmico e cirurgia vaginal, também pelo Hospital Geral César Cals, e em Endoscopia Ginecológica pelo Instituto Crispi, em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora. Possui os títulos de especialista em Ginecologia e Obstetrícia e em Endoscopia Ginecológica, ambos concedidos pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e pela Associação Médica Brasileira (AMB).

***Beatriz de Queiroz é enfermeira obstetra e ginecológica, especialista em saúde da mulher, métodos contraceptivos de longa duração e estética íntima, com atuação em Fortaleza, Itapajé e Itapipoca . É mestranda em tecnologia e inovação em saúde pela Universidade de Fortaleza e pioneira no interior do Ceará na implantação de consultórios de enfermagem em saúde da mulher voltados ao cuidado íntimo e reprodutivo da mulher. Cristã, une ciência, empatia e fé no acolhimento das mulheres em todas as fases da vida. Além da prática clínica, Beatriz capacita profissionais de saúde com foco em ginecologia, contracepção e empreendedorismo feminino.

****Karine Sabóia  é nutricionista formada pela centro universitário Christus (Unichristus), pós-graduada em Emagrecimento e obesidade pelo Instituto Inades, pós-graduada em comportamento e transtornos alimentares pelo Instituto Inades, pós-graduanda em Nutrição esportiva funcional  pela Faculdade VP, pós-graduanda em Nutrição funcional à saúde da mulher e estética  pela Faculdade VP. Perfil no Instagram @drakarinecsaboia

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