Ondas de calor na menopausa: novo medicamento não hormonal reduz fogacho e melhora insônia

Em estado avançado de estudo, o remédio promete combater sintomas vasomotores e aumentar a qualidade de vida nesta fase

Legenda: A previsão é que a droga seja lançada no mercado em 2025, e chegue ao Brasil dois anos após
Foto: Shutterstock

Súbitas ondas de calor, geralmente acompanhadas por suor, vermelhidão na pele e insônia são alguns dos sinais associados à menopausa. Iniciada, normalmente, entre os 45 e 55 anos, a etapa marca o fim da fase reprodutiva em pessoas com útero, e, quando sintomática, pode reduzir a qualidade de vida nesses indivíduos.

Atualmente, o principal tratamento dos fogachos é a reposição hormonal, porém, ela não é bem aceita entre os pacientes, devido a diversos fatores, entre eles o tabu que existe no público e as contraindicações. Segundo o ginecologista Nilson Roberto de Melo, especialista em menopausa, somente cerca de 10% desse público utiliza o método.  

No entanto, o mercado de terapia contra os sinais dessa fase deve ganhar uma opção não hormonal nos próximos anos. Essa é a previsão da farmacêutica alemã Bayer, que convidou o Diário do Nordeste, nesta semana, para um evento na cidade de São Paulo. Na ocasião, foram apresentados os resultados avançados de um medicamento experimental que demonstrou reduzir significativamente os sintomas vasomotores em pessoas com útero.

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O chamado elinzanetant é o primeiro antagonista dual do receptor de neurocinina-1,3 (NK-1,3) em desenvolvimento como tratamento oral não hormonal de sinais, moderados a graves, associados à menopausa. A droga já foi analisada em dois estudos clínicos e está em um terceiro (OASIS 1, 2 e 3), todos de fase III — a última antes de chegar ao mercado —, e vem apresentando, consistentemente, resultados positivos.

Como explica o vice-presidente de assuntos médicos da Bayer para o Brasil e a América Latina, Eli Lakryc, as ondas de calor características dessa fase da vida de pessoas com útero são provocadas pela redução do estrogênio. A queda desse hormônio estimula um neurônio chamado KNDY, descoberto há mais de uma década, que fica localizado no hipotálamo e atua na regulação da temperatura corporal. 

O ser humano vive em uma temperatura de 37 °C. Quando esse neurônio KNDY está estimulado, pela falta de estrogênio, a temperatura aumenta e acontecem as ondas de calor. A Bayer com esse novo medicamento, elinzanetant, inibe a produção dessas duas neurocininas. Inibida essa produção, ela deixa de estimular esse nerônio KNDY e você tem melhora das ondas de calor e da insônia".
Eli Lakryc
Vice-presidente de assuntos médicos da Bayer

O Ministério da Saúde define que a menopausa é caracterizada pela ausência de menstruação — amenorreia — por 12 meses consecutivos. Segundo dados divulgados pela Bayer, mais de um terço das pessoas com útero nessa fase relata sintomas graves, que podem durar 10 anos ou mais, impactando a qualidade de vida.

Eli Lakryc, vice-presidente de assuntos médicos da Bayer, apresenta resultados de estudos com elinzanetant em 3 de junho de 2024, em São Paulo. Ondas de calor na menopausa: novo medicamento não hormonal reduz fogacho e melhora insônia
Legenda: Farmacêutica divulgou resultados para a imprensa em evento realizado na segunda-feira (3)
Foto: Divulgação Bayer/ Marcelo Ribeiro

Os resultados da última pesquisa clínica devem ser divulgados em setembro deste ano. A previsão da farmacêutica é de que o medicamento seja lançado no mercado em 2025, nos Estados Unidos, e chegue cerca de dois anos depois no Brasil.
 

Até 2030, estima-se que a população mundial vivenciando a menopausa aumentará para 1,2 bilhão, com 47 milhões de novas pessoas entrando nessa fase a cada ano.

Uso em pacientes com câncer de mama

Além da atual pesquisa clínica, o elinzanetant também é analisado em outro estudo, o OASIS 4, que visa descobrir as vantagens do uso do medicamento em pacientes com câncer de mama que usam antagonistas de estrogênio. Por terem os níveis desse hormônio reduzidos, essas pessoas também podem sofrer com os sintomas vasomotores.

Os resultados da pesquisa devem ser divulgados no fim do próximo ano, segundo Eli Lakryc, e caso sejam positivos, podem apontar novas indicações para a droga.