O que são os hormônios femininos, para que servem e qual a importância para a saúde

A ocitocina, considerada o principal hormônio associado ao prazer feminino, também é conhecida como o "hormônio do amor"

Escrito por Raísa Azevedo , raisa.azevedo@svm.com.br
profissional segurando ilustração de um útero
Legenda: Os hormônios trabalham em conjunto para regular o ciclo menstrual e a fertilidade feminina, além de desempenharem papéis em outros sistemas do corpo
Foto: Shutterstock

Os hormônios femininos são substâncias químicas produzidas principalmente pelas glândulas endócrinas, como os ovários e a hipófise, que regulam diversos processos no corpo, especialmente relacionados à função reprodutiva, desenvolvimento sexual e equilíbrio do ciclo menstrual, define a médica endocrinologista Rebeca Pinheiro, do Centro Integrado de Diabetes e Hipertensão (CIDH), unidade da rede da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).

Quais são os hormônios femininos? 

Entre esses hormônios, estão a prolactina, o AMH (hormônio antimulleriano), o FSH (hormônio folículo-estimulante) e o LH (hormônio luteinizante). Segundo a especialista, esses hormônios trabalham em conjunto para regular o ciclo menstrual e a fertilidade feminina, além de desempenharem papéis em outros sistemas do corpo. (Veja descrição abaixo)

Prolactina 

A prolactina é produzida principalmente durante a estimulação da produção de leite (lactação) nas glândulas mamárias após o parto.

É um hormônio originado pela hipófise e também tem função na regulação do sistema imunológico e na manutenção do equilíbrio dos níveis de outros hormônios sexuais. No entanto, se estiver em níveis elevados, pode inibir a ovulação, dificultando a gravidez.

AMH 

O AMH (hormônio antimulleriano) é produzido pelas células dos folículos ovarianos em desenvolvimento. Ele age como um marcador da reserva ovariana, ou seja, indica quantos óvulos uma mulher ainda tem.

Níveis mais altos de AMH estão associados a uma maior quantidade de folículos e óvulos nos ovários. É frequentemente medido em testes de fertilidade para avaliar a saúde ovariana e o potencial de fertilidade da mulher.

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FSH

Também produzido pela hipófise, o FSH (hormônio folículo-estimulante) estimula o crescimento dos folículos ovarianos (que contêm os óvulos) nos ovários. Durante o ciclo menstrual, contribui para o desenvolvimento e a maturação dos óvulos.

O FSH tem um pico no início do ciclo menstrual, promovendo o crescimento dos folículos. Em níveis altos e persistentes, pode indicar uma diminuição da reserva ovariana ou menopausa.

LH

O LH (hormônio luteinizante) é outro hormônio produzido pela hipófise, e sua função principal é desencadear a ovulação. Ele estimula a liberação do óvulo maduro do folículo ovariano, o que ocorre no meio do ciclo menstrual.

Após a ovulação, o LH ajuda a manter a função do corpo lúteo, que é responsável pela produção de progesterona. Um aumento repentino de LH (chamado de “pico de LH”) é o que provoca a ovulação. É esse aumento que os testes de ovulação caseiros geralmente detectam, explica a endocrinologista.

Qual o hormônio do prazer feminino?

A ocitocina, considerada o principal hormônio associado ao prazer feminino, também é conhecida como o “hormônio do amor”.

A ocitocina é liberada em grandes quantidades durante momentos de intimidade física, como no orgasmo, no parto e na amamentação. Ela promove a sensação de bem-estar, afeto e vínculo emocional.

Além da ocitocina, Rebeca Pinheiro também cita outros neurotransmissores e hormônios que estão envolvidos no prazer feminino:

  • Dopamina: Associada ao sistema de recompensa e à sensação de prazer e satisfação. É liberada durante momentos de prazer, como o sexo e o orgasmo.
  • Serotonina: Relacionada ao humor e à sensação de felicidade e bem-estar, tendo impacto indireto no prazer sexual.
  • Endorfinas: Hormônios naturais do corpo que atuam como analgésicos e proporcionam uma sensação de euforia e relaxamento após o sexo.

Esses compostos trabalham juntos para promover sensações de prazer, relaxamento e conexão emocional durante e após momentos de intimidade.

Quais os sintomas da disfunção hormonal?

médica explica taxa de hormônio para paciente
Legenda: A decisão de iniciar a reposição hormonal deve ser feita em conjunto com o médico, levando em conta os riscos, benefícios e as preferências da mulher
Foto: Shutterstock

De acordo com a especialista, a disfunção hormonal pode causar diversos sintomas, dependendo de quais hormônios estão desequilibrados. Em mulheres, os hormônios reprodutivos, como estrogênio, progesterona, testosterona, além dos hormônios da tireoide e adrenal, podem afetar a saúde.

É importante lembrar que os sintomas podem variar em intensidade e duração, e muitas vezes podem estar relacionados a condições médicas subjacentes, como a síndrome do ovário policístico (SOP), disfunções da tireoide ou até mesmo a menopausa. É essencial consultar um médico para avaliação e diagnóstico caso haja suspeita de desequilíbrio hormonal
Rebeca Pinheiro
médica endocrinologista

Entre os sintomas mais comuns relacionados à disfunção hormonal, estão:

  1. Irregularidades menstruais, ciclos muito curtos ou longos, menstruações ausentes (amenorreia) ou menstruações muito intensas;
  2. Alterações de humor, irritabilidade ou ansiedade; depressão ou sentimentos de tristeza intensa; fadiga crônica, sensação de cansaço sem motivo;
  3. Mudanças no peso e apetite, ganho de peso inexplicável ou dificuldade em perder peso; aumento do apetite ou compulsão alimentar; dificuldade em ganhar massa muscular;
  4. Problemas de pele e cabelo; acne ou aumento da oleosidade da pele, queda de cabelo ou afinamento capilar; ressecamento da pele ou pele muito sensível; crescimento de pelos faciais ou corporais excessivos (hirsutismo);
  5. Problemas do sono; Insônia ou dificuldade para dormir; sono de baixa qualidade ou acordar frequentemente durante a noite; sensação de não estar descansado ao acordar;
  6. Diminuição da libido e problemas sexuais; baixo desejo sexual (libido); dificuldade em alcançar o orgasmo ou disfunção sexual;
  7. Problemas digestivos; inchaço, gases ou prisão de ventre; alterações no metabolismo que afetam a digestão;
  8. Sintomas relacionados ao sistema reprodutivo; infertilidade ou dificuldade para engravidar; sintomas da menopausa precoce (como ondas de calor e suores noturnos); dor durante as relações sexuais (geralmente associada à baixa de estrogênio);
  9. Sintomas de distúrbios da tireoide; hipotireoidismo: cansaço, ganho de peso, intolerância ao frio, pele seca; hipertireoidismo: perda de peso inexplicável, agitação, ansiedade, sudorese excessiva;
  10. Alterações na massa óssea; redução da densidade óssea, levando à osteoporose (geralmente associada à baixa de estrogênio);
  11. Sintomas relacionados à resistência à insulina; desejo por alimentos doces ou carboidratos; fadiga após comer; dificuldade em controlar o açúcar no sangue.

Quais os hormônios produzidos na gravidez?

mulher grávida
Legenda: Hormônios trabalham em conjunto para garantir o desenvolvimento saudável do bebê, a adaptação do corpo da mãe e a preparação para o parto e a amamentação
Foto: Shutterstock

Durante a gravidez, o corpo da mulher produz diversos hormônios que desempenham papéis cruciais no desenvolvimento do feto, na preparação do corpo para o parto e na adaptação às novas demandas físicas. Estes são os principais hormônios produzidos na gravidez:

Gonadotrofina Coriônica Humana (hCG)

Produzido logo após a concepção pelo trofoblasto (células que formam a placenta), o hCG mantém o corpo lúteo ativo, garantindo a produção de progesterona nas primeiras semanas de gravidez. É o hormônio que os testes de gravidez detectam. O hCG ajuda a sustentar o revestimento uterino, necessário para o desenvolvimento inicial do embrião.

Progesterona

Inicialmente produzida pelo corpo lúteo e depois pela placenta, a progesterona é essencial para a manutenção da gravidez. Ela evita contrações uterinas, ajuda a preparar o útero para a implantação do embrião e estimula o desenvolvimento das glândulas mamárias para a amamentação. Sua principal função é manter o útero em condições ideais para o crescimento do feto e prevenir o parto prematuro.

Estrogênio

Produzido inicialmente pelo corpo lúteo e, posteriormente, pela placenta, o estrogênio aumenta durante a gravidez, promovendo o crescimento do útero, a formação de novos vasos sanguíneos e o desenvolvimento das glândulas mamárias. Ele também é fundamental para o desenvolvimento do feto e a preparação do corpo para o parto.

Lactogênio Placentário Humano (hPL)

Produzido pela placenta, o hPL ajuda a regular o metabolismo materno para garantir que o feto receba nutrientes suficientes. Ele aumenta os níveis de açúcar no sangue e promove a resistência à insulina, para que o feto possa utilizar a glicose.

Além de contribuir para o desenvolvimento do feto, o hPL prepara as glândulas mamárias para a produção de leite.

Relaxina

Produzida pelo corpo lúteo e, mais tarde, pela placenta, a relaxina relaxa os ligamentos da pelve e amolece o colo do útero em preparação para o parto. Ela também ajuda a prevenir contrações precoces, facilitando a dilatação no momento do parto.

Ocitocina

Embora sua produção aumente principalmente no final da gravidez, a ocitocina é responsável por desencadear as contrações do útero durante o trabalho de parto e ajudar na expulsão do bebê.

Ela também estimula a ejeção do leite durante a amamentação. A ocitocina promove o vínculo emocional entre mãe e bebê e é fundamental para o parto e a amamentação.

Prolactina

Produzida pela hipófise, a prolactina aumenta durante a gravidez e é essencial para a produção de leite nas glândulas mamárias. Sua principal função é preparar o corpo para a amamentação, sendo o hormônio-chave para a lactação após o nascimento.

A profissional destaca que esses hormônios trabalham em conjunto para garantir o desenvolvimento saudável do bebê, a adaptação do corpo da mãe e a preparação para o parto e a amamentação. O equilíbrio hormonal durante a gravidez é fundamental para o sucesso da gestação.

Quais os hormônios da menopausa?

mulher se abanando durante a menopausa
Legenda: Ondas de calor e suores noturnos são os sintomas mais comuns e intensos da menopausa
Foto: Shutterstock

Na menopausa, o corpo da mulher passa por uma significativa alteração hormonal, principalmente relacionada à queda de hormônios sexuais. A menopausa marca o fim dos ciclos menstruais e da fase reprodutiva. Os principais hormônios afetados durante esse período são:

Estrogênio

O estrogênio é o principal hormônio sexual feminino, responsável pelo desenvolvimento dos órgãos reprodutivos, regulação do ciclo menstrual e manutenção da saúde óssea, cardiovascular e da pele. Durante a menopausa, os níveis de estrogênio caem drasticamente.

Isso pode levar a sintomas como ondas de calor, secura vaginal, alterações de humor, diminuição da densidade óssea (osteoporose) e aumento do risco de doenças cardiovasculares, sudorese noturna, diminuição da libido, alterações no sono e problemas de memória.

Progesterona

A progesterona, produzida pelos ovários após a ovulação, regula o ciclo menstrual e prepara o útero para uma possível gravidez, além de manter a gravidez nas fases iniciais.

Com o fim da ovulação, a produção de progesterona também cai, contribuindo para a irregularidade menstrual nos anos que antecedem a menopausa (perimenopausa) e, finalmente, a ausência de menstruação. Além de insônia e aumento do risco de hiperplasia endometrial (crescimento excessivo do revestimento do útero).

FSH

Durante a menopausa, os níveis de FSH aumentam, pois o corpo tenta compensar a diminuição da função ovariana. Níveis elevados de FSH são um dos principais indicadores da transição para a menopausa. O teste de FSH é frequentemente usado para confirmar a menopausa.

LH

Assim como o FSH, os níveis de LH aumentam durante a menopausa, devido à menor resposta dos ovários aos estímulos hormonais.

Testosterona

Embora associada aos homens, a testosterona também é produzida pelas mulheres em quantidades menores e desempenha um papel importante no desejo sexual (libido), no humor e na manutenção da massa muscular e densidade óssea.

Os níveis de testosterona também diminuem durante a menopausa, o que pode levar à redução da libido, perda de energia e diminuição da massa muscular.

Inibina

A inibina é um hormônio produzido pelos ovários que regula a produção de FSH. Durante a menopausa, os níveis de inibina caem, contribuindo para o aumento dos níveis de FSH.

Outros hormônios importantes

  • Ocitocina: Embora não seja um hormônio reprodutivo, a ocitocina também tende a diminuir durante a menopausa, o que pode impactar a intimidade emocional e física.
  • Cortisol: Em algumas mulheres, a menopausa pode estar associada a níveis aumentados de cortisol (hormônio do estresse), o que pode contribuir para a sensação de ansiedade ou estresse.

Veja também

Consequências do desequilíbrio hormonal

Sintomas físicos

Ondas de calor, suores noturnos, secura vaginal, perda de elasticidade da pele e problemas urinários.

Sintomas emocionais e psicológicos

Irritabilidade, alterações de humor, ansiedade, depressão, e problemas de memória.

Mudanças metabólicas

Ganho de peso, especialmente ao redor da cintura, e aumento do risco de osteoporose e doenças cardiovasculares.

Conforme a endocrinologista Rebeca Pinheiro, essas mudanças hormonais fazem parte do processo natural de envelhecimento, e muitas mulheres optam por tratamentos, como a terapia de reposição hormonal (TRH), para aliviar os sintomas da menopausa e melhorar a qualidade de vida.

Quando fazer a reposição hormonal?

A terapia de reposição hormonal (TRH) é indicada para mulheres que apresentam sintomas da menopausa relacionados à queda dos hormônios sexuais, como estrogênio e progesterona.

"A decisão de fazer reposição hormonal deve ser individualizada e baseada em uma avaliação médica cuidadosa, pois há benefícios e riscos envolvidos", diz a especialista.

Entre as principais situações em que a reposição hormonal pode ser considerada, estão:

Sintomas da menopausa

  • Ondas de calor e suores noturnos são os sintomas mais comuns e intensos da menopausa. Quando interferem na qualidade de vida, a TRH pode ser indicada.
  • Secura vaginal e dor durante o sexo: adiminuição do estrogênio pode causar ressecamento vaginal e dor durante as relações sexuais. A reposição pode ajudar a aliviar esses sintomas.
  • Distúrbios do sono: Insônia e acordar várias vezes durante a noite devido aos suores noturnos podem justificar a reposição hormonal.
  • Alterações de humor e depressão: Em alguns casos, a TRH pode ajudar a aliviar sintomas emocionais, como depressão, irritabilidade e ansiedade associadas à menopausa.

Prevenção da osteoporose

A queda do estrogênio pode levar à perda acelerada de massa óssea, aumentando o risco de osteoporose e fraturas. A TRH pode ser considerada para mulheres com alto risco de osteoporose ou que já tenham sido diagnosticadas com perda óssea significativa.

Menopausa Precoce ou Insuficiência Ovariana Precoce

Quando a menopausa ocorre antes dos 40 anos (menopausa precoce) ou os ovários param de funcionar prematuramente (insuficiência ovariana precoce), a TRH é frequentemente recomendada para evitar complicações, como perda óssea precoce e doenças cardiovasculares.

Sintomas urogenitais

Além da secura vaginal, a falta de estrogênio pode causar incontinência urinária, infecções urinárias recorrentes e atrofia vaginal. A TRH, principalmente tópica (cremes ou anéis vaginais), pode ser indicada para aliviar esses problemas.

Quando evitar ou ser cautelosa com a reposição hormonal

A endocrinonogista alerta que, apesar dos benefícios, a reposição hormonal pode não ser adequada para todas as mulheres. A TRH, por exemplo, não é recomendada ou deve ser utilizada com cautela nas seguintes situações:

  1. Histórico de câncer de mama, endométrio ou ovário: Mulheres com histórico pessoal ou familiar de câncer sensível a hormônios (como câncer de mama ou endométrio) devem evitar a TRH, pois o estrogênio pode estimular o crescimento de células cancerosas.
     
  2. Doenças cardiovasculares ou risco elevado: Mulheres com histórico de doenças cardiovasculares, como infarto, acidente vascular cerebral (AVC) ou trombose venosa profunda, devem ser cautelosas ao considerar a TRH. A reposição hormonal pode aumentar o risco de coágulos sanguíneos e eventos cardiovasculares, especialmente em mulheres mais velhas.
     
  3. Doença hepática: Mulheres com doenças hepáticas graves devem evitar a TRH, já que o fígado metaboliza os hormônios e pode ser sobrecarregado.
     
  4. Pressão arterial alta não controlada: O estrogênio pode aumentar a pressão arterial, por isso é importante que mulheres com hipertensão estejam com a pressão bem controlada antes de iniciar a TRH.

Tipo e duração da reposição hormonal

TRH com estrogênio e profesterona

A combinação de estrogênio e progesterona é indicada para mulheres com útero, pois a progesterona protege contra o câncer de endométrio.

Geralmente, a TRH é recomendada por um período limitado de 3 a 5 anos, embora isso possa variar dependendo das necessidades e da resposta da mulher.

TRH apenas com estrogênio

Para mulheres que fizeram histerectomia (retirada do útero), o estrogênio pode ser administrado sozinho. No entanto, a especialista ressalta que o uso prolongado da TRH pode aumentar os riscos de câncer de mama e eventos cardiovasculares.

Tratamentos alternativos

Para mulheres que não podem ou não desejam fazer a reposição hormonal, existem opções alternativas:

  • Tratamentos não hormonais: antidepressivos, gabapentina e clonidina podem ser usados para tratar ondas de calor e suores noturnos.
  • Tratamentos tópicos: cremes vaginais, anéis ou comprimidos de estrogênio podem ser usados localmente para tratar secura vaginal e atrofia urogenital, com menos efeitos sistêmicos.
  •  Mudanças no estilo de vida: exercícios regulares, alimentação saudável, técnicas de relaxamento e boa higiene do sono também ajudam a reduzir os sintomas da menopausa.

A decisão de iniciar a reposição hormonal deve ser feita em conjunto com o médico, levando em conta os riscos, benefícios e as preferências da mulher.

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