Ceratite química nos olhos: entenda sintomas, riscos e como cuidar
O contato com produtos químicos pode resultar em uma intoxicação ocular, que em casos mais graves pode levar à perda de visão

Sintomas como vermelhidão, visão turva, dor e sensação de areia nos olhos podem ser um alerta de ceratite química, uma inflamação que afeta a córnea. A principal causa do problema é o contato com produtos químicos, que ao atingir os olhos pode resultar em uma intoxicação ocular.
A médica Romana Novais, esposa do DJ Alok, revelou ter passado por esse problema devido a um procedimento estético nos cílios. A influenciadora digital fez lash lifting, técnica usada para curvar, alongar e dar volume aos cílios.

Após sofrer dores e até perda temporária da visão, ela fez um alerta sobre os riscos do procedimento estético, muito comum entre o público feminino. A publicação da influencer foi amplamente compartilhada nas redes sociais e trouxe um debate sobre a importância da orientação profissional.
Alergias e queimaduras químicas
Conforme o médico oftalmologista Alexandre Teles*, diretor clínico da Sociedade de Assistência aos Cegos, no caso de tratamentos de cílios, são usadas muitas substâncias químicas e orgânicas, que têm a capacidade de causar processos alérgicos e queimaduras químicas, devido à toxidade de algumas substâncias à base de formaldeído, de capacidade abrasiva.
“Quando você está fazendo um procedimento no cílio e o produto cai eventualmente na córnea ou na conjuntiva [que reveste a parte branca do olho], tem esse potencial irritativo e de inflamação também. A ceratite causa muitas vezes até uma abrasão, a perda da porção mais superficial da córnea, o epitélio, e isso vai causar um processo de dor, sensação de areia, vermelhidão e embaçamento da visão”, explica o especialista.
Dependendo da extensão ou da gravidade da queimadura causada pela substância, pode levar a processo infeccioso e eventualmente até a uma perda da visão, se for mais grave.
“É um processo perigoso, que exige muita técnica, muita destreza, é um processo muito delicado por conta da região, que tem tecidos nobres muito próximos, e são substâncias com esse potencial de causar um dano muito grande, que podem levar até condições mais graves. Isso já está evidenciado na literatura, já tem trabalho científico abordando a questão dos alongamentos e tratamento de cílios. Já é bem documentado esse tipo de lesão”, reforça o médico.
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O que é ceratite química?
A ceratite é a inflamação da córnea, a lente transparente que está na frente do olho, composta de proteína e que possui diversas camadas (ceratite: do radical cerato, que significa córnea, e ite, que significa inflamação).
Uma ação química e abrasiva sobre a córnea, devido à toxidade, leva a um processo inflamatório do local, como a desepitelização, um edema da córnea.
Sintomas
Os primeiros sintomas de inflamação da córnea são o embaçamento, a sensação de turvação da visão. Outros sintomas também podem afetar o paciente, como:
- Dor;
- Vermelhidão;
- Lacrimejamento;
- Sensibilidade à luz;
- Sensação de areia nos olhos;
- Visão turva;
- Coceira.

“Se houver um dano maior da estrutura, pode abrir espaço para a infecção e levar a um processo mais grave, bacteriano, que vai precisar de antibióticos. Mas só a queimadura química, a toxicidade da substância, já pode levar a um edema importante. É uma condição mais grave da córnea”, descreve Alexandre Teles.
Tipos de ceratite
A ceratite é definida como qualquer processo inflamatório da córnea. Além da ceratite química, o especialista informa que existem as ceratites bacterianas, as ceratites causadas por vírus e as relacionadas a processos alérgicos.
"A ceratite química é a inflamação da córnea causada por um produto químico. Com todas as consequências que a ceratite pode ter, desde uma desepterização, causando sensação de areia, vermelhidão, até um processo mais grave como feridas na córnea, chamadas úlceras, o que pode causar uma opacidade da córnea com baixa de visão, e se for um processo mais definitivo, até a perda da visão", alerta.
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“A córnea é a área mais nobre do olho, no sentido de que a visão, quando a gente enxerga, a imagem passa através da córnea, que é o centro da visão, depois passa pela pupila e entra no olho. A conjuntiva é o que reveste a parte branca do olho. A conjuntiva é mais resistente, ela pode até inflamar e infeccionar, mas ela tem uma capacidade regenerativa maior, porque é vascularizada. E a córnea não, a córnea não é vascularizada. Então, é um tecido nobre, muito frágil e muito delicado, por isso o risco desses procedimentos químicos”, detalha o médico.
Como tratar
Em caso de contato de um produto químico com os olhos, o primeiro passo é retirar a substância irritativa. O profissional afirma que a melhor opção é lavar o local com um soro fisiológico, que está disponível na farmácia, e imediatamente procurar um atendimento oftalmológico.
“O exame oftalmológico é feito com o microscópio, e as lesões geralmente são microscópicas, então, é importante fazer o exame para saber a gravidade da lesão”, reforça Alexandre Teles.
A partir do diagnóstico de lesão, a ceratite pode ser tratada com colírios anti-inflamatórios, à base de corticoide, geralmente associados a um antibiótico, para evitar a possibilidade de haver uma superinfecção bacteriana.
Recuperação
Dependendo da intensidade, da gravidade e da extensão da lesão, o acompanhamento médico deve ser diário.
“Se houver, por exemplo, só um quadro irritativo, de conjuntivite, ele vai ser mais autolimitado. Se houver um quadro de ceratite mais leve, superficial, é um quadro que se resolve mais rápido. Quando há um caso de uma lesão mais profunda, uma ulceração, o tratamento vai ser mais extenso e exigir um cuidado maior”, detalha o oftalmologista.
Segundo o médico, por a córnea ser um tecido avascular, a recuperação é mais lenta. Outro fator que pode influenciar a recuperação é o produto químico que causou a lesão, assim como a quantidade da substância que atingiu a região e por quanto tempo ela ficou no olho.
“Cabe o alerta, o cuidado de quem vai se submeter a esses procedimentos estéticos, porque provavelmente as pessoas não vão deixar de fazer. Então, é procurar, pelo menos, estar orientada sobre os riscos, e procurar o atendimento oftalmológico quando necessário, não negligenciar um quadro de olho vermelho, principalmente o olho vermelho que persiste, vale a pena fazer o acompanhamento médico”, aconselha.
*Alexandre Teles Holanda (CRM-CE 6894) é médico oftalmologista formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), diretor clínico da Sociedade de Assistência aos Cegos, em Fortaleza.