O papilomavírus humano (HPV) é um vírus que pode ser transmitido pela via sexual ou pelo contato direto com a pele. Atualmente, estima-se que 80% da população mundial já tenha tido contato com o HPV alguma vez na vida, conforme a médica ginecologista e obstetra Lívia Sampaio*.
O HPV infecta exclusivamente os seres humanos e ataca as células do epitélio da pele e da mucosa. A ação do vírus favorece a formação de tumores, a maioria pequenos e benignos, tais como as verrugas comuns de pele ou as verrugas genitais, conhecidas também como condiloma acuminado ou crista de galo.
Porém, quando a área infectada é a mucosa do colo do útero, da vagina, do pênis ou do ânus, o vírus pode induzir à formação de tumores malignos, gerando, por exemplo, o câncer do colo do útero e o câncer anal.
O papilomavírus humano tem grande relevância médica porque está relacionado a praticamente 100% dos casos de câncer de colo do útero, um dos tipos de câncer mais comuns na população feminina.
O diagnóstico do HPV é feito de forma clínica, ou seja, a área afetada é analisada por um médico especialista, que reconhece ou não as lesões como sendo provocadas pelo vírus, destaca Lívia Sampaio. “Além disso, é importante frisar a importância do cuidado do sistema imunológico, já que dependemos dele para eliminação do vírus e da resposta aos cuidados propostos da lesão que pode aparecer. Então, boa alimentação, praticar atividade física, não fumar, são medidas que ajudam a ter melhor resultado do tratamento”, acrescenta a ginecologista.
O que é HPV?
A sigla HPV significa papilomavírus humano. Esse grupo de vírus é capaz de provocar uma infecção que acomete tanto a pele como as mucosas, de homens e de mulheres, ressalta a ginecologista.
Quais são os sintomas?
Em grande parte dos casos, seja nos homens ou nas mulheres, o HPV não apresenta sinais nem sintomas. A ausência de sinais não significa, no entanto, que não exista infecção, alerta a médica ginecologista.
“Quando surgem, os sintomas do HPV que ocorrem com maior frequência são as verrugas com aparência de couve-flor, que podem surgir na vulva, pênis e ânus. As lesões na vagina e colo do útero são completamente assintomáticas em estágios iniciais (antecedendo o câncer) e são detectadas apenas na realização do preventivo”, explica Lívia Sampaio.
O vírus do HPV pode ser eliminado espontaneamente, sem que a pessoa sequer saiba que esteve infectada. Uma vez feito o diagnóstico, porém, é necessário tratamento, pontua a ginecologista.
Qual o tratamento para o HPV?
Não existe tratamento com comprovação científica de eficácia para a infecção pelo HPV quando não há lesão precursora ou verrugas, frisa Lívia Sampaio. “Nesta situação, fazemos o esclarecimento e recomendamos que a mulher mantenha seu exame preventivo em dia, como recomendado pelo Ministério da Saúde. Caso surja uma verruga ou o preventivo apresente alguma suspeita de lesão precursora, o que não é o mais frequente, ela deverá seguir a orientação de seu médico”, destaca a médica.
O tratamento das verrugas é variado e deve ser escolhido conforme a vontade da mulher e experiência do médico, pontua Lívia Sampaio. Pode se dar pela aplicação de uma substância ácida no próprio consultório, uso de medicamentos sob a forma de creme pela própria paciente, por retirada cirúrgica ou cauterização elétrica em casos especiais (múltiplas e extensas lesões), ou, ainda, através do laser para remoção de tais lesões.
Já as lesões precursoras podem ser tratadas destrutivamente (por várias formas) ou retiradas cirurgicamente. A maioria dessas lesões em mulheres jovens (até 40 anos), acrescenta a ginecologista, é retirada sob anestesia local durante a colposcopia ou sob sedação em centro cirúrgico: EZT (exérese da zona de transformação do colo uterino).
“Em algumas situações, com maior incidência em mulheres mais maduras, pode ser necessária uma cirurgia um pouco mais complexa, que deve ser feita em centro cirúrgico: a conização do colo do útero. Ambas são realizadas pela vagina e com baixo risco de complicações”, adiciona.
Como é feita a prevenção?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a melhor forma de prevenir o HPV é por meio da vacina nonavalente, que evita a infecção pelos tipos 6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58 do HPV. Essa vacina passou a estar disponível no Brasil em março de 2023, sendo recomendada para pessoas entre 9 e 45 anos.
No SUS, a vacina quadrivalente contra o HPV é oferecida em duas doses, com intervalo de seis meses, a meninas e meninos de 9 a 14 anos. Mesmo pessoas que já foram infectadas pelo vírus anteriormente podem e devem receber a imunização.
Na mulher, também são realizados exames laboratoriais que ajudam na prevenção e detecção precoce do problema. São eles:
- Papanicolau: coleta células do colo do útero para detectar possíveis lesões pré-cancerígenas causadas pelo HPV.
- Colposcopia: utiliza o colposcópio (uma espécie de binóculo) para ampliar o colo do útero, a vagina e a vulva com o objetivo de detectar possíveis lesões benignas (como inflamações) ou malignas (como câncer e lesões pré-cancerígenas) nesses órgãos.
Em casos específicos, o médico pode ainda pedir uma biópsia, que é a retirada de uma pequena amostra de tecido da lesão para análise mais aprofundada em laboratório.
Como ocorre a transmissão?
A transmissão ocorre por meio de contato de mucosa ou pele infectada. A principal forma é pela via sexual, que inclui contato oral-genital, genital-genital ou mesmo manual-genital. “Assim sendo, o contágio com o HPV pode ocorrer mesmo na ausência de penetração vaginal ou anal”, diz a ginecologista.
Também pode haver transmissão durante o parto, quando o canal do parto está infectado com lesões verrucosas. “Não está comprovada, porém, a possibilidade de contaminação por meio de objetos, do uso de vaso sanitário e piscina ou pelo compartilhamento de toalhas e roupas íntimas”, frisa a médica.
Quais os tipos?
Existem mais de 200 tipos diferentes de HPV, sendo que cerca de 40 deles podem infectar o trato ano-genital (região íntima das mulheres e homens).
Eles são divididos em dois grupos:
- Baixo risco: os tipos 6 e 11 do HPV são os principais desse grupo, considerados de baixo risco de evolução para o câncer.
- Alto risco: provocam lesões com alto risco de evolução para tumores malignos. Os tipos principais desse grupo são o 16 e o 18, que correspondem por cerca de 70% dos casos de câncer.
Quais os tipos de câncer causados pelo HPV?
A infecção pelo HPV é muito frequente, mas transitória, regredindo espontaneamente na maioria das vezes, ressalta Lívia Sampaio.
“No pequeno número de casos em que a infecção persiste e, especialmente, é causada por um tipo viral oncogênico (com potencial para causar câncer), pode ocorrer o desenvolvimento de lesões precursoras que, se não forem identificadas e tratadas, podem progredir para o câncer, principalmente no colo do útero, mas também na vagina, vulva, ânus, pênis, orofaringe e boca”, diz a ginecologista.
HPV tem cura?
Grande parte das pessoas acometidas, principalmente as mais jovens, se recuperam porque o sistema imunológico é capaz de eliminar o vírus depois de um determinado tempo, geralmente em cerca de dois anos, ressalta a ginecologista.
Por outro lado, em determinados casos, as infecções persistem e causam lesões que, se não tratadas, podem ocasionar o câncer.
*Lívia Sampaio é medica ginecologista e obstetra, especialista em Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia. Especialista pela Universidade Federal Fluminense (UFF/ HUAP), no estado do Rio de Janeiro. Tem mestrado em Ciências Médicas pela Universidade Federal Fluminense. É membro da ASSCP (American Society for Colposcopy and Cervical Pathology). Atua como ginecologista e realiza colposcopia em seu consultório em Icarai, Niterói, RJ.