Lúpus: o que é, quais os sintomas e as causas

Saiba mais sobre esta doença complexa, na qual o sistema imunológico, que deveria defender o organismo de vírus e infecções, o ataca

Escrito por Redação ,
pessoa com roupa de profissional de saúde segura as mãos de mulher
Legenda: Acompanhamento especializado é fundamental pois estresse emocional, embora não cause o lúpus, pode ser um gatilho importante para o aparecimento dos primeiros sintomas ou reativação deles
Foto: Shutterstock

Lúpus é uma doença autoimune que pode atingir vários órgãos ou sistemas como pele, articulações, rins e cérebro. Em pessoas com este quadro existe uma falha no sistema imunológico que, ao invés de só proteger o organismo, passa a não reconhecê-lo e a “atacá-lo”, lesionando órgãos saudáveis, conforme explica a psicóloga de mulheres com lúpus Fabiana Bezerra*.

Os sintomas podem ser gerais, como febre mais baixa, emagrecimento repentino, queda de cabelo, até aqueles mais específicos, como dor articular, lesões na pele, alterações renais, hematológicas, cardíacas, dentre outros.

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“Receber o diagnóstico de uma doença como o lúpus pode ser extremamente impactante, especialmente porque, com a chegada da notícia, o cotidiano da pessoa muda completamente. Rotina médica, medicamentos diários, não exposição à radiação solar, já que pessoas com lúpus podem ter a doença agravada por este fator, tudo isso pode gerar grandes impactos emocionais. É importante destacar que o estresse emocional, embora não cause o lúpus, pode ser um gatilho importante para o aparecimento dos primeiros sintomas ou reativação destes”, detalha a psicóloga.

O lúpus é mais frequente nas mulheres (9 em cada 10 pessoas com diagnóstico são do sexo feminino) e afeta cerca de 65 mil brasileiros, entre 20 e 45 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).

“É essencial reforçar que o lúpus é uma condição complexa e cada caso é único. Não adianta o paciente querer comparar sua doença com a de outra pessoa, pois as manifestações e a gravidade da mesma são bastante variáveis, e o tratamento é individualizado e realizado pelo médico especializado”, ressalta a reumatologista Rosa Priscila Oliveira**.

O que é o lúpus?

O lúpus é uma doença autoimune, crônica e bastante complexa, de acordo com a reumatologista. Nela o sistema imunológico ataca de forma errada as células e tecidos saudáveis, levando a um quadro de inflamações e danos em determinados órgãos e sistemas, como pele, articulações, rins, coração, pulmões e cérebro.

O lúpus não é contagioso, pois é uma doença mediada por anticorpos, em que o organismo “ataca” as suas próprias células, sem motivo conhecido. Pode existir, no entanto, alguma relação entre as exacerbações da doença e certos fatores como o stress ou infecções. O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma de várias doenças conhecidas como "os grandes imitadores" porque, muitas vezes, imita ou é confundida com outras doenças.

Quais os tipos de lúpus?

O mais prevalente é o lúpus eritematoso sistêmico (LES), conforme a médica, mas também há o lúpus cutâneo, que afeta exclusivamente a pele. Conheça todos os tipos:

  • Lúpus eritematoso sistêmico (LES): é o mais comum e é assim denominado por poder atingir vários órgãos e sistemas e ser acompanhado muitas vezes de eritema da pele (eritematoso). É uma doença inflamatória crônica, de natureza autoimune, que evolui por crises e que atinge as articulações, os tendões, a pele e outros órgãos.
  • Lúpus discoide: é cutâneo, limitado à pele. Neste tipo, podem surgir erupções nas regiões, por exemplo, do pescoço e do couro cabeludo.
  • Lúpus sistêmico: é a forma mais grave, que requer mais cuidados. Nessa forma da doença, a inflamação acontece em todo o organismo, o que compromete vários órgãos ou sistemas, além da pele, como rins, coração, pulmões, sangue e articulações. Algumas pessoas que têm o lúpus discoide podem, eventualmente, evoluir para o lúpus sistêmico.
  • Lúpus induzido por medicamentos: ocorre como consequência do uso de certos medicamentos em pessoas suscetíveis. De forma geral, a interrupção do remédio desencadeante permite a resolução do quadro.
  • Lúpus neonatal: é “transmitido” da mãe para o filho no nascimento e, embora bastante raro, requer acompanhamento e cuidados especiais. Adquirido durante a gestação, resulta da passagem através da placenta de anticorpos específicos da mãe, que serão prejudiciais para o bebê. Esses anticorpos desaparecem espontaneamente quando a criança atinge até seis meses de idade, não deixando sequela, na maioria dos casos.

Quais os sintomas?

Os sintomas do lúpus podem surgir de repente ou se desenvolver lentamente. Eles também podem ser moderados ou graves, temporários ou permanentes. A maioria dos pacientes com a doença apresenta sintomas moderados, que surgem esporadicamente, em crises.

Os sintomas podem também variar de acordo com as partes do corpo que forem afetadas pelo lúpus. Os sinais mais comuns são:

  • Fadiga;
  • Febre;
  • Dor nas articulações;
  • Rigidez muscular e inchaços;
  • Rash cutâneo: vermelhidão na face em forma de “borboleta” sobre as bochechas e a ponta do nariz, que piora com a luz do sol e também pode ser generalizado. Afeta cerca de metade das pessoas com lúpus.
  • Lesões na pele que surgem ou pioram quando expostas ao sol;
  • Dificuldade para respirar;
  • Dor no peito ao inspirar profundamente;
  • Sensibilidade à luz do sol;
  • Dor de cabeça, confusão mental e perda de memória;
  • Linfonodos aumentados;
  • Queda de cabelo;
  • Feridas na boca;
  • Desconforto geral, ansiedade, mal-estar.

Outros sintomas do lúpus, mais específicos, dependem de qual é a parte do corpo afetada:

  • Cérebro e sistema nervoso: cefaleia, dormência, formigamento, convulsões, problemas de visão, alterações de personalidade, psicose lúpica.
  • Trato digestivo: dor abdominal, náuseas e vômito.
  • Coração: arritmia.
  • Pulmão: tosse com sangue e dificuldade para respirar.
  • Pele: coloração irregular da pele, dedos que mudam de cor com o frio (fenômeno de Raynaud).

O que causa lúpus?

A causa exata do lúpus não é conhecida, mas acredita-se que seja uma combinação de fatores genéticos, hormonais e ambientais, frisa Rosa Priscila Oliveira. “Certos medicamentos, infecções, exposição à luz solar e o tabagismo podem desencadear ou agravar os sintomas em pessoas predispostas geneticamente”, acrescenta a reumatologista.

Tem cura?

Não há cura definitiva para o lúpus, mas muitas pessoas conseguem gerenciar seus sintomas com tratamento regular e acompanhamento adequado, tendo assim a tão sonhada remissão clínica, que equivale a uma cura, detalha Rosa Priscila Oliveira.

Quem tem lúpus pode trabalhar normalmente?

Pessoas com lúpus podem trabalhar normalmente, em grande parte dos casos necessitando apenas de alguns ajustes na rotina de trabalho. Em situações de crises ou necessidade de tratamento imunossupressor mais agressivo, ressalta a reumatologista, o paciente pode ter direito a licenças médicas temporárias.

Qual a importância de cuidar da saúde mental de pacientes com lúpus?

É importante destacar que o estresse emocional, embora não cause o lúpus, pode ser um gatilho importante para o aparecimento dos primeiros sintomas ou reativação destes, destaca a psicóloga. Por isso, cuidar da saúde emocional é fundamental para quem vive com lúpus.

“Enquanto psicóloga especializada no atendimento a essa população e também por viver com essa condição há 24 anos, ajudo minhas pacientes fornecendo suporte emocional para que elas possam manejar de maneira mais assertiva o estresse relacionado à condição. No processo psicoterapêutico, o paciente também é estimulado a desenvolver estratégias para lidar com os desafios emocionais associados ao lúpus e a realizar as adaptações necessárias na sua vida cotidiana para que ela tenha maior qualidade de vida, apesar da doença”, frisa Fabiana Bezerra.

Como a família pode ajudar um parente com lúpus a viver melhor?

O suporte da família e dos amigos é parte fundamental do tratamento, frisa a psicóloga. “É importante apoiar a pessoa com lúpus nas atividades diárias, aprender sobre o diagnóstico para oferecer um suporte mais qualificado, estimular a pessoa com lúpus a manter a sua autonomia e estilo de vida saudável, comemorar pequenas vitórias no tratamento, além de participar das consultas médicas. Isso contribui para que a pessoa com lúpus se sinta mais segura e esperançosa”, pontua Fabiana Bezerra.

Qual exame detecta lúpus?

O diagnóstico do lúpus pode ser desafiador e demorado, na maioria dos casos, pois não há um exame específico para o diagnóstico, explica a reumatologista. “Utilizamos critérios classificatórios bem definidos para diagnosticar uma pessoa com lúpus, incluindo exames de sangue, como o fator antinuclear (FAN), entre outros, juntamente com avaliação clínica e histórico médico detalhado”, acrescenta a médica.

Quem tem lúpus pode engravidar?

Sim, mas é crucial um acompanhamento médico rigoroso, pois é uma gravidez considerada "de risco", acentua Rosa Priscila Oliveira.

Algumas mulheres podem precisar ajustar seus medicamentos antes da gravidez e a gestação deve ser monitorada de perto para minimizar os riscos para a mãe e o bebê, adiciona a reumatologista.

*Fabiana Bezerra é psicóloga e mulher com lúpus há 24 anos. Concluiu sua graduação em Psicologia na Universidade Federal do Vale do São Francisco e possui mestrado em Educação pela Universidade do Estado da Bahia. É especialista no atendimento de pessoas com lúpus e Cofundadora da Associação de Amigos e Pessoas com Lúpus do Vale do São Francisco. Atua como psicóloga presencialmente em Salvador e online. Dona do perfil @mulherescomlupus

**Rosa Priscila Oliveira Monte Andrade é médica graduada pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), com residência em Clínica Médica (HUWC) e Reumatologia (HGF). Atua em consultórios, onde se dedica ao cuidado de pacientes que sofrem de uma variedade de condições reumáticas, tais como osteoporose, artrite reumatoide, espondiloartrites, lombalgia, lúpus, fibromialgia, gota, esclerose sistêmica, Sjögren, osteoartrite, entre outras doenças.

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