Bruxismo: o que é, como tratar e quais as causas

O problema não tem cura, mas deve ser acompanhado por profissional especializado

Escrito por Redação ,
pessoa segura a face
Legenda: O bruxismo é uma disfunção em que a pessoa aperta, desliza ou bate os dentes, causando dores de cabeça e nos músculos do rosto, desgaste dos dentes e doenças nas gengivas
Foto: Shutterstock

Bruxismo é uma disfunção em que a pessoa aperta, desliza ou bate os dentes, durante o dia ou à noite, ao dormir. Além de dores de cabeça e nos músculos do rosto, o problema pode provocar desgaste dos dentes e doenças nas gengivas.

Nos casos mais graves, pode ser necessário fazer tratamento de canal nos dentes afetados ou ainda tratar de distúrbios na articulação de ossos da face, como maxilar, mandíbula e têmporas.

“O acompanhamento com profissional especializado, rastreando e agindo sobre os fatores relacionados com esses distúrbios é de suma importância para que seja feito um controle eficaz do quadro”, garante a cirurgiã-dentista Laura Marreiro*.

Uma das áreas mais recentes na odontologia, o bruxismo tem total relação com a atividade dos músculos da mastigação. “Se você colocar a mão na face e nas têmporas e apertar os dentes vai sentir o músculo saltando, são eles que chamamos de músculos da mastigação e estão envolvidos nesse comportamento”, explica a profissional.

Ela também faz o alerta: “Muitas pessoas passam a vida sentindo essas dores sem saber que existe um profissional capacitado para cuidar. Portanto, estamos sempre na missão de fazer a educação em saúde mostrando para a população que viver com dor não é normal”.

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O que é o bruxismo?

Essa atividade muscular pode ocorrer de duas formas distintas, de acordo com o ciclo circadiano, ou seja: pode ocorrer de forma involuntária quando se está dormindo, que é o conhecido Bruxismo do Sono, em que se range ou aperta ou realiza as duas coisas; ou de forma voluntária, mas inconsciente, quando se está acordado, denominado Bruxismo Acordado/Em Vigília, que é caracterizado pelo apertar de dentes, contato dentário leve (dentes encostados mesmo sem apertar) ou até mesmo por não encostar os dentes mas ficar com o músculo da face tensionado, dando sensação de que está “amarrado”, explica Laura Marreiro.

Cada um desses tipos de bruxismo tem mecanismos diferentes e, portanto, formas de controle distintas.

Também é muito importante explicar a diferença entre bruxismo e DTM, que muitos chamam de ATM. A DTM é a sigla para disfunção temporomandibular, condição que envolve uma série de alterações que acometem os músculos da mastigação e a articulação da boca, a ATM.

A DTM tem como principais sinais e sintomas:

  • Barulhos como estalo ao abrir a boca;
  • Dor na articulação em frente ao ouvido;
  • Sensação de cansaço e fadiga na face;
  • Dores de cabeça em formato de aperto na região das têmporas.

“A DTM está muito relacionada com sobrecarga mecânica dos músculos e da ATM, e o bruxismo pode ser um fator de risco, desencadeador e perpetuador do quadro doloroso da DTM”, descreve a dentista.

Assim sendo, o bruxismo é a hiperatividade muscular que pode contribuir para desencadear as dores, que são características do quadro de DTM. Algumas pessoas podem apertar os dentes enquanto dormem ou estão acordadas e não ter DTM, não sentir nenhuma dor e isso também é caracterizado como bruxismo.

Como tratar o bruxismo?

Sabemos que bruxismo não tem cura, destaca Laura Marreiro, então falamos sobre formas de controle e principalmente modos de proteger dentes; restaurações; coroas; implantes; músculo e articulação da boca (articulação temporomandibular) dos impactos desse comportamento.

Como o bruxismo do sono é involuntário, a forma de controlar os efeitos é por meio da famosa placa para bruxismo, dispositivo oclusal que deve ser usado apenas durante o sono. Além disso, ter hábitos durante a rotina que favoreçam um sono de qualidade, que chamamos de higiene do sono, pode também ser favorável ao controle.

Já para o bruxismo acordado, que está bastante associado com momentos de ansiedade, concentração e estresse, a forma de controle desse comportamento muscular é realizado pelo autopoliciamento, frisa a cirurgia-dentistã. “O que não é tão fácil de ser feito, pois é necessário identificar que se está realizando essa atividade e saber como deixar a mandíbula relaxada. Para isso lançamos mão de estímulos externos que ajudem o indivíduo a tomar consciência e perceber que estão encostando os dentes e tensionando a face, como aplicativo chamado ‘Desencoste os dentes’, disponível tanto para Android quanto para iOS, uso de adesivos e post-its escritos ‘relaxe a mandíbula e desencoste os dentes’”, adiciona.

 Após conseguir perceber, para deixar a mandíbula/maxilar na posição ideal de repouso, ressalta Laura Marreiro, basta inspirar forte pelo nariz e expirar rápido pela boca, após fazer isso a língua ficará repousando suavemente no céu da boca; os lábios ficarão selados e os dentes desencostados.

Quais as causas do bruxismo?

Existem diversos mecanismos que explicam o aparecimento do bruxismo, um deles é o papel do estresse e da ansiedade resultado da atividade de alguns neurotransmissores. Também existem eixos e regiões cerebrais associados. Para o bruxismo do sono, sabe-se que neurotransmissores e a própria genética podem participar desse mecanismo, afirma a cirurgiã-dentista.

Para o bruxismo acordado há uma associação com eventos de estresse, tensão emocional, sintomas de ansiedade e depressão. Alguns fatores podem exacerbar ou desencadear o quadro de bruxismo:

  • Problemas respiratórios durante o sono (apneia, ronco, rinite, sinusite);
  • Uso de substâncias estimulantes (nicotina, bebida alcoólica, cafeína);
  • Refluxo gastroesofágico;
  • Má qualidade do sono; 
  • Algumas medicações também estão associadas (paroxetina, venlafaxina, sertralina, fluoxetina).

Esses fatores associados e mecanismo atuam no sistema nervoso central (SNC), o qual é responsável por controlar o bruxismo, levando aos microdespertares durante o sono. Isso leva à ocorrência da atividade muscular. “Quando acordado, regiões cerebrais responsáveis pelo controle motor podem ser ativadas pelos mecanismos mencionados acima, como estresse; ansiedade; concentração, gerando uma contratura sustentada da musculatura”, detalha Laura Marreiro.

É importante rastrear com o profissional os fatores que estão contribuindo, pois fazer o controle desses pode consequentemente ajudar a controlar os episódios de bruxismo.

Quais os sintomas e o que o bruxismo pode causar?

Dentre os principais sinais e sintomas que se forem identificados são sugestivos do bruxismo temos:

  • Desgastes dos dentes, aparentando que estão ficando com as bordas retas e/ou diminuindo;
  • Língua com marcas dos dentes;
  • Parte de dentro da bochecha marcada (linha alba);
  • Restaurações quebrando com frequência.

“Além disso, comumente os pacientes relatam queixas da DTM bem características de serem desencadeadas pelo bruxismo, como sentir dor de cabeça na região das têmporas com sensação de pressão/aperto e cansaço na face ao acordar, por conta do bruxismo do sono, ou no final do dia quando há o bruxismo acordado”, afirma.

Para lidar com os problemas que advêm do bruxismo, portanto, é importante que seja feito o controle. Assim, evita-se falhas e fraturas nos implantes/restaurações, além de evitar o desgaste dentário prolongado, o qual pode gerar trincas e contribuir para lesões no pé do dente, contribuindo para a hipersensibilidade, acrescenta. Para aqueles que têm sintomatologia dolorosa, cuidar do bruxismo é uma das vias importantes para controlar as dores.

Quanto custa uma placa de bruxismo?

A placa faz parte de um plano de tratamento que é feito de forma individualizada de acordo com as necessidades de cada paciente, por conta disso, infelizmente o Conselho de Odontologia (CRO) não permite a divulgação de valores nas redes sociais nem na mídia em geral, explica Laura Marreiro. Mas é importante ressaltar que o valor vai variar de acordo com cada consultório, levando em conta a técnica e qualidade do material utilizado, bem como incluir a assistência para os ajustes e manutenção desse dispositivo oclusal.

mãos com luvas azuis seguram placa de bruxismo
Legenda: Como o bruxismo do sono é involuntário, a forma de controlar os efeitos é por meio da famosa placa para bruxismo, dispositivo oclusal que deve ser usado apenas durante o sono
Foto: Shutterstock

Existem placas nos comércios online vendidas por um valor bem inferior ao convencional, mas esses dispositivos não têm as características que uma placa de bruxismo precisa ter para ser eficaz, garante. Essas são as famosas placas macias, que são feitas de silicone ou até de um material um pouco mais rígido como o acetato, mas que não são lisas, permitindo então o encaixe dos dentes de cima com os de baixo. “Esses tipos de placa podem aumentar os episódios de bruxismo agravando ainda mais a sintomatologia dolorosa dos pacientes. Portanto, uma placa, para atuar protegendo os dentes, articulação e músculos dos efeitos do bruxismo, precisa ser lisa, rígida, ter uma espessura de aproximadamente dois milímetros e cobrir todos os dentes da arcada escolhida (superior ou inferior)”, destaca a cirurgiã-dentista.

Que outros tratamentos além da placa podem ser feitos?

Para aqueles que têm sintomas de dor, o tratamento eficaz para o controle desse quadro (DTM) é o multimodal, ou seja, lança-se mão de diversas modalidades para amenizar a dor e recuperar a qualidade de vida, afirma. A placa é apenas uma modalidade que deve ser usada somente durante o sono. “Além dela, adiciona, você pode pegar uma bolsa térmica morna e colocar no microondas ou pegar um pano com água morna e pôr em todas as áreas da face e pescoço que apresentem sintomas de cansaço, fadiga e pressão/aperto”, destaca.

As terapias manuais, vulgo massagens, também ajudam bastante, frisa Laura Marreiro. No instagram do GEDO (@gedoufc) tem uma cartilha, feita em parceria com fisioterapeutas, de exercícios que podem ser feitos em casa e que proporcionam um ótimo resultado. Além disso, acupuntura, estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS), laserterapia e agulhamento a seco são outras modalidades feitas no consultório que ajudam.

O botox foi utilizado por algum tempo, mas os estudos recentes são claros sobre os efeitos adversos que ele pode trazer para os músculos e osso mandibular, destaca a cirurgiã-dentista. “Quando usado para fins estéticos ele é aplicado em músculos da mímica, responsáveis por modificar as expressões faciais. Já para o bruxismo, o botox estava sendo aplicado em músculos responsáveis por funções importantes como mastigação, fala, movimentos de abrir e fechar a boca, não sendo indicado para controle desta condição”, acrescenta.

Além disso, enquanto o mecanismo responsável pelos tipos de bruxismo é regulado pelo Sistema Nervoso Central, o botox atua apenas em regiões periféricas. Portanto o estímulo para a contração muscular continua existindo; o que acontece com a aplicação da toxina é apenas diminuir a força de contração muscular, explica.  “Dessa forma, o botox não deve ser usado para fins de controle do bruxismo. Em casos restritos e refratários de DTM ele pode ser feito em aplicação única e com poucas unidades para o manejo da dor”, conclui.

*Laura Marreiro é cirurgiã-dentista formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), pós-graduanda em Disfunção Temporomandibular e Dor orofacial, com Imersão em DTM na prática clínica pelo Bauru Orofacial Pain Group – USP. Atualmente é colaboradora do Projeto Grupo de Estudos de Dor Orofacial (GEDO) da UFC e atua na área em seu consultório em Fortaleza, no bairro Centro e Benfica.

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