Arritmia cardíaca: o que é, quais as causas e como tratar

Essa condição pode ser considerada simples e tratada com medicamento pelo cardiologista ou grave e precisar de uma intervenção, como utilização de marcapasso

Escrito por Redação ,
Imagem ilustrativa de consulta médica
Legenda: A arritmia cardíaca pode benigna ou maligna
Foto: Shutterstock

A arritmia cardíaca é uma condição que afeta a regularidade do ritmo dos batimentos do coração. Em seu estado normal, o músculo cardíaco se contrai em decorrência dos disparos elétricos de forma regular. Mas, quando não há regularidade nos estímulos, há uma perturbação do ritmo do coração, ocorrendo então, a arritmia.

Existem dois tipos: as benignas, em que essa alteração não causa grandes danos ao funcionamento do coração. Já as malignas precisam de atenção especial, com um controle de perto do cardiologista.

Segundo a Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (SOBRAC), cerca de 20 milhões de brasileiros sofrem com alguma forma de arritmia. Essa doença também é a responsável por 320 mil óbitos por ano no país, pois pode gerar morte súbita. Portanto, é importante entender o que é arritmia cardíaca, sintomas, causas, tratamentos e outros fatores que envolvem esse problema, destaca a médica cardiologista Ana Lúcia de Sá Leitão Ramos*.

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O que é arritmia cardíaca?

Arritmia é uma alteração na frequência (taquicardia ou bradicardia) e/ou do ritmo do coração. Ela pode ser oriunda de qualquer parte do coração, ou seja, dos átrios ou dos ventrículos, explica a médica. Ressalta-se que, quando o coração bate demasiado lento ocorre a bradicardia. Muito rápido é sinônimo de taquicardia.

Foto ilustrativa
Legenda: Uma das arritimia cardíaca é a predisposição genética
Foto: Shutterstock

A taquicardia ocorre quando o coração bate rápido demais, acima de 100 batimentos por minuto. A bradicardia, por sua vez, acontece quando as batidas estão abaixo de 50 batimentos por minuto, ressalta a cardiologista.

Perceber o peito batendo como se fosse uma “batedeira”, sem um compasso, é um sinal importante de alerta. A ausência de cadência no ritmo cardíaco – que pode tanto ficar mais rápido ou mais lento – pode causar consequências graves para a saúde.

O que causa arritmia cardíaca?

Existem fatores que predispõem o aparecimento da arritmia como:

  • Hipertensão arterial;
  • Distúrbios do sono (presença de ronco);
  • Tabagismo;
  • Uso de drogas ilícitas;
  • Sobrepeso e obesidade;
  • Álcool;
  • Cafeína em excesso;
  • Distúrbios da tireoide;
  • Diabetes;
  • Infarto do miocárdio;
  • Inflamações do miocárdio (ex: miocardite causada pelo vírus da Covid 19);
  • Predisposição genética

Foto ilustrativa de um coração
Legenda: A condição afeta o coração
Foto: Freepik

Quais são os tipos de arritmia cardíaca?

As arritmias se classificam em bradiarritmias ou taquiarritmias. As bradiarritmias se caracterizam por uma frequência cardíaca < 60bpm e se ocasionam por falhas na formação do impulso eléctrico ou na condução do mesmo, destaca Ana Lúcia Ramos. Classificam-se em bradicardia sinusal, doença do nó sinusal e os bloqueios entre os átrios e os ventrículos. Podem ser assintomáticas, mas os sintomas, quando presentes, são tonturas, síncope ou fadiga, acrescenta a médica.

“São comuns nos idosos e, a depender do caso, pode ser necessário o implante de marca-passo. Por isso, muito cuidado com as pessoas mais velhas que, por via das dúvidas, vierem a apresentar tais sintomas”, adiciona.

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As taquiarritmias, por sua vez, se caracterizam por uma frequência  > 100bpm e se classificam em supraventriculares e em ventriculares. As supraventriculares se originam “acima da cavidade ventricular”, ou seja, nos átrios e no nódulo atrioventricular. Classificam-se em taquicardia sinusal, extrassístoles supraventriculares e taquicardia supraventriculares (“taquisupra”). As “taquisupra” por sua vez, se dividem em taquicardia atrial, fibrilação atrial, flutter atrial e taquicardia paroxística supraventricular.

“A fibrilação atrial (FA) é uma arritmia muito comum entre os idosos, principalmente dentre os hipertensos e diabéticos e nas pessoas com cardiopatias. Caracteriza-se por um ritmo cardíaco rápido e totalmente irregular”, descreve a cardiologista. O paciente com FA pode apresentar sintomas como palpitações muito irregulares, falta de ar e tonturas ou ser assintomático. O problema, frisa a cardiologista, é que a FA se associa a um maior risco de fenômenos tromboembólicos, que é o desprendimento de coágulos sanguíneos dos átrios para a corrente sanguínea, causando o tão temido acidente tromboembólico cerebral (AVC).

Foto ilustrativa de ECG
Legenda: O eletrocardiograma é um dos exames para diagnosticar a arritmia cardíaca
Foto: Shutterstock

O tratamento da FA perpassa pelo controle dos sintomas, restauração do ritmo sinusal normal e a anticoagulação do paciente, para evitar os episódios tromboembólicos e, consequentemente, o AVC.

As taquiarritmias ventriculares são as que se originam no ventrículo. Surgem com mais frequência entre os pacientes com cardiopatias. Vários são os tipos de taquiarritmias ventriculares: extrassístoles ventriculares, taquicardia ventricular (TV) e fibrilação ventricular. Os sintomas costumam ser palpitações, tonturas e síncope. “São arritmias que necessitam de tratamento imediato, com medicamentos ou cardioversão (choque), pois se não forem abortadas logo, podem evoluir para algo pior”, avalia a cardiologista.

Além de tentar abortar a TV, é muito importante procurar e tratar as enfermidades cardíacas que podem ser a causa da arritmia, a saber: cardiopatia isquêmica, miocardiopatias, canalopatias, entre outras. “Quando a TV se associa ao risco elevado de morte súbita, como nos pacientes com história de terem sido ressuscitados de parada cardíaca prévia, síncope e com história familiar de morte súbita precoce, pode ser necessário o implante percutâneo de um dispositivo chamado de cardioversordesfibrilador (CDI)”, evidencia a médica.

Sintomas da arritmia cardíaca

As arritmias podem não ser associadas a sintomas e serem descobertas ocasionalmente, alerta a cardiologista, entretanto há as que surgem com sintomas como:

  • Palpitações;
  • Falta de ar;
  • Desmaios;
  • Queda da pressão arterial;
  • Sensação de nó na garganta;
  • Tontura;
  • Sensação de fraqueza;
  • Cansaço fácil;
  • Dor no peito

“Quando os sintomas instabilizam o quadro do paciente, deve ser considerada uma emergência cardíaca e a pessoa encaminhada para um serviço de emergência. Nesse caso, há o risco do paciente evoluir para uma situação mais crítica”, acrescenta a médica.

Quando se preocupar com as palpitações?

Nem toda palpitação é arritmia, destaca Ana Lúcia Ramos. “O paciente, quando apresentar palpitações, deve procurar um especialista, para saber se ela tem relação ou não com arritmia cardíaca e, caso sim, se deve ser tratada. Somente após uma anamnese detalhada, exame físico e alguns outros exames, o cardiologista poderá esclarecer se a palpitação deverá ser tratada ou não e se é de risco elevado”, adiciona a médica.

Como tratar arritmia cardíaca?

A arritmia pode ser tratada com medicamentos específicos, implante de marcapasso, implante de cardioversor desfibrilador ou por procedimentos invasivos como a ablação (o mesmo que “queimar”) do sítio da arritmia, detalha a cardiologista. Além disso, pode ser preciso tratar distúrbios da tireoide, eliminar o tabagismo, o uso exagerado do álcool, a apneia do sono, entre outros fatores relacionados.

O que piora arritmia cardíaca?

Em alguns pacientes a arritmia pode ser piorada pelo abuso do álcool, diabetes e hipertensão descontrolados, infecções, estresse, uso de termogênicos em doses elevadas como a cafeína, muito usada nos pré-treinos.

A arritmia pode matar?

Existem algumas arritmias que são de origem hereditárias como as canalopatias - doenças hereditárias caracterizadas por alterações nos canais iônicos, levando a um maior risco de arritmias cardíacas (Síndrome de Brugada, Síndrome do QT longo), que podem abrir o quadro com morte súbita, cita a médica. A prevalência na população geral é de uma morte em 3 mil a 5 mil pessoas, frisa.

O diagnóstico pode ser dado com um simples eletrocardiograma. “Ainda, pacientes com história familiar de morte súbita precoce, história pessoal de síncope, história familiar de miocardiopatias herdadas por herança genética (por exemplo: miocardiopatia hipertrófica) podem evoluir pior. Por isso, ao se avaliar um paciente que deseja realizar atividade física, deve-se fazer uma anamnese bem-feita, um eletrocardiograma e, se necessário, outros exames, como um ecocardiograma. Isso pode salvar vidas”, destaca Ana Lúcia Ramos.

Qual exame detecta arritmia cardíaca?

O primeiro exame é o eletrocardiograma (ECG). Apesar de ser um exame simples, ele pode detectar muitas arritmias e suas causas, como no caso das canalopatias. A depender do caso, pode se solicitar um holter de 24h (dispositivo portátil que monitora continuamente a atividade elétrica cardíaca de pacientes), um ecocardiograma e até uma ressonância magnética do coração.

Quem tem arritmia cardíaca pode trabalhar?

Pacientes que não apresentam arritmias cardíacas grave podem trabalhar normalmente. Agora, indivíduos que têm arritmias graves não podem ser piloto de avião, motorista de ônibus, bombeiros, pois podem colocar a vida de outras pessoas em risco, ressalta a médica.

*Ana Lúcia de Sá Leitão Ramos é médica cardiologista, formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Fez residência de Clínica Médica no Hospital Geral de Fortaleza e de Cardiologia no Hospital do Coração Dr Carlos Alberto Studart. É especialista em cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Fez mestrado em Saúde Pública pela Escola de Saúde Pública do Rio de Janeiro. Atua como cardiologista em seu consultório em Fortaleza, no bairro Dionísio Torres.

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