Saco de Douglas: o que é e onde fica região afetada por ruptura causadora da morte de jovem

Ruptura na região pode ocasionar choque hipovolêmico, parada cardíaca e morte

Escrito por Flávia Marques , flavia.marques@svm.com.br
Livia Gabriele da Silva Matos
Legenda: Livia Gabriele da Silva Matos teve uma ruptura no saco de Douglas
Foto: Reprodução/Facebook - Shutterstock

O saco de Douglas é uma parte do corpo humano localizada na parte baixa do abdômen. A região é citada no atestado de óbito de Livia Gabriele da Silva Matos, de 19 anos, que morreu na terça-feira (31) depois de um encontro com o jogador Dimas Cândido de Oliveira Filho, do sub-20 do Corinthians.

O documento relata que a jovem teve uma "rutura de fundo de saco de Douglas com extensão à parede vaginal esquerda". O atestado foi emitido à meia-noite de quarta-feira (31) pelo Hospital Municipal do Tatuapé.

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Saco de Douglas

O fundo de saco de Douglas é o recesso mais baixo da cavidade abdominal, quando o ser humano está em posição ortostática, ou seja, em pé, segundo explica o médico ginecologista Alexandre Silva e Silva.

"Ele é um espaço da pelve que não tem uma função específica, mas por se tratar da região mais baixa do abdômen, e por estarmos a maior parte do tempo em pé, a força da gravidade pode levar líquido, quando estiver presente, sangue (principalmente no período menstrual da mulher) a se acumular nessa região", explica o médico.

Nas mulheres, a região fica entre o reto e a vagina. Já nos homens, entre a bexiga e o reto. Através do acúmulo de líquido no local, é possível identificar casos de infecção abdominal e lesões de endometriose.

Ruptura no saco de Douglas

De acordo com o ginecologista, a ruptura no local ocorre normalmente através do fundo da vagina, podendo ser ocasionada por traumatismo em uma relação sexual mais intensa ou através da introdução vaginal de objetos contundentes que são mais extensos que a vagina.

"Em alguns casos de pacientes que passaram por procedimento cirúrgico para remoção de lesões de endometriose na região, por exemplo, isso pode ter alterado a espessura e resistência do fundo da vagina, não detectado ao término do procedimento. Nesses casos pode haver ruptura após retorno à atividade sexual. Quando detectada a fragilidade da parede vaginal ao término da cirurgia, uma sutura de reforço pode ser realizada para evitar o problema", relata.

Pacientes em tratamento de câncer que passaram por radioterapia na região também podem apresentar ruptura do fundo vaginal devido às alterações teciduais.

Sintomas e tratamento

Alexandre aponta dois sintomas que podem ser desencadeados pela ruptura no saco de Douglas: 

  • Dor abdominal intensa;
  • Sangramento vaginal.

"A vagina é uma região extremamente vascularizada e a sua ruptura causa a abertura de artérias que causam hemorragia. Se a hemorragia for muito intensa e não for contida em tempo hábil, a mulher pode evoluir para choque hipovolêmico, parada cardíaca e morte. A exteriorização de alças intestinais também pode ocorrer nos casos em que a lesão é muito extensa", aponta.

O médico recomenda pessoas que apresentarem os sintomas a procurarem um serviço de pronto atendimento ginecológico. Geralmente, o reparo é feito por via vaginal, mas o ginecologista indica outra opção.

"Na minha opinião, é necessária uma avaliação laparoscópica da cavidade abdominal para melhor identificação da extensão da lesão e até mesmo para sutura. A via vaginal não permite uma visão muito detalhada da parte interna da lesão (intra-abdominal), podendo deixar passar algum sangramento intra abdominal não identificado por essa via", explica.

Caso Livia Gabriele

A estudante de enfermagem Livia Gabriele da Silva Matos, de 19 anos, morreu após um encontro com o jogador Dimas Cândido de Oliveira Filho, de 18 anos.

Segundo o rapaz, o encontro teria acontecido no apartamento dele, no bairro Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo. No local, os dois tiveram relações sexuais, porém, a jovem passou mal e desmaiou na sequência. Ao perceber que a jovem estava desacordada, o jogador ligou para o Samu.

Conforme informações da Polícia Militar de São Paulo (PM-SP), Livia foi levada ao pronto-socorro, mas faleceu no hospital, após apresentar sangramento nas partes íntimas e ter sofrido quatro paradas cardiorrespiratórias, sendo: uma no apartamento do atleta, uma na ambulância e outras duas já no Hospital Municipal de Tatuapé.

O caso foi registrado como morte súbitasem causa determinante aparente. Em nota, o Sport Club Corinthians Paulista diz que “está ciente dos acontecimentos que envolveram um de seus atletas da base, aguarda a investigação dos fatos e está à disposição para colaborar com as autoridades e as famílias”.

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