Uma semana depois: o que se sabe sobre cearenses alvos de megaoperação no RJ
Segundo a Polícia, cearenses estavam no Rio de Janeiro sob proteção da facção carioca Comando Vermelho.
A megaoperação policial no Rio de Janeiro, contra a facção Comando Vermelho (CV), que terminou com o saldo trágico de 121 mortos, completa uma semana nesta terça-feira (4). Entre os alvos, estavam cearenses. Apesar do tempo que passou, dúvidas sobre a ação mais letal da polícia brasileira seguem sem respostas.
O Governo do Rio de Janeiro divulgou uma lista com 115 suspeitos mortos, com quatro cearenses, além de amazonenses, paraenses, paraibanos, baianos, capixabas, goianos, paulista e, na maioria, cariocas. Dois mortos não foram identificados, e as outras quatro vítimas foram policiais cariocas. Além dos mortos, as autoridades divulgaram que 113 pessoas foram presas, mas não detalhou quem são.
Confira quem são os cearenses mortos:
- Francisco Nataniel Alves Gonçalves, de 48 anos;
- Francisco Teixeira Parente, conhecido como 'Mongol', 30;
- Josigledson de Freitas Silva, o 'Gleissim' ou 'Traquino', 34;
- Luan Carlos Marcolino de Alcânta, o 'Tubarão', 24.
A lista oficial contradiz a informação inicial recebida por autoridades cearenses que Leilson Sousa da Silva, o 'Lelê', 30, estava entre os mortos.
'Lelê' é conhecido como o número 2 do CV no Grande Pirambu, em Fortaleza. Ele responde a processos criminais por tráfico de drogas e por roubo, na Justiça do Ceará. Em 2020, foi preso pela Polícia Civil do Ceará (PCCE) na festa de aniversário dele, junto de 15 convidados.
Um homem morto, que teve imagens compartilhadas pelas redes sociais, foi apontado como o cearense. Entretanto, a informação não se confirmou. O corpo de 'Lelê' não foi encontrado.
Uma fonte da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) disse à reportagem que também recebeu informações sobre a morte de 'Lelê' e que pessoas próximas ao criminoso cearense declararam luto pelas redes sociais.
"Postaram até mensagens de adeus. Houve um momento que indivíduos do CV se manifestaram para que esses familiares parassem de postar mensagens ligadas aos desaparecidos. Ficou no 'limbo'. Ninguém viu nada, nem corpo", afirmou a fonte, sobre o desencontro de informações.
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Cadê o 'Skidum'?
'Lelê' também é conhecido como "o gerente do Skidum", apelido de Carlos Mateus da Silva Alencar, o número 1 do CV no Grande Pirambu e um dos nomes da Lista de Mais Procurados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará.
A reportagem apurou que 'Skidum' estava na região onde aconteceu a megaoperação policial, no Rio, mas não foi localizado. Especulou-se a sua morte, mas as últimas informações apontam que ele está vivo.
Duas fontes ligadas ao combate do crime organizado no Ceará, ouvidas pela reportagem, têm informações diferentes. Uma delas afirma que 'Skidum' está sem contato e pode ainda estar escondido na região de mata, em volta do Complexo da Penha, onde aconteceu o confronto violento entre suspeitos e policiais, que deixou dezenas de mortos.
A outra fonte recebeu a informação que 'Skidum' está vivo e já teria se comunicado com pessoas que estão no Ceará.
A SSPDS descreve 'Skidum', no site de Mais Procurados, como "chefe de organização criminosa com atuação no bairro Pirambu, em Fortaleza. Responde a homicídios, tráfico de drogas e por integrar organização criminosa".
ações penais tramitam na Justiça do Ceará com o nome de Carlos Mateus como réu. Destas, 12 são por homicídios, e uma delas ia a julgamento nesta quarta-feira (29). Segundo a polícia cearense, ele ordenava homicídios na Região do Pirambu, mesmo estando no Rio de Janeiro.
'Skidum' tem mandados de prisão em aberto no Ceará, motivo pelo qual fugiu do Estado e procurou proteção no Rio de Janeiro - berço do Comando Vermelho. Ele esteve escondido no Complexo da Maré, mas teria se deslocado para a região onde aconteceu a megaoperação policial.
A reportagem apurou que, no Rio, o criminoso cearense tinha a proteção de Edgar Alves de Andrade, o 'Doca', um dos maiores líderes do CV e o principal alvo da megaoperação - que conseguiu fugir da ação policial e segue foragido.
Dezenas de criminosos cearenses ligados ao Comando Vermelho fugiram para o Rio de Janeiro, nos últimos anos, em busca de proteção. De lá, comandavam o tráfico de drogas no Ceará e ordenavam homicídios.
Uma operação na Rocinha, em abril deste ano, realizada pela Polícia Militar do Rio de Janeiro e pelos Ministérios Públicos do Ceará e do Rio, tentou prender 29 cearenses. Porém, apenas dois foram capturados.
Francisco Nataniel Alves Gonçalves
O nome de um cearense morto na megaoperação não estava no radar das autoridades cearenses. Francisco Nataniel Alves Gonçalves não responde a processos criminais públicos, na Justiça do Ceará, conforme consulta ao sistema do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).
Segundo a lista divulgada pelo Governo do Rio de Janeiro, Francisco Nataniel nasceu em São Benedito, no Interior do Ceará, em agosto de 1977.
O cearense era procurado pela Polícia do Rio de Janeiro. O documento pontua que ele tinha "7 anotações criminais" e "4 procedimentos policiais figurando como autor", além de "mandado de prisão ativo". Em um dos processos, ele foi condenado a 14 anos e dois meses pelos crimes de crime de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, associação ao tráfico e tráfico de drogas.
Francisco Teixeira Parente
'Mongol', como era conhecido, nasceu em janeiro de 1995. Ele também era apontado como um membro da facção carioca Comando Vermelho, com atuação no Grande Pirambu, em Fortaleza.
Conforme a lista do Governo do Rio de Janeiro, Francisco Teixeira respondia a um processo por organização criminosa em Fortaleza e tinha três mandados de prisão ativos (inclusive por condenação transitada em julgado).
Na Justiça do Ceará, 'Mongol' respondia processos por homicídio, estelionato, furto e corrupção ativa.
Ele era um dos acusados de matar o soldado da Polícia Militar do Ceará (PMCE) Heverton Gonçalves da Silva, aos 27 anos, no bairro Pirambu, no dia 6 de setembro de 2022.
Conforme a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE), o PM teria ido à residência de um morador, no Pirambu, para tirar satisfação sobre um suposto assalto, o que revoltou a facção e motivou o assassinato.
A morte do PM foi comemorada com fogos de artifício e com um vídeo que mostrava o cadáver, compartilhado nas redes sociais. A vítima teria se identificado como policial militar, mas os criminosos não teriam acreditado, pois pensavam que ele era integrante de uma facção rival, segundo o MPCE.
Josigledson de Freitas Silva
'Gleissim' ou 'Traquino', nascido em junho de 1991, em Fortaleza, era apontado como um membro do CV com atuação no bairro Carlito Pamplona, em Fortaleza.
O Governo do Rio de Janeiro elencou que 'Traquino' possuía procedimentos policiais, no Ceará, por tráfico de drogas, associação para o tráfico, porte ilegal de arma de fogo e por integrar organização criminosa, além de estar com um mandado de prisão em aberto.
Luan Carlos Marcolino de Alcânta
'Tubarão', nascido em janeiro de 2001, em Fortaleza, era apontado como uma liderança da facção carioca Comando Vermelho no Carlito Pamplona. A sua morte causou grande comoção na região e homenagens de uma torcida organizada de um time de futebol.
Segundo o documento do Governo do Rio, o cearense possuía "4 anotações criminais e 3 mandados de prisão pendentes".
Ele foi um dos acusados pelo assassinato do policial militar Bruno Lopes Marques, no Pirambu, em Fortaleza, no dia 12 de fevereiro do ano passado. 'Skidum' também responde pelo crime.
O policial tinha 27 anos e estava de folga em um bar, jogando baralho, quando foi assassinado.
Luan também respondia pelo crime de tráfico de drogas, devido a uma ocorrência registrada em 5 de março de 2021, na mesma região em que o PM foi morto.
E os suspeitos presos?
Pelo menos 113 suspeitos foram presos, na megaoperação da Polícia do Rio de Janeiro, nos complexos do Alemão e da Penha, há uma semana. Autoridades cariocas afirmaram que, entre eles, há cearenses.
Entretanto, a reportagem procurou o Governo do Rio de Janeiro, via assessoria de comunicação, para detalhar quantos cearenses foram presos e quem são eles, e não recebeu resposta, até a publicação desta matéria.
Investigadores cearenses ouvidos pela reportagem também disseram que estão sem respostas.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará foi procurada e questionada sobre os cearenses mortos e possíveis presos, mas também não emitiu resposta, até a publicação desta matéria.