Chacina da Sapiranga: mandantes planejaram novas mortes 24h após crime; 22 suspeitos são indiciados
Documentos da Polícia Civil obtidos pela reportagem mostram a continuação do plano do grupo criminoso; leia trechos da conversa
Suspeitos de matarem cinco pessoas e ferirem outras seis, na Chacina da Sapiranga, no último dia 25 de dezembro, começaram a planejar as mortes de mais desafetos no dia seguinte ao cime. É o que aponta a investigação da Polícia Civil do Ceará (PCCE), que culminou no indiciamento de 22 pessoas por participação nos crimes.
Documentos do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), obtidos pelo Diário do Nordeste, mostram a conversa entre três homens que teriam ordenado a Chacina da Sapiranga e um comparsa, realizada através de um grupo de um aplicativo de rede social, no dia 26 de dezembro, por volta de 16h30.
Participam da conversa os mandantes da matança, Francisco Wellington Bezerra da Silva Filho (o 'Etim' ou 'Bombado'), Raí César da Silva Araújo (o 'Jogador'), e João Ricardo Sousa da Silva (o 'Das Facas'), além de Thiago Farias de Lima (o 'TH'). Três deles já foram presos e apenas 'Bombado' segue foragido.
"Deixa só passa o tempo do fragante (flagrante) que nois ataca", afirma 'Bombado'. "Quando eles entra aqui dentro e vapo neles", concorda 'Das Facas'. "Pronto, então que bom, todo mundo concorda, graças a Deus, ninguém discordou, vamos pra cima do problema, deixa só desembasar mesmo", conclui 'Bombado'.
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Confira trechos conversa:
Polícia Civil indicia suspeitos por matança
Os documentos da 7ª Delegacia do DHPP, obtidos pela reportagem, também revelam que 22 suspeitos foram indiciados, na última segunda-feira (3), por participação na Chacina da Sapiranga. Eles vão responder pelos crimes de homicídio qualificado, tentativa de homicídio, corrupção de menores, tráfico de drogas e organização criminosa - conforme a participação individual. Dentre os indiciados, pelo menos nove estão presos.
Confira a lista dos indiciados:
- João Ricardo Sousa da Silva, o 'Das Facas' (preso);
- Raí Cesar Silva Araújo, o 'Jogador' (preso);
- Francisco Wellington Bezerra da Silva, o 'Bombado';
- André Soares Júnior, o 'Loirinho';
- Eduardo José do Nascimento, o 'Carioca';
- João Victor Aguiar de Sousa, o 'Tito';
- Tiago Pereira Mendes, o 'Cara de Pizza';
- Gabriel Sousa Freitas, o 'Biel' (preso);
- Charles Dantas Oliveira (preso);
- Israel Silva Ferreira;
- Jeandson Nunes Bento dos Santos, o 'Toing';
- Vinicius Rian Inácio da Silva, o 'VN';
- Thiago Farias de Lima, o 'TH' (preso);
- Alessandro Vieira da Silva, o 'Rato' (preso);
- Mateus Acelino da Silva, o 'Malagueta' (preso);
- Kevem Tyago Costa Pompeu, o 'Maluquinho';
- José Ivan Alves da Silva Filho, o 'Filho';
- Mateus Aguiar de Sousa (preso);
- Kaique de Sousa Domingos, o 'Neguinho';
- Yuri Marques Bento, o 'Berre';
- Miguel Sousa da Silva, o 'Miguelzinho';
- Antônio Gabriel Sousa da Silva (preso).
O DHPP enviou cópia do Inquérito Policial para a Delegacia das Crianças e dos Adolescentes (DCA), que é a responsável por apurar a conduta de seis adolescentes que também teriam participado da Chacina. Pelo menos cinco deles já foram apreendidos pela Polícia.
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De acordo com as investigações da Polícia Civil que culminaram no indiciamento, a Chacina ocorreu em dois pontos do bairro Sapiranga, em Fortaleza. No Campo do Alecrim, foram mortos André Alexandre Rodrigues, Israel da Silva Andrade e Jhon Lenon Holanda. E na área conhecida como Fronteira, foram assassinados Mateus Ribeiro dos Santos e Ederlan Fausto.
A motivação da matança foi a disputa entre facções criminosas por território para o tráfico de drogas. As vítimas seriam pertencentes à uma facção de origem carioca, sendo Israel da Silva, o 'Rael', uma das principais lideranças na região. Já os suspeitos de cometerem os homicídios são de um grupo criminoso dissidente da facção carioca, que pretende tomar o domínio da região.
Fuzil foi apreendido em matagal
Durante as investigações do caso, as Forças de Segurança já apreenderam um fuzil calibre 556, seis pistolas (calibres 380, Ponto 40 e 9 milímetros), dois equipamentos que transformam pistolas em rifles, mais de 100 munições de calibres variados, cerca de R$ 800 em espécie, uma pequena quantidade de cocaína e aparelhos celulares.
O fuzil - única arma de grosso calibre apreendida até o momento - foi localizado junto de 27 munições, envoltos em um saco de cebola, dentro de um matagal, no bairro Parque Manibura, na Capital. Denúncia anônima que dava conta de que a arma foi utilizada na Chacina levou a Polícia até o armamento.