Por que as duas vagas do Senado em 2026 se tornaram o principal alvo de disputa em ano pré-eleitoral
O PontoPoder ouviu analistas políticos sobre o peso da disputa para o Senado Federal em 2026
.jpg?f=16x9&h=574&w=1020&$p$f$h$w=707fcd1)
A pouco mais de um ano e meio para as próximas eleições, as movimentações políticas no Ceará já antecipam o acirramento entre situação e oposição no Estado. Os oposicionistas tentam, inicialmente, unificar suas alas em torno de uma chapa. Por outro lado, a base governista avança e já cogita nomes que podem representar o grupo em 2026. Nesse cenário, a escolha dos postulantes ao Senado Federal — onde o Ceará terá duas vagas a serem disputadas no próximo ano — tem ganhado destaque pela alta concorrência. Só entre os governistas, há três vezes mais nomes cotados que vagas disponíveis.
O PontoPoder conversou com analistas políticos para mostrar o que faz a disputa pelo Senado ganhar protagonismo no Estado. Os pesquisadores apontaram também o peso nacional dessas vagas para o próximo presidente do Brasil diante de uma nova composição do Congresso Nacional.
Veja também
O que está em jogo
Das 81 cadeiras do Senado Federal, 54 estarão em disputa no próximo ano — duas em cada estado —, o equivalente a dois terços da Casa. Os eleitos terão mandato previsto até 2034. Para Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), o mandato de oito anos é um dos fatores que fazem do cargo de senador um dos mais cobiçados na política.
“Assim como as disputas para o Governo, as disputas para o Senado ocorrem pelo sistema majoritário, o que significa uma quantidade menor de vagas e uma visibilidade maior dos competidores. Do ponto de vista de campanha eleitoral, o candidato tem um maior capital político que pode ser acumulado, tem maior aporte de recursos, tem maior visibilidade de candidatura e tem maior relação com o candidato majoritário ao Executivo”, disse.
No caso das disputas para o Senado e o Governo do Ceará, historicamente, os grupos políticos lançam campanhas “casadas”, em que o candidato ao Executivo incentiva o voto nos postulantes ao Senado. “Para um político que vive da imagem que projeta e dos espaços que ocupa, uma campanha a um cargo majoritário dá muita visibilidade e credita o competidor a ocupar outros cargos. Às vezes, mesmo não sendo o vencedor para o Senado, se o candidato demonstrar força e resiliência durante a campanha, ele pode galgar postos maiores”, apontou Torres.
Além da visibilidade e dos mandatos mais longos, a professora de graduação e pós-graduação em Direito da Unifor e doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mariana Dionísio de Andrade, aponta o volume de recursos a que os senadores têm acesso.
“Vagas no Senado Federal são cobiçadas por várias razões, mas duas são preponderantes: influência política a longo prazo, uma vez que o mandato de 8 anos garante considerável estabilidade política, e acesso a emendas parlamentares significativas, o que fortalece as bases eleitorais. Ser senador ajuda a mediar interesses junto ao Governo Federal, o que é particularmente importante em um Estado com demandas de infraestrutura e desenvolvimento econômico, como no caso do Ceará”, afirmou.
Base e oposição de olho no Senado
Conforme mostrou o PontoPoder, ao todo, integrantes do grupo de aliados do governador Elmano de Freitas (PT) apontam pelo menos seis nomes cotados para disputar o Senado. Além de Cid Gomes (PSB), que atualmente ocupa o cargo, a lista inclui ainda os deputados federais José Guimarães (PT), Eunício Oliveira (MDB) e Júnior Mano (PSB), o ex-senador Chiquinho Feitosa (Republicanos) e o ex-vice-governador Domingos Filhos (PSD).

Cid Gomes já disse reiteradas vezes que não pretende disputar a reeleição, contudo seu nome ainda aparece no horizonte de possibilidades do grupo governista. No último dia 7 de fevereiro, durante evento do PSB, o político defendeu a candidatura Júnior Mano para o cargo. Pouco mais de uma semana depois, em 15 de fevereiro, o ministro Camilo Santana (PT), que lidera o grupo governista, defendeu o nome de José Guimarães. No mesmo dia, o ministro apareceu em fotos com Eunício Oliveira e Chiquinho Feitosa.
Guimarães e Eunício admitem publicamente o desejo de disputar uma cadeira no Senado e afirmam que o apoio de Camilo pode ser crucial na definição das chapas. Domingos Filho, por outro lado, tem evitado falar sobre o assunto.

Já na oposição, o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) e o ex-deputado federal Capitão Wagner (União) têm promovido encontros com parlamentares estaduais e federais para tentar unificar as diferentes alas oposicionistas. Ex-adversários, eles se aproximaram no segundo turno das eleições municipais de 2024, quando apoiaram o então candidato André Fernandes (PL).
O deputado do PL, no entanto, tem sido um desafio nesse plano de unificação. No último dia 18 de fevereiro, em entrevista ao colunista e editor do PontoPoder, Wagner Mendes, o parlamentar demonstrou pouca disposição em flexibilizar o espaço do PL. O político defendeu que seu partido lidere uma chapa para o Governo do Ceará e para o Senado Federal.
Roberto Cláudio e Capitão Wagner reagiram de forma cautelosa a essa posição. A dupla reafirmou a intenção de lançar dois candidatos da oposição ao Senado, mas defendeu que primeiro haja um movimento de unificação em paralelo ao de uma atuação oposicionista forte nos próximos dois anos.
“Uma vaga no Senado não só fortalece a influência em Brasília, mas também redistribui o poder localmente. Essa nova aliança que se formou entre PL, União Brasil e a ala mais conservadora do PDT reforça a mudança dos padrões de comportamento partidário no Ceará e evidencia a perda de fôlego da hegemonia de Ciro Gomes. Para essa composição, que há pouco tempo era improvável, ter uma vitória no Senado significaria a consolidação do grupo e um ganho considerável de visibilidade, o que tende a abrir portas para candidaturas ao Governo do Estado e à Presidência da República”
Monalisa Torres acrescentou que o cerne dessa ocupação de espaços pela oposição está no acesso a recursos da máquina pública. “Quanto mais distante disso a oposição fica, mais difícil é de se manter na oposição. Veja a própria história do Ceará, onde alguns partidos e políticos que ficaram muito tempo na oposição foram perdendo espaço e aliados. Esses recursos são imprescindíveis para atender as demandas das bases eleitorais e mantê-las”, afirmou.
Peso nacional
Além do Ceará, a disputa por espaço no Senado tem mobilizado liderança de outros estados. A Casa promete ser um dos principais campos de batalha entre aliados do presidente Lula (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Atualmente, o PL reúne a segunda maior quantidade de senadores em exercício, totalizando 14 nomes, já o PT soma nove senadores. Dessas vagas, 12 serão disputadas em 2026. O resultado das urnas pode consolidar o avanço de uma sigla sobre a outra.
Monalisa Torres reforçou que oposições fortes no Senado têm mais espaços de comunicação com a população, além de críticas com mais repercussão no País.
“Qualquer projeto de lei que precise ser aprovado no Brasil tem que ser aprovado pela Câmara e pelo Senado, então, quando você tem maioria na oposição em algumas dessas Casas, você tem uma trincheira de embate com o Governo (...) E estamos vendo um cenário em que o atual presidente Lula tem muita dificuldade com isso, com alguns dados ruins na economia, deslizes na comunicação, sem falar que a relação entre o Congresso e o Executivo mudou, dada a questão das emendas”
Mariana Dionísio acrescentou ainda que, com o papel de cada vez mais protagonismo dos legisladores sobre o Orçamento, o resultado eleitoral para os parlamentos torna-se mais relevante.
“Vamos tomar como exemplo o que se tem visto nos discursos de Davi Alcolumbre e Hugo Motta. Ambos apostam na hipertrofia do Legislativo e colocam o Executivo como um Poder que se pode moldar, deformando a ideia de presidencialismo de coalizão. Essa compreensão esquisita dos limites das Casas Legislativas torna as eleições para o Senado algo ainda mais preocupante, principalmente porque os assuntos escolhidos como pautas podem prejudicar votações importantes e desestabilizar o governo federal”, afirmou.

“Em uma bancada majoritariamente composta por bolsonaristas, é de se esperar que as pautas prioritárias sejam voltadas à anistia, impeachment de membros do STF e valorização de costumes, o que não necessariamente reflete as principais demandas do povo brasileiro, mas há um elemento ainda mais relevante: como segunda maior força do Senado, o bolsonarismo influencia diretamente as negociações e alianças, podendo dificultar a governabilidade e, dependendo das pautas, pode obstruir votações, pressionar o governo e influenciar comissões estratégicas”, concluiu.
Nos bastidores, lideranças do PT admitem a possibilidade de recuar de candidaturas próprias em alguns estados para apoiar nomes do centrão. A medida seria uma tentativa de barrar o avanço bolsonarista no Senado Federal. Por outro lado, caso o PT não consiga se manter na Presidência da República, o partido faria da Casa um reduto oposicionista.