Como a declaração de André Fernandes por um PL independente em 2026 repercute nos planos da oposição

Roberto Cláudio e Capitão Wagner fazem movimentos de unificação da oposição, mas André Fernandes sinalizou que não pretende abrir mão de ter correligionários como cabeça de chapa em 2026

Escrito por
Igor Cavalcante igor.cavalcante@svm.com.br
Capitão Wagner, Roberto Cláudio e André Fernandes lideram as articulações do União Brasil, do PDT e do PL para 2026 no Ceará
Legenda: Capitão Wagner, Roberto Cláudio e André Fernandes lideram as articulações do União Brasil, do PDT e do PL para 2026 no Ceará
Foto: Ismael Soares

Enquanto na base governista cearense os nomes cotados para disputar as eleições em 2026 se proliferam, na oposição, a ordem é evitar qualquer antecipação eleitoral. A estratégia, no entanto, tem gerado desencontros. Logo depois de uma tentativa promovida pelo ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) e pelo ex-deputado federal Capitão Wagner (União) de unificar os grupos oposicionistas, o deputado federal André Fernandes (PL) demonstrou pouca disposição em flexibilizar o espaço do PL. O político defendeu que seu partido lidere uma chapa para o Governo do Ceará e para o Senado Federal.

Com a base governista acumulando vitórias nos últimos pleitos e consolidando o alinhamento entre a Capital cearense, o Governo do Estado e a Presidência, a oposição terá no pleito do próximo ano a possibilidade de frear esse avanço da esquerda. Até o momento, a unanimidade que existe entre os representantes do PDT, do PL e do União Brasil no Ceará é em relação à cautela na antecipação de nomes que poderão representar as siglas.

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No último dia 12 de fevereiro, Capitão Wagner e Roberto Cláudio estiveram na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) para conversar com deputados correligionários e traçar estratégias de atuação na Casa. Um segundo encontro chegou a ser marcado, mas os dois dirigentes partidários não compareceram por incompatibilidade de agenda. Os dois são os maiores defensores da aproximação entre todas as alas da oposição no Estado. 

No entanto, esse plano acabou ameaçado por uma declaração dada por André Fernandes, na última terça-feira (18), em entrevista ao colunista e editor do PontoPoder, Wagner Mendes. O parlamentar disse que, se depender dele, seu partido terá candidatura própria para  os cargos de governador e senador. "PL lança candidatura própria para governo e para senado. Pelo tamanho do partido, pelo resultado de 2024 e pela conjuntura atual, o PL não abrirá mão disso", disse o deputado.

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Legenda: Capitão Wagner e Roberto Cláudio visitaram deputados de oposição na Alece
Foto: Divulgação

A força do PL

Nas últimas eleições municipais, o político se mostrou competitivo em disputas majoritárias. Em mais de duas décadas, nenhum nome da direita no Ceará ameaçou as chapas da esquerda como Fernandes no último pleito municipal, em 2024. A distância entre ele e o atual prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT), foi de 10.838 votos.

No entanto, pelas regras eleitorais atuais, nas próximas eleições, André não terá a idade mínima exigida para disputar o Governo do Ceará e o Senado Federal. Outros nomes da sigla, como a ex-deputada Mayra Pinheiro (PL) e a vereadora mais votada de Fortaleza no ano passado, Priscilla Costa (PL), poderiam disputar e são cotadas nos bastidores. O próprio pai de Fernandes, o deputado estadual Pastor Alcides (PL), também estaria apto.

Na entrevista à coluna, o deputado federal ressaltou que a lista de possibilidades pode ser ampliada, já que novos nomes devem se filiar ao PL.

"Porém, ainda não podemos dar mais detalhes sobre isso, mas o PL será cabeça de chapa"
André Fernandes (PL)
Deputado federal

Até agora, André não compareceu a nenhuma reunião promovida pelos dirigentes do PDT e do União Brasil.

Espaço da direita

Além do Governo do Ceará, os partidos miram nas duas vagas a serem disputadas para o Senado. Atualmente, Cid Gomes (PSB) e Eduardo Girão (Novo) ocupam essas cadeiras. O político do Novo, no entanto, anunciou, ainda na campanha de 2018, que não iria disputar reeleição. Em entrevista ao Diário do Nordeste nesta semana, ele reafirmou a decisão, mas não quis se antecipar aos debates eleitorais.

"Sempre deixei isso muito claro, por princípio, eu sou contra esse instrumento (da reeleição). O mandato no Senado é de oito anos, já é muito tempo, portanto, não sou candidato. Quanto ao Novo, eu não sei, ainda vamos conversar e falar também com outros partidos, será construído ainda"
Eduardo Girão (Novo)
Senador

Mais ativos na defesa da unificação, a ideia de Capitão Wagner e Roberto Cláudio é montar chapas com várias siglas oposicionistas e apresentar candidatos para disputar todos os cargos no Executivo e no Legislativo estadual em 2026. Wagner, inclusive, não descarta uma aliança com o PL, mesmo após as declarações de Fernandes.

"É claro que a oposição vai disputar as duas vagas para o Senado, nós temos nomes extremamente qualificados tanto para o Governo quanto para o Senado. A nossa ideia, e vamos continuar trabalhando nela, é de termos chapa única do lado da oposição. Caso não seja possível, logicamente vamos entender", afirmou ao Diário do Nordeste.

O político evitou citar nomes que poderiam disputar o Senado pelo União Brasil.

"O PL tem nomes qualificados para disputar como senador e como governador, o grupo do Roberto Cláudio tem e nós temos, então, no momento oportuno, iremos discutir esses nomes"
Capitão Wagner (União)
Ex-deputado federal e presidente do União Brasil Ceará

Em 2022, o grupo liderado por Wagner lançou como candidata ao Senado a advogada Kamila Cardoso. À época, ela era filiada ao Avante e obteve 1,2 milhão de votos, o equivalente a 26,22%. A postulante disputou o cargo de vice-prefeita em 2020 na chapa liderada por Wagner. Já em 2024, concorreu a uma cadeira na Câmara Municipal da Capital, ficando como suplente do União Brasil.

“Serão enganados”

Roberto Cláudio tem discurso alinhado ao de Wagner no sentido de que não há discussões sobre nomes até agora. "É hora de fazer uma oposição unida e qualificada. Neste momento, nosso papel é promover essa união em torno de uma crítica qualificada, estamos vendo uma crise na Segurança Pública, na Saúde e na Economia do Ceará, isso precisa ser denunciado. E, em um segundo momento, começar a ouvir as regiões do Estado e seus diferentes pensadores e empresários para propormos uma saída, caminhos e esperança", disse.

Capitão Wagner e Roberto Cláudio se aproximaram durante as últimas eleições para apoiar André Fernandes
Legenda: Capitão Wagner e Roberto Cláudio se aproximaram durante as últimas eleições para apoiar André Fernandes
Foto: Ismael Soares

O político criticou a lista de nomes cotados pelo grupo governista. "Tem quase dois anos para as eleições e eles não estão preocupados com os problemas reais, em buscar recursos e soluções, estão brigando entre si em um projeto do poder pelo poder", disse. 

Ainda sobre o tema, Roberto Cláudio reforçou que a oposição pode ganhar reforços de lideranças "enganadas" pelo grupo governista.

"É cedo para falar, mas certamente alguns serão enganados, não tenho dúvida. A história de alianças do PT no Ceará e a promessa de que vão caber todos em uma chapa só, não dá, algumas dessas pessoas serão enganadas, mas o que vai acontecer em 2026, como cada enganado vai responder, aí não tenho como dizer"
Roberto Cláudio (PDT)
Ex-prefeito e presidente do PDT Fortaleza

Para o ex-prefeito, seja com reforços ou não, a oposição deve disputar o pleito com chapas completas para todos os cargos. "Com candidato a governador, vice-governador, com dois nomes para o Senado e chapa completa de deputados. Mais para frente vamos identificar os nomes, as pessoas que melhor vão representar esse projeto", concluiu.

Para 2026, Roberto Cláudio tenta evitar o desafio que encarou em 2022, quando teve percalços para a montagem da chapa pedetista. Em meio ao fim da aliança com o PT no Estado e o racha interno no partido, o PDT fez uma uma composição com o PSDB/Cidadania, que indicou Amarílio Macêdo (PSDB). 

Contudo, impasses internos entre os tucanos inviabilizaram a candidatura. Os pedetistas chegaram a lançar ainda Enfermeira Ana Paula (então no PDT) para a vaga no Senado, mas ela retirou o nome. Por fim, o grupo liderado por Roberto Cláudio apoiou Érica Amorim (PSD), que ficou em terceiro lugar com 3,9% dos votos válidos.

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